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Estado de Minas PROJETO COMPROVA

Vacina nasal em teste � diferente de rem�dio defendido por Bolsonaro

� enganoso post que usa a hashtag #Bolsonarotemraz�o ao comparar uma reportagem do UOL, de mar�o de 2021, com outra do Fant�stico, de junho de 2022


08/06/2022 19:31

Spray nasal
Spray nasal (foto: Shutterstock)
� enganoso o post que relaciona uma reportagem de 2021 do UOL sobre inefic�cia de spray nasal defendido por Jair Bolsonaro (PL) contra a covid-19 e outra do programa Fant�stico, de junho de 2022, afirmando que, segundo especialistas, uma vacina de spray nasal "� o caminho" para o fim da pandemia. Al�m de ainda n�o ter comprova��o contra o coronav�rus, o medicamento citado pelo presidente n�o era um imunizante.

Conte�do investigado: Post unindo t�tulos de duas reportagens para afirmar, erroneamente, que Bolsonaro estava certo sobre aposta em rem�dio nasal contra o coronav�rus. A primeira chamada, publicada pelo UOL em mar�o de 2021, diz: “Com spray, Bolsonaro insiste em medicamento sem efic�cia contra covid-19”. A segunda, que foi ao ar no programa “Fant�stico”, da Globo, em 5 de junho de 2022, informa: “Vacina de spray nasal � o caminho para o fim da pandemia de covid, apontam especialistas”.

Onde foi publicado: Facebook, Twitter e WhatsApp.

Conclus�o do Comprova: � enganoso post que usa a hashtag #Bolsonarotemraz�o ao comparar uma reportagem do UOL, de mar�o de 2021, com outra do Fant�stico, de junho de 2022. A primeira informa que o spray nasal, aposta do presidente Jair Bolsonaro, n�o tem efic�cia comprovada contra a covid-19. A do programa dominical da Globo afirma que especialistas apontam vacina de spray nasal como “caminho” para o fim da pandemia. A rela��o, por�m, n�o pode ser feita, porque se tratam de medicamentos diferentes.

O que o presidente defendia � um rem�dio em desenvolvimento em Israel para tratar pessoas j� infectadas pelo coronav�rus; j� o citado na reportagem do Fant�stico � um imunizante.

Sobre o spray que trata a doen�a, o EXO-CD24, Nadir Arber, um dos cientistas que participa das pesquisas, disse ao Comprova que ainda n�o h� resultados que comprovem sua efic�cia – exatamente como informa a reportagem do UOL usada no conte�do enganoso.

Enganoso, para o Comprova, � o conte�do retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra altera��es; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpreta��o diferente da inten��o de seu autor; conte�do que confunde, com ou sem a inten��o deliberada de causar dano.

Alcance da publica��o: O Comprova investiga os conte�dos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. O post da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) no Facebook recebeu 2,5 mil coment�rios e foi compartilhado mais de 15 mil vezes at� 8 de junho. Outros pol�ticos divulgaram as mesmas alega��es em seus perfis do Facebook ap�s a postagem da parlamentar. At� a mesma data, a publica��o do senador Fl�vio Bolsonaro (PL-RJ) tinha 3,3 mil compartilhamentos e 966 coment�rios. J� o conte�do propagado pela deputada federal Bia Kicis (PL-DF) teve 3,3 mil compartilhamentos e 496 coment�rios.

O que diz o autor da publica��o: O Comprova entrou em contato com Carla Zambelli, Bia Kicis e Fl�vio Bolsonaro para esclarecer quest�es referentes �s postagens enganosas. Em resposta, Zambelli questionou o trabalho do Comprova, disse que as duas subst�ncias s�o parecidas por serem sprays nasais e afirmou que n�o teceu “qualquer opini�o sobre a efic�cia do imunizante proposto”. Os outros pol�ticos n�o responderam.

Como verificamos: Com a ferramenta TweetDeck, foi poss�vel encontrar as primeiras postagens de Bolsonaro relacionadas ao spray nasal. A equipe tamb�m buscou as reportagens cujos t�tulos s�o citados na pe�a de desinforma��o e outras relacionadas ao spray contra a covid.

A partir de reportagem da Folha de S.Paulo sobre o spray que citava o Clinical Trials, site que re�ne informa��es sobre testes de medicamentos, o Comprova buscou o estudo relacionado ao EXO-CD24 e os nomes dos respons�veis. Via pesquisa no Google, foi poss�vel encontrar seus e-mails e contat�-los. Quem respondeu o contato foi Nadir Arber, professor de medicina e gastroenterologia e diretor do Centro Integrado de Preven��o do C�ncer do Centro M�dico Sourasky – Hospital Ichilov, em Tel Aviv, em Israel.

