
Pel� era famoso principalmente por ter vencido tr�s Copas do Mundo — o �nico atleta masculino ou feminino a faz�-lo — e marcado um recorde mundial de 1.281 gols em 1.363 jogos pelo clube e pela sele��o brasileira de futebol.
Seu apelo transcende os esportes. Mas ainda hoje h� hist�rias que muitos n�o conhecem de uma das pessoas mais famosas da hist�ria.
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Conhe�a algumas delas.
Pel� 'expulsou' um �rbitro

O Santos enfrentou a sele��o ol�mpica da Col�mbia em amistoso em 18 de junho de 1968 em Bogot�. Um est�dio lotado ficou at�nito quando o �rbitro Guillermo Velasquez disse a Pel� para deixar o campo (os cart�es vermelhos s� seriam introduzidos em 1970) depois que o brasileiro cometeu uma falta em um zagueiro e, segundo Vel�zquez, o insultou.
Ent�o, uma confus�o se armou: os jogadores do Santos cercaram furiosamente o �rbitro, e as fotos do jogo mostram Vel�zquez com um olho roxo. A multid�o tamb�m protestou contra a decis�o.
Em uma entrevista de 2010, o �rbitro (que morreu em 2017 aos 84 anos) disse que foi ent�o instru�do a deixar o jogo e ceder o apito para um dos bandeirinhas. Pel� foi readmitido rapidamente no jogo.
Pel� realmente interrompeu uma guerra?

Na d�cada de 1960, o Santos de Pel� era um dos times de futebol mais famosos do mundo — e eles tiraram proveito dessa fama para disputar partidas amistosas lucrativas em todo o planeta.
Um desses jogos aconteceu na Nig�ria, devastada pela guerra, em 4 de fevereiro de 1969: o Santos derrotou um time local por 2 a 1 na cidade de Benin.
Na �poca, a Nig�ria estava envolvida em uma sangrenta guerra civil desencadeada pela tentativa de secess�o de Biafra.
Segundo Guilherme Guarche, historiador do Santos F.C., os brasileiros estavam preocupados com a seguran�a da delega��o e, por isso, foi acertado um cessar-fogo entre as partes em conflito.
Essa hist�ria vem sendo contestada nos �ltimos anos e curiosamente n�o apareceu na primeira autobiografia de Pel�, lan�ada em 1977.
Mas, em outra autobiografia, divulgada 30 anos depois, o brasileiro mencionou o epis�dio.
Ele disse que os jogadores foram informados de que "a guerra civil seria interrompida por causa do jogo de exibi��o".
"Bem, n�o tenho certeza se isso � totalmente verdade, mas os nigerianos certamente garantiram que os biafrenses n�o invadissem quando estiv�ssemos l�", escreveu Pel�.
Como Pel� 'esnobou os Beatles'

Pel� se mudou para Nova York em 1975 para jogar pelo New York Cosmos na primeira tentativa dos Estados Unidos de formar uma liga de futebol profissional (1968-84).
Ele teve aulas de ingl�s em uma escola de idiomas e, em um dos intervalos, o brasileiro esbarrou com o ex-Beatle John Lennon (1940-1980), que tamb�m morava na cidade.
"Lennon estava aprendendo japon�s na mesma escola", escreveu Pel� em suas mem�rias de 2007.
O brasileiro afirma ter ouvido de Lennon que ele e os outros Beatles tentaram visitar o hotel da sele��o brasileira durante a Copa do Mundo de 1966, disputada na Inglaterra.
Pel� escreveu que as tentativas dos m�sicos de conhec�-lo foram impedidas pelos conservadores diretores da confedera��o brasileira.
Por que ele nunca jogou em um clube europeu

Os cr�ticos de Pel� afirmam que o fato de nunca ter jogado futebol de clubes na Europa facilitou sua vida.
O problema � que, ao contr�rio de muitos jogadores brasileiros, famosos ou n�o, Pel� foi literalmente impedido de se mudar para o exterior durante seu apogeu.
O Santos recusou ofertas de clubes como Real Madrid e Milan, em uma �poca em que os jogadores tinham pouca influ�ncia sobre onde jogavam.
A press�o para mant�-lo no Brasil veio at� dos escal�es mais altos do governo: em 1961, o ent�o presidente J�nio Quadros (1917-1992) emitiu um decreto declarando Pel� um "tesouro nacional" que n�o podia ser "exportado".
A lenda brasileira acabou jogando por um clube estrangeiro, mas apenas em 1975, quando foi para o New York Cosmos, dos Estados Unidos.
Uma estreia como capit�o do Brasil aos... 50 anos

