
Uma das linhas da apura��o policial aponta que Col�mbia estaria incomodado com as a��es do indigenista Bruno Pereira na regi�o. Foi Bruno o respons�vel pelas apreens�es de peixes que seriam usados no esquema de lavagem de dinheiro. As embarca��es clandestinas levavam toneladas de pirarucus — peixe mais valioso no mercado local e exportado para v�rios pa�ses — e de tracaj�s, esp�cie de tartaruga considerada uma especiaria ex�tica, oferecida em restaurantes no Brasil e no exterior.
Col�mbia, que tem dupla nacionalidade (brasileira e peruana) � suspeito de usar o com�rcio ilegal de animais para lavar o dinheiro da droga produzida no Peru e na Col�mbia — que fazem fronteira com a regi�o do Vale do Javari — e � vendida a fac��es criminosas no Brasil. H� suspeita de que ele teria ordenado a Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, que pusesse a "cabe�a de Bruno a leil�o".
Fontes ouvidas pela reportagem do Correio, que pediram para n�o ser identificadas por medo de repres�lias, afirmam que Col�mbia n�o � o principal mandante. Acima dele haveria um "chefe do esquema" que mora na cidade colombiana de Let�cia, na fronteira com o Brasil, e que tanto o assassinato de Bruno e do jornalista brit�nico Dom Phillips quanto o esquema de tr�fico de pescados amaz�nicos tem a participa��o de outra pessoa, respons�vel pela troca dos animais por drogas e pela revenda a intermedi�rios em Bogot�, capital da Col�mbia.
A pris�o de Col�mbia pode desmontar de vez a primeira vers�o dada pela Pol�cia Federal, em 17 de junho, de que n�o havia ind�cios sobre a participa��o de poss�vel mandante no assassinato de Bruno e Dom. Segundo uma das fontes ouvidas, o homem preso ontem mora em uma balsa na cidade brasileira de Benjamim Constant. A embarca��o seria usada para armazenar pescados e carnes cobi�adas de ca�am — como porco queixada, anta e veado — e combust�vel contrabandeado do Peru para abastecer barcos de pesca no Amazonas.
Antes de Col�mbia, a PF j� havia prendido mais quatro suspeitos de participa��o no assassinato de Bruno e Dom - Amarildo Oliveira, o Pelado; Oseney da Costa Oliveira, o Dos Santos; Jeferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha; e Gabriel Pereira Dantas. Com exce��o de Dos Santos, os demais confessaram participa��o no crime.
Clima de tens�o no Vale do Javari
Ontem, a ju�za Jacinta Silva dos Santos, titular da Comarca de Atalaia do Norte, determinou o envio do processo aberto para apura��o dos assassinatos � Justi�a Federal por se tratar de crime que atinge direitos dos ind�genas. O Minist�rio P�blico corroborou a decis�o judicial.
A Uni�o das Organiza��es Ind�genas do Vale do Javari (Univaja) usou suas redes sociais, ontem, para se pronunciar a respeito da pris�o de Rubens Villar Coelho, o Col�mbia, e apresentou mais detalhes das investiga��es.
"Sabemos que estamos do lado certo da hist�ria. Agora tudo indica que a investiga��o ser� feita em n�vel federal. A pris�o de hoje (ontem) corrobora as provas que a Univaja mencionou em momento anterior e que ficaram � disposi��o da sociedade e das autoridades. N�s falamos que tinha uma pessoa financiando as atividades ilegais na regi�o", disse o procurador da entidade, Eliesio Marubo.
Ele cobrou mais empenho da Pol�cia Federal no caso e alerta que o clima no Vale do Javari continua muito tenso. "Nossa expectativa � que a PF realmente se debruce sobre o inqu�rito e passe a atuar de forma mais profunda. A PF fez uma coletiva de imprensa e disse que esse novo preso pode ser o mandante desse crime. O problema � que, na regi�o, a situa��o continua tensa. Tudo continua como era antes." A Univaja tamb�m denuncia que funcion�rios da Funai e lideran�as ind�genas v�m sendo intimidados por peruanos e colombianos.
"Na sexta-feira (da semana passada), tivemos informa��es de que um peruano e colombianos estiveram na Funai, em Atalaia do Norte, de forma r�spida e sem autoriza��o, para intimidar. Isso refor�a tudo que n�s temos dito sobre a seguran�a. O crime est� t�o � vontade que eles invadem o pr�dio da Funai para intimidar servidores. A inseguran�a ainda permanece na regi�o."
Assassinatos de Dom e Bruno tiveram repercuss�o mundial
Bruno e Dom desapareceram em 5 de junho, quando navegavam pr�ximo � comunidade de S�o Rafael, distrito de Atalaia do Norte. Os restos mortais dos dois foram encontrados 10 dias depois do desaparecimento, quando Amarildo Oliveira confessou o crime e levou agentes policiais e ind�genas que ajudavam nas buscas ao local onde os corpos foram enterrados.
A regi�o da Reserva Ind�gena do Vale do Javari, a segunda maior do pa�s, com mais de 8,5 milh�es de hectares, concentra o maior n�mero de �ndios isolados. Bruno Pereira j� havia denunciado que sofria amea�as. O indigenista atuava como colaborador da Univaja desde que pediu afastamento da Funai, onde trabalhava, por n�o concordar com o afrouxamento da fiscaliza��o federal na regi�o. Dom Phillips era jornalista colaborador do jornal brit�nico The Guardian. Com o apoio da Funda��o Alicia Patterson, Dom estava escrevendo um livro reportagem sobre a Amaz�nia.
Na quinta-feira, o Parlamento Europeu aumentou a press�o sobre o Brasil para que as mortes de Bruno e Dom sejam esclarecidas o quanto antes, com uma investiga��o "r�pida, completa, imparcial e independente".
A resolu��o aprovada pelos eurodeputados mandou um duro recado �s autoridades brasileiras e fez men��o expl�cita � atua��o do presidente Jair Bolsonaro. Segundo o texto, aprovado por 362 votos, o Parlamento Europeu "repudia a deteriora��o dos direitos humanos no Brasil desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder" e indica que o assassinato do indigenista brasileiro e do jornalista brit�nico est� associado � "viol�ncia sistem�tica contra povos ind�genas".