Tamb�m foram entrevistados Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imuniza��es (SBIm), e a professora Anam�lia Lorenzetti Bocca, coordenadora do Laborat�rio de Imunologia Celular no Instituto de Biologia da Universidade de Bras�lia (UnB).

Primeiras men��es

Bolsonaro come�ou a falar sobre um spray nasal contra a covid-19, de acordo com a Folha, em fevereiro de 2021, ap�s o jornal israelense Times of Israel publicar que o rem�dio EXO-CD24 havia curado 29 dos 30 casos moderados a graves de covid-19.

Em 12 de fevereiro de 2021, em seu Twitter, o presidente afirmava ter conversado com o ent�o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sobre o medicamento, que vinha “obtendo grande sucesso no tratamento” da doen�a em casos graves, como ele escreveu. Tr�s dias depois, ele publicou que “brevemente” enviaria o pedido de an�lise para seu uso emergencial � Anvisa, mostrando interesse em compr�-lo.

Cerca de um m�s depois, de acordo com a reportagem do UOL, cujo t�tulo � usado na pe�a de desinforma��o, Bolsonaro defendeu o rem�dio insistindo em outra aposta sem efic�cia comprovada, a hidroxicloroquina. “Voc� tem um pai, irm�o ou amigo que est� ali: Olha, vai ser intubado. Voc� vai dar um spray no nariz dele ou n�o? Ou vai tratar isso como uma hidroxicloroquina, porque tamb�m n�o tem comprova��o cient�fica?”, questionou em live no Facebook.

Em mar�o de 2021, o governo federal enviou uma comitiva de dez pessoas a Israel para conhecer o spray nasal. A viagem, que custou ao menos R$ 100 mil, segundo a Folha –, n�o resultou em nenhum contrato.

Mas, diferentemente do que o presidente disse e do que o conte�do investigado aqui leva a crer, o EXO-CD24 � um medicamento que estava em teste para ser usado em pessoas infectadas pelo v�rus, n�o um imunizante.

A vacina citada no post enganoso, inclusive, ainda nem est� dispon�vel. Como informa o Fant�stico na reportagem cujo t�tulo � usado no conte�do verificado aqui, “grupos pelo mundo est�o na busca de uma vacina que ataque o v�rus logo de cara, que n�o deixe que ele se multiplique” – o que seria feito via nasal. Ainda de acordo com a atra��o da Globo, desta forma “a pessoa vacinada n�o se contamina, e nem d� tempo de transmitir o v�rus” e o micr�bio finalmente para de circular e a pandemia pode chegar ao fim”.

Rem�dio israelense

O uso original do EXO-CD24 � para tratamento de c�ncer de ov�rio, conforme mat�ria da Folha.

Quando Bolsonaro come�ou a falar sobre o spray, ele estava em fase inicial de testes cl�nicos e n�o tinha dados publicados, ainda de acordo com a Folha. Entre 35 pesquisas em humanos com drogas via nasal que havia na �poca, a do EXO-CD24 era uma das mais incipientes.

Nota t�cnica do Minist�rio da Sa�de de fevereiro de 2021 conclu�a que a droga “aponta para uma melhora cl�nica importante dos pacientes hospitalizados com covid-19 moderada a grave”, mas que “os resultados ainda n�o foram publicados e as informa��es dispon�veis n�o oferecem dados suficientes sobre os desfechos de seguran�a e efic�cia obtidos e as caracter�sticas dos pacientes inclu�dos”.

J� nota da mesma �poca do Observat�rio de Tecnologias Relacionadas ao Covid-19, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, usa trechos da reportagem do jornal Times of Israel para descrever o EXO-CD24. O texto afirma que “o medicamento combate a tempestade de citocinas, que se acredita ser respons�vel por muitas das mortes associadas � doen�a” e que “ele usa exossomos – pequenos sacos transportadores que transportam materiais entre as c�lulas – para entregar uma prote�na chamada CD24 aos pulm�es, que o grupo de estudo (do Centro M�dico Ichilov de Tel Aviv) est� pesquisando h� d�cadas”.

Ainda de acordo com a nota, “essa prote�na ajuda a acalmar o sistema imunol�gico e conter a tempestade” e, por ser administrado localmente no nariz, n�o tem efeitos colaterais, “ao contr�rio de outras f�rmulas, (o spray �) direcionado diretamente para os pulm�es”.

Ao Comprova, o professor Nadir Arber, um dos respons�veis pela pesquisa do EXO-CD24 contra o coronav�rus, contou que ainda n�o h� resultados do teste cl�nico com a metodologia de estudo duplo-cego, quando o volunt�rio n�o sabe se est� tomando rem�dio ou placebo, subst�ncia sem efeito no corpo. “A �ltima fase da pesquisa est� sendo realizada, mas, atualmente, n�o h� pacientes com covid, ent�o, planejamos ter outros dois estudos”, disse ele.