Voc� leu certo. Pel� usou a bra�adeira de capit�o Brasil apenas uma vez na carreira — ele sempre recusou o posto tanto pelo clube quanto pela sele��o brasileira.
A exce��o foi o dia em que jogou pelo Brasil aos 50 anos.
Aconteceu em 1990, 19 anos depois de ele se aposentar da sele��o.
Ele participou de um amistoso Brasil x Resto do Mundo, em Mil�o, organizado para marcar seu 50º anivers�rio — Pel� jogou os primeiros 45 minutos.
A derrota por 2 a 1 ficou famosa no Brasil por outro motivo: o atacante Rinaldo do Fluminense teve a chance de presentear Pel� com um gol, mas chutou ao lado, em vez de passar a bola para o veterano, que estava livre de marca��o, em plena homenagem ao rei.
"Ele ficou um pouco bravo comigo no come�o", disse Rinaldo ao site Globo Esporte em 2010.
Quando Pel� foi 'sequestrado' no Caribe

Os jogadores do Santos n�o estavam felizes de jogar em Trinidad e Tobago, em 5 de setembro de 1972.
"Houve s�rios dist�rbios civis e vimos tanques nas ruas", lembrou o defensor Oberdan (1919-2014) ao jornal Zero Hora em 2010.
"Todos concordamos que ter�amos que jogar o jogo o mais r�pido poss�vel para que pud�ssemos ir de volta para o avi�o."
Mas a delega��o n�o contou com a rea��o da torcida ao gol de Pel� aos 43 minutos.
Os torcedores invadiram o campo do est�dio Port of Spain e, logo, estavam marchando pelas ruas da cidade com Pel� nos ombros, em um desfile comemorativo.
Depois de v�rios minutos desconfort�veis, ele foi resgatado.
Roubando os holofotes de Sylvester Stallone

Quando as filmagens do filme Fuga Para a Vit�ria come�aram em 1980, Sylvester Stallone j� era um grande sucesso na ind�stria cinematogr�fica gra�as aos dois primeiros filmes da s�rie Rocky.
Fuga Para a Vit�ria conta a hist�ria de um jogo fict�cio entre um time nazista e uma equipe de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial.
Pel� estava l�, ao lado de outros futebolistas profissionais ativos e aposentados, como os vencedores da Copa do Mundo Bobby Moore (1941-1993) e Ossie Ardiles — enquanto Stallone atuava de maneira pouco convincente como goleiro.
Pel� chegou a acertar em uma das cenas um acrob�tico chute de bicicleta com perfei��o na primeira vez que pegou na bola.
Curiosamente, Pel� disse ao site UOL, em uma entrevista de v�deo, que Stallone deveria ser o autor dos gols.
"No roteiro original, Stallone era o atacante, e eu deveria ser o goleiro", disse o jogador.
"Mas ele n�o conseguiu chutar uma s� bola", acrescentou Pel�, rindo.
Ali�s, Pel� era um goleiro decente...

Pel� certamente n�o teria decepcionado se tivesse feito o papel de goleiro em Fuga Para a Vit�ria.
Na vida real, o brasileiro era o jogador de campo designado para jogar no gol pelo clube e pela sele��o, em uma �poca em que as equipes s� podiam fazer uma substitui��o por jogo.
Na verdade, ele usou as luvas pelo Santos quatro vezes em sua carreira, inclusive em uma semifinal de campeonato em 1964. O time venceu todos os jogos, e Pel� n�o sofreu um �nico gol.
N�o existe apenas um Pel�...

Os torcedores podem gostar de cantar "S� existe um Pel�!". Mas n�o � verdade.
As fa�anhas de Pel� significam que ele tem hom�nimos em todo o mundo, dentro e fora do campo.
Um dos jogadores de futebol mais famosos da �frica nasceu Abedi Ayew, mas se tornou famoso como Abedi Pel� jogando por Gana e por v�rios clubes europeus.
