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Estado de Minas GOLPE

Ambulantes vendem feij�o adulterado no DF e enganam consumidores

Posicionados nas escadas rolantes, ambulantes comercializam o fradinho e dizem ser o de corda. Eles chegam a faturar quase 130%


07/10/2022 09:58 - atualizado 07/10/2022 10:20

Darcianne Diogo - Correio Braziliense 

Ambulantes vendendo feijão adulterado
Especialistas consultados pelo Correio avaliam que o feij�o-fradinho � tingido de verde para se parecer com o de corda (foto: Minervino J�nior/CB/D.A Press)
No vai e vem das mais de 800 mil pessoas que circulam na Rodovi�ria do Plano Piloto, em Bras�lia, no Distrito Federal, um golpe lesa diariamente os consumidores. Um dos alimentos mais simb�licos, populares e importantes na culin�ria brasileira, o feij�o se tornou alvo de golpistas.
 
Ao longo de tr�s semanas, o Correio Braziliense observou a venda do produto adulterado no terminal, ap�s o recebimento de uma den�ncia. A situa��o � semelhante � que ocorreu no Rio de Janeiro no come�o de setembro e que resultou na pris�o de um feirante de 43 anos.
 
Posicionados em pontos estrat�gicos, os vendedores comercializam o feij�o-fradinho como se fosse o verde ou de corda, como tamb�m � conhecido, que tem o valor do quilo mais caro. Enquanto o fradinho custa em torno de R$ 6,50, o verde chega a quase R$ 20.

De ter�a a sexta-feira, dois ambulantes se revezam nas vendas dos feij�es adulterados na Rodovi�ria. Na plataforma inferior, os comerciantes montam as "bancas" nas duas escadas rolantes, locais onde circulam mais pessoas. Os feij�es ficam dentro de uma bacia grande. � muito dif�cil notar a fraude. S�o todos da mesma cor: verde claro.
 
"Quanto est� o quilo? � feij�o-verde?", pergunto ao vendedor. "Est� R$ 15, o litro. � verde, sim. Vai querer?", responde. O homem que fala � reportagem do Correio trata-se de Diego Silvestre Santana, morador do Gama. O dinheiro da venda cai direto na conta da mulher dele, Florisbela Lima Ferreira, dona de um com�rcio de bebidas.

Diferen�as

Os ambulantes chegam a faturar mais de 130% em cada transa��o. Nas prateleiras dos supermercados, o feij�o-fradinho, que tem por nome t�cnico Tumucumaque (Vigna Uniculata), custa entre R$ 6 e R$ 7 o quilo. Para constatar a diferen�a dos gr�os, o Correio consultou especialistas da �rea.
 
Marcelo Luders, presidente do Instituto Brasileiro do Feij�o e Pulses (Ibrafe), no Paran�, confirmou a diverg�ncia. "De fato, � uma fraude f�cil de detectar, mas os clientes, muitas vezes, acabam n�o notando essa diferen�a e tamb�m n�o tomam a iniciativa de reclamar. Deixam passar", pondera.

Marcelo explica que tanto o feij�o-verde quanto o fradinho s�o da mesma esp�cie. O que difere um do outro � o tempo de colheita. "Chamado de vigna, esse tipo de feij�o quando � colhido ainda n�o estando maduro, trata-se do feij�o-verde, que � muito utilizado na culin�ria nordestina. J� o outro, voc� deixa secar totalmente", detalha.
 
O especialista se mostra assustado quanto � aud�cia dos adulteradores. "Trabalho h� quase 30 anos no mercado e nunca tinha escutado falar nesse tipo de golpe, porque, de fato, n�o � algo frequente", completa.

O professor de agronomia da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterin�ria da Universidade de Bras�lia (FAV/UnB) Marcelo Fagioli ressalta que o feij�o-verde � mais caro justamente pelo cuidado no momento da colheita, porque tem poucas safras durante o ano.
 
"Ele tem um per�odo de prateleira menor. Enquanto o fradinho, que � seco, fica por muito tempo nos supermercados, por exemplo, o verde precisa ser consumido mais r�pido", conta.

A discrep�ncia nos pre�os entre os dois tipos de feij�es pode ser explicada pelo processo da colheita, que ocorre de forma manual ou mecanizada. Um dos indicadores para saber se o feij�o-verde est� pronto para ser colhido � quando as vagens tornam-se fibrosas e, com isso, exige mais cuidado na hora da recolha.
 
"O feij�o-verde geralmente � colhido � m�o, como se fosse uma hortali�a. Essa � a principal diferen�a com o fradinho. J� o seco, as sementes v�o se soltando sozinhas da vagem", ensina o agr�nomo Rog�rio Vianna, da Ger�ncia de Agricultura Urbana da Emater-DF. Ele acrescenta que, para se chegar ao verde do feij�o-fradinho, leva-se ao menos um m�s.
 

Colora��o

O Correio conversou com duas pessoas que compraram o feij�o adulterado na Rodovi�ria e preferiram n�o se identificar. Uma mulher relatou � reportagem que, ao colocar o gr�o para cozinhar, a �gua ficou totalmente esverdeada. "Eu me senti lesada. N�o percebi nada na hora da compra. S� quando cheguei em casa e fiz que notei a �gua toda verde", lembra. Ela pagou R$ 10 pelo litro e decidiu n�o retornar para reclamar.

Um outro rapaz afirmou ter adquirido os feij�es no mesmo ponto. "Assim que cozinhei, vi que tinha algo de errado. Cheguei a voltar no local e reclamei, mas fui avisado que n�o era para 'atrapalhar o esquema deles'. A�, deixei para l�." A reportagem fez o experimento e colocou os feij�es para cozinhar e comprovou que, de fato, a �gua ficou com a tonalidade verde.

Na an�lise dos especialistas, n�o � normal sair qualquer tipo de cor esverdeada do feij�o de corda. "A cor b�sica que sai � um tom meio marrom, que � comum", alerta o presidente do Ibrafe, Marcelo Luders. O feij�o-verde � mais �mido e tem uma textura amolecida, diferentemente do gr�o seco do fradinho. "� poss�vel que esse feij�o (fradinho) tenha passado por um pr�-cozimento e, depois, tenha sido tingido com algum tipo de corante", sup�e o profissional.

Ao Correio, Diego Silvestre, um dos vendedores, se defendeu e alegou que compra os feij�es nas m�os de terceiros. Ele relata que adquire os gr�os com um fornecedor e paga R$ 200 por 40 latas de 1 litro. Em seguida, revende por R$ 10 cada litro - um lucro de 100%. Questionado se ele sabia que os feij�es eram adulterados, Diego nega. "N�o sabia. Mas h� cerca de sete dias sa� da Rodovi�ria porque apareceram algumas reclama��es", justifica.

Comida pintada

Um feirante foi preso por vender feij�o fradinho pintado de verde, para imitar o feij�o-de-corda, que tem o valor do quilo muito mais caro. De acordo com a Pol�cia Civil do Rio de Janeiro (PCRJ), o feij�o-fradinho custa R$ 6,50; j� o verde, R$ 27,50 o quilo. A pris�o ocorreu em 12 de setembro. O suspeito, de 43 anos, � do Rio Grande do Sul e aplicava o golpe em uma feira livre de produtos nordestinos, no bairro Vilar dos Teles. De acordo com a pol�cia, o homem tinha ci�ncia de que, ap�s pintados, o produto ficava impr�prio para o consumo.


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