
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica), respons�vel pelo Censo, os agentes v�m encontrando dificuldades para ingressar em pr�dios e condom�nios, especialmente os de renda mais alta. "Tem pessoas que se recusam a receber os recenseadores. Associam o Censo � pol�tica, a golpes. Isso dificulta nosso trabalho, apesar de estarmos identificados", afirma a recenseadora Paula Fonseca, 45, do Rio de Janeiro.
A trabalhadora afirma que, em um condom�nio, s� conseguiu iniciar a coleta dos dados quando foi ao local pela quarta vez. Situa��es assim atrasam a evolu��o da pesquisa.
O trabalho dos recenseadores tamb�m est� sujeito a riscos. Fonseca menciona que, ao recensear uma comunidade, um morador amea�ou jogar �gua quente nela ap�s se recusar a responder ao question�rio. Relatos de amea�as e outras dificuldades v�m sendo compartilhados por recenseadores em grupos de WhatsApp ao longo da coleta do Censo, que come�ou em 1º de agosto.
"A maior recusa � nos condom�nios com portaria. O povo fica assustado", diz o recenseador Pl�nio Loiola Arraes, 49, que atua em Salvador. "�s vezes, a pessoa n�o sabe nem o que � o IBGE. A� temos de desatar esse n�", afirma.
Atraso na coleta
O instituto anunciou na semana passada que a coleta do Censo s� deve ser conclu�da no come�o de dezembro. Isso significa um atraso em rela��o ao plano inicial, que era finalizar as entrevistas at� outubro.
No s�bado (8/10), o IBGE fez uma mobiliza��o para estimular a popula��o a responder ao Censo. Equipes do instituto tiraram d�vidas sobre a pesquisa em pontos de capitais como pra�as, parques e shoppings. Novas a��es est�o sendo planejadas, indicou o �rg�o.
Questionado sobre as recusas em locais como condom�nios, o IBGE afirmou que "n�o falta informa��o" sobre o Censo. O instituto associa os entraves a quest�es como o "receio" da popula��o, em geral, e a "disposi��o de n�o responder", em particular.
"Por isso o IBGE reinveste permanentemente esfor�os de esclarecimentos sobre a identifica��o do(a) recenseador(a) e sobre a import�ncia do Censo para o pa�s, para a sociedade, para as comunidades", disse o �rg�o.
A recenseadora Gabriela de Souza Bittencourt, 36, de Nova Igua�u (RJ), na Baixada Fluminense, tamb�m vem sentindo algumas dificuldades no trabalho. Na vis�o dela, parte das pessoas desconhece a fun��o do Censo. "Tem tamb�m a atitude das pessoas, daquelas que s�o mais rudes", afirma.
A recenseadora avalia que o clima de polariza��o pol�tica durante a corrida eleitoral � mais um dos fatores que atrapalham o avan�o das entrevistas. "Estava trabalhando em um setor, e do outro lado da rua o pessoal estava se questionando, senhoras dizendo que o Censo era uma pesquisa para induzir o voto das pessoas", conta.
O levantamento do IBGE representa, na verdade, o trabalho mais detalhado sobre as caracter�sticas demogr�ficas e socioecon�micas da popula��o brasileira. A inten��o � visitar os cerca de 75 milh�es de domic�lios espalhados pelo pa�s.
Nas redes sociais, o instituto tem procurado desmentir ataques � pesquisa. O �rg�o destaca que a legisla��o determina a obrigatoriedade de responder ao Censo e tamb�m garante o sigilo das informa��es prestadas com fins estat�sticos.
Os dados apurados funcionam como base para uma s�rie de pol�ticas p�blicas. As estat�sticas balizam, por exemplo, os repasses do FPM (Fundo de Participa��o dos Munic�pios), fonte de recursos das prefeituras.
Estrat�gias e problemas
At� o in�cio da semana passada, 2,27% dos domic�lios tinham recusado respostas ao Censo, conforme balan�o divulgado pelo IBGE. O �rg�o indicou na ocasi�o que esperava reduzir o percentual ap�s a aplica��o de protocolos de insist�ncia.

Se mesmo assim n�o houver autoriza��o, o instituto planeja a busca de mandados judiciais para garantir o ingresso das equipes nos endere�os.
Em �reas de risco, o �rg�o aposta em parcerias com lideran�as das comunidades. O trabalho nesses locais n�o foi apontado como uma das principais dificuldades no momento.
At� o in�cio da semana passada, os estados com as maiores taxas de recusa foram Rio de Janeiro (3,75%), S�o Paulo (3,74%) e Roraima (3,64%). Para�ba (0,90%), Piau� (1,08%) e Rio Grande do Norte (1,25%) registraram as menores.
O instituto associa o atraso do Censo � falta de recenseadores em parte do pa�s, al�m do impacto das recusas. No in�cio da semana passada, o �rg�o contava com 95,4 mil trabalhadores em a��o, o equivalente a apenas 52,2% do total de vagas dispon�veis.
O IBGE foi alvo de cr�ticas de recenseadores em raz�o da demora na libera��o de aux�lios e de pagamentos em patamar inferior ao esperado na fase inicial da pesquisa. A situa��o gerou protestos, amea�as de greve e desist�ncias de trabalhadores.
Lucas Ferreira, 32, de Salvador, faz parte do grupo que deixou a pesquisa. Insatisfeito com as condi��es de trabalho e a remunera��o na fase inicial do levantamento, ele pediu demiss�o em setembro, antes de concluir seu primeiro setor censit�rio –divis�o das �reas urbanas e rurais do territ�rio. A experi�ncia rendeu em torno de R$ 500, segundo ele.
"Via o Censo como possibilidade de renda extra", diz. "Ouvi diversos relatos de amea�as a recenseadores, mas felizmente n�o sofri nenhum tipo."
Em mais de uma ocasi�o, o IBGE argumentou que os atrasos em pagamentos foram superados. Na semana passada, o instituto prometeu incentivos para deixar as taxas mais atrativas para os recenseadores.
O instituto ainda afirma que n�o tem um balan�o nacional sobre ocorr�ncias policiais envolvendo recenseadores. "A recomenda��o geral do IBGE aos recenseadores � inicialmente registrar em delegacia um boletim de ocorr�ncia e comunicar ao coordenador ou ao supervisor para as provid�ncias cab�veis", diz.
"Cabe ressaltar que epis�dios de agress�o ou hostilidade n�o s�o problemas somente no Censo, s�o problemas em v�rios setores da sociedade: ocorrem contra pesquisadores eleitorais, contra jornalistas, contra parentes, contra vizinhos e at� contra esposas", completa.