
A complexidade da Amaz�nia Legal n�o est� somente na natureza, mas, ao longo dos anos, se tornou um desafio na seguran�a p�blica para o governo. A geografia da regi�o, com longas dist�ncias, proximidade com fronteiras de pa�ses exportadores mundiais de il�citos, como Col�mbia, Peru e Bol�via, � um atrativo para o narcotr�fico, que se proliferou. Consequentemente, o aumento de mortes violentas intencionais (MVI) cresceu de forma significativa, segundo o estudo Cartografias das Viol�ncias na Regi�o Amaz�nica.
Esse � o cen�rio em que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista ingl�s Dom Philips atuavam quando desapareceram, h� uma semana. Em um recorte entre 2011 e 2020, a taxa de MVI saltou 47,3%, o que significa que a regi�o Amaz�nica tem uma taxa de 30,2 mortes para cada 100 mil habitantes.
O indigenista, que tinha profundo conhecimento da regi�o, tamb�m tinha um hist�rico de amea�as recebidas de invasores. Por meio da Uni�o dos Povos Ind�genas do Vale do Javari, havia feito den�ncias aos �rg�os de investiga��o, como Minist�rio P�blico Federal (MPF) e Pol�cia Federal do Amazonas - ontem mais uma testemunha confirmou as amea�as ao indigenista.
O MPF-AM informou que, na ocasi�o, instaurou um procedimento de apura��o do caso, que corria em sigilo. "Procuradoras da Rep�blica que atuam em Tabatinga estiveram em Atalaia do Norte, no fim de maio, para uma s�rie de reuni�es relacionadas a objetos de atua��o do MPF na regi�o, entre os temas estava a apura��o em quest�o, para levantamento de informa��es que pudessem subsidiar os procedimentos", explicaram, em nota.
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O problema � que, na regi�o, celeridade � uma quest�o de defini��o entre a vida e a morte. Para o coordenador da Comiss�o de Assuntos Ind�genas da Associa��o Brasileira de Antropologia (ABA), Ricardo Verdum, foram decis�es governamentais que levaram a esse quadro. "� mais complexo, � uma cadeia de decis�es das quais participam as decis�es de pol�ticas p�blicas, o que est� sendo incentivado ou o que n�o est� sendo reprimido. Por exemplo, o ouro que sai da Amaz�nia e vai parar na Europa n�o vai voando, tem uma rede que leva, uma rede de organiza��o. Tudo isso vai criando uma trama na regi�o", explicou.
Ex-indigenista da Funda��o Nacional do �ndio (Funai) e especialista em povos ind�genas isolados do Brasil, Sidney Possuelo frisa que o governo federal n�o pode se descuidar da regi�o, porque al�m das facilidades para o tr�fico, h� a cobi�a nas riquezas naturais. "O estado n�o pode de jeito nenhum n�o estar presente, tem contigentes pequenos, mas o estado est� l�. � uma �rea cobi�ada porque � cheia de riquezas naturais, como madeira, talvez ouro nos rios, tem a ca�a, a pesca, tem tudo que os invasores cobi�am. A presen�a do Estado atrav�s de institui��es � fundamental", pontuou.
O especialista explica que o avan�o do narcotr�fico ocorreu quando aconteceram as repress�es das fac��es, especialmente no Rio de Janeiro. Os grupos, como Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), se deslocaram e ramificaram em novas redes de conex�es, inclusive internacionais. "� medida que houve uma fragiliza��o das fronteiras, eles v�o ocupando especialmente regi�es onde � poss�vel gerar dinheiro r�pido de forma il�cita" *
*Estagi�ria sob supervis�o de Carlos Alexandre Souza
Confira o panorama das mortes violentas intecionais (MVI) na Amaz�nia
De 2011 a 2020: aumento de 47,3%
Salto de 20,5 para 30,2 a cada grupo de 100 mil habitantes;
M�dia nacional � de 23,6 mortes para cada 100 mil habitantes;
Munic�pios das zonas rurais s�o os que mais registram MVI;
Crescimento de 13,3% em �reas rurais remotas;
Crescimento de 15,1% em �reas rurais intermedi�rias (entre uma comunidade e remotas);
Mortes ocorridas nos estados da Amaz�nia Legal em 2020: 17;
Mortes ocorridas nos estados da Amaz�nia Legal em 2021: 21;
Aumento de 23% nas mortes em um ano.
V�sceras no rio
O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que a investiga��o sobre o desaparecimneto na Amaz�nia est� "bastante avan�ada". "Sobre os dois desaparecidos, est� bastante avan�ada a investiga��o. Muitos ind�cios que talvez conduzam ao que aconteceu com cidad�os do Reino Unido e do Brasil", disse, em Orlando, ap�s deixar o hotel. Al�m disso, Bolsonaro declarou que espera um "resultado para ontem". "Mas a velocidade quem d� n�o sou eu."
Bolsonaro tamb�m disse que foram encontradas partes de corpo humano em rio na regi�o do Vale do Javari, onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista brit�nico Dom Phillips desapareceram. "Apareceu no rio, boiando, partes de corpo humano, as v�sceras. E j� foi para fazer o (exame de) DNA. A gente espera que n�o seja deles", afirmou.
Ontem, a Comiss�o Interamericana de Direitos Humanos publicou resolu��o decretando medida cautelar contra o Brasil. A corte internacional solicita que o Brasil informe sobre as a��es adotadas nessa busca em sete dias.