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Estado de Minas VIDAS AMEA�ADAS

Fome e inseguran�a alimentar atingem metade dos lares com crian�as no Norte e Nordeste

Relat�rio divulgado nesta quarta-feira (14/9) mostra que domic�lios com crian�as menores de 10 anos t�m n�veis mais graves de inseguran�a alimentar do que a m�dia nacional; situa��o se agravou desde 2020.


14/09/2022 06:17 - atualizado 14/09/2022 08:24


Mulher de costas com filho de colo abrindo armário com comida
Celia Barros com filho no colo em Santa Luzia (MG); ela ligou para a pol�cia pedindo ajuda para a fam�lia conseguir comer. Percentual de fam�lias com crian�as passando fome no Brasil praticamente dobrou entre 2020 e 2022 (foto: Getty Images/AFP)

Lares onde vivem crian�as menores de 10 anos t�m percentuais maiores de inseguran�a alimentar do que a m�dia brasileira, e nas regi�es Norte e Nordeste, o quadro � particularmente mais grave, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (14/9) no 2º Inqu�rito Nacional sobre Inseguran�a Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (VIGISAN).

No Norte, 51,9% dos domic�lios com ao menos uma crian�a menor de 10 anos t�m n�vel moderado ou grave de inseguran�a alimentar; no Nordeste, este percentual � de 49,4%. A inseguran�a grave � considerada como o mesmo que "fome"; j� a inseguran�a moderada ocorre quando a quantidade e qualidade da alimenta��o s�o insatisfat�rias e h�, por exemplo, quebra na rotina de alimenta��o por conta da falta de alimentos.

Nessas regi�es, os percentuais mais preocupantes de inseguran�a moderada e grave nos lares com crian�as foram registrados no Maranh�o (63,3% dos domic�lios), Amap� (60,1%), Alagoas (59,9%), Sergipe (54,6%), Amazonas (54,4%), Par� (53,4%), Cear� (51,6%) e Roraima (49,3%).

Outras regi�es tiveram percentuais mais baixos nesses n�veis de inseguran�a alimentar — 37,3% no Centro-Oeste, 32,6% no Sudeste e 25% no Sul — mas, mesmo assim, a situa��o � considerada preocupante em v�rios de seus Estados.

"� um cen�rio esperado encontrar as formas mais severas de inseguran�a alimentar em fam�lias que t�m pelo menos um menor de idade. � muito comum isso, n�o s� no Brasil, mas em pesquisas internacionais", afirma Rosana Salles, professora do Instituto de Nutri��o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Seguran�a Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).

Outros dados do relat�rio refor�am que o Norte e Nordeste "t�m uma gravidade maior no acesso � alimenta��o", nas palavras de Salles. Ela destaca que processos hist�ricos explicam um menor desenvolvimento econ�mico — e, em consequ�ncia, piores indicadores sociais — nesses locais, embora haja varia��es internas importantes de Estado para Estado.

Mas, nacionalmente, os dados mostram que, em pouco mais de um ano, a fome praticamente dobrou nas fam�lias com crian�as menores de 10 anos, passando de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022.

"Quando voc� tem fam�lias s� de adultos, � como se a gente tivesse mais arranjos: reduzindo a quantidade de comida, deixando para comer no trabalho... A preocupa��o existe, mas h� sempre uma reorganiza��o."

"Quando h� crian�as, o filho � sempre protegido nessa distribui��o de alimentos. Se tem que restringir a quantidade de comida, � a crian�a quem come mais, e os adultos reduzem sua quantidade."

"Mas a crian�a exposta � restri��o alimentar vai estar comprometida em uma s�rie de quest�es: no desenvolvimento cognitivo, rendimento escolar, resposta imunol�gica a doen�as", enumera.

Sudeste tem maior n�mero de pessoas com fome


Homem levanta prato em cujo fundo está escrito 'fome'
Manifestante em S�o Paulo (SP) durante ato do 'Grito dos Exclu�dos' no 7 de setembro (foto: Reuters)

No Brasil, considerando todos os domic�lios e n�o apenas aqueles com crian�as, a m�dia da popula��o na desej�vel situa��o de seguran�a alimentar foi de 41,3% (regionalmente, foi de 28,4% no Norte; 31,9% no Nordeste; 40,5% no Centro-Oeste; 45,4% no Sudeste; e 51,8% no Sul).

Outros 28% da popula��o brasileira foram considerados como sofrendo de inseguran�a alimentar leve, quando h� preocupa��o se haver� disponibilidade de comida no futuro e ocorre redu��o na qualidade da alimenta��o como estrat�gia de racionamento. Por fim, o relat�rio afirma que 15,2% da popula��o brasileira sofre de inseguran�a alimentar moderada e 15,5% passa fome (25,7% no Norte; 21% no Nordeste; 13,1% no Sudeste; 12,9% no Centro-Oeste; e 9,9% no Sul).

Em n�meros absolutos, e n�o em percentuais, o Sudeste tem o maior volume de pessoas em situa��o de fome, das quais 6,8 milh�es est�o no Estado de S�o Paulo e 2,7 milh�es no Rio de Janeiro.

O relat�rio explora ainda outras caracter�sticas relacionadas � inseguran�a alimentar, mostrando que as fam�lias mais vulner�veis s�o aquelas com renda inferior a meio sal�rio m�nimo por pessoa, cujos chefes est�o desempregados ou trabalhando precariamente, as altamente endividadas ou com baixa escolaridade.


Cenoura e abobrinha
Pre�os de cenoura, tomate e abobrinha mais que dobraram de pre�o entre abril de 2021 e abril de 2022 (foto: Getty Images)

A Rede PENSSAN, que realizou o estudo, � composta por pesquisadores e professores de diversas institui��es e universidades. O Instituto Vox Populi foi respons�vel pelo trabalho de campo, que incluiu uma amostra de 12.745 domic�lios pelo Brasil. Os dados foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022. Para medir os n�veis de inseguran�a alimentar, foram feitas oito perguntas da Escala Brasileira de Inseguran�a Alimentar (EBIA), que considera desde a preocupa��o das pessoas sobre sua alimenta��o � concreta falta de comida.

Os resultados revelam que o per�odo de pandemia agravou as condi��es sociais no Brasil, pioras que, segundo o relat�rio, j� vinham sendo constatadas em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) desde o final de 2015.

"Nos �ltimos anos, vimos a redu��o de pol�ticas sociais de combate � fome, a redu��o do poder de compra do sal�rio m�nimo, o aumento do pre�o dos alimentos. As fam�lias nas regi�es Norte e Nordeste s�o as mais afetadas por tudo isso", afirma Rosana Salles, para quem o objetivo do pa�s deve ser voltar ao percentual de apenas 3,2% dos domic�lios em situa��o de inseguran�a alimentar grave constatado em 2013 pelo IBGE.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62897802

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