Questionado se o medicamento � eficaz contra a covid, ele respondeu que “parece ser muito eficaz; no entanto, nada pode ser reivindicado at� o compararmos com o placebo.”

Vacinas por via intranasal

Anam�lia Lorenzetti Bocca, professora de Imunologia Celular na UnB, explica que as vacinas contra o coronav�rus podem ser administradas por vias variadas, gerando diferentes respostas imunol�gicas. A forma de aplica��o tamb�m pode mudar, podendo ser formuladas por part�culas em uma solu��o ou uma prepara��o que adere na mucosa do nariz e passa para os outros tecidos do corpo.

A cientista considera que os imunizantes aplicados no nariz s�o importantes para uma resposta mais robusta localmente, com o aumento de anticorpos, assim como as vacinas por via intramuscular, e a gera��o dos linf�citos T e B, que s�o c�lulas de mem�ria imunit�ria.

De acordo com Bocca, a vacina intranasal possui uma resposta mais robusta na mucosa nasal, com produ��o de anticorpos e c�lulas de mem�ria nos linfonodos ao redor da mucosa nasal. J� a vacina intramuscular faz uma resposta mais sist�mica, com produ��o de anticorpos na mucosa nasal, mas em outras mucosas tamb�m, e a gera��o de c�lulas de mem�ria em outros tecidos. Para ela, a utiliza��o de uma ou outra depende do tipo de resposta imune que se pretende para o indiv�duo.

Sobre a vacina produzida pelo Dr. Jorge Kalil, citada na mat�ria do Fant�stico, a especialista afirma se tratar de uma prote��o profil�tica, usada na preven��o da doen�a. “Seria mais uma vacina dispon�vel com a possibilidade de apresentar uma resposta mais robusta na via de entrada do v�rus, o que impediria a sua dissemina��o para outros tecidos”, declara.

“A vacina intranasal de tecnologia nacional n�o tem qualquer rela��o com a EXO-CD24 porque uma induz uma resposta imune protetora e a outra trata um sintoma da doen�a. A atual do Brasil (vacina intranasal) est� pronta para iniciar os ensaios cl�nicos de fase I, aguardando autoriza��o da Anvisa para tal. Ainda n�o tem parceria com ind�strias farmac�uticas para o seu escalonamento. O investimento no Brasil � muito baixo para esta etapa”, esclarece Anam�lia Lorenzetti Bocca.

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imuniza��es (SBIm), fala que o desenvolvimento desse tipo de vacina � muito procurado para combater os v�rus que t�m entrada pelas vias respirat�rias. Para ele, entretanto, � um caminho mais dif�cil j� que o custo financeiro e tecnol�gico � maior, demandando laborat�rios de biosseguran�a maiores.

“At� agora, a gente s� conseguiu a gripe, que n�o existe aqui no Brasil, mas muitos pa�ses t�m a vacina de gripe nasal com v�rus influenza vivo, mas enfraquecido”, diz o imunologista.

O diretor da SBIm n�o acredita que tenhamos essa forma de imunizante em um per�odo de curto prazo. Apesar disso, considera necess�rio criar vacinas mais modernas que sejam mais eficazes na preven��o de formas leves da doen�a e que sejam voltadas para as novas formas do coronav�rus. Segundo relat�rio da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), atualmente existem 361 vacinas em teste contra a covid (163 em est�gio cl�nico e 198 em est�gio n�o-cl�nico). Do total, h� oito imunizantes intranasais sendo desenvolvidos.

Por que investigamos: O Comprova verifica conte�dos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre a pandemia, elei��es e pol�ticas p�blicas do governo federal. Bolsonaro vem desacreditando as vacinas e defendendo medicamentos sem efic�cia comprovada, como o spray nasal, desde o in�cio da pandemia, e conte�dos que fazem o mesmo colocam a sa�de da popula��o em risco.

Outras checagens sobre o tema: A Covid-19 dominou a quarta fase do Projeto Comprova, encerrada em dezembro de 2021. Mais de cem conte�dos foram verificados, sobretudo os relacionados a vacinas e tratamentos sem efic�cia comprovada contra a doen�a. Em junho do ano passado, por exemplo, o Comprova mostrou ser enganoso conte�do que comparava spray nasal patenteado com tratamento precoce. Ainda sobre a covid, a equipe publicou, mais recentemente, ser falso que imunizantes de mRNA s�o terapia gen�tica e causam a doen�a e que era enganoso que estudo feito em Itaja� prova efic�cia de ivermectina.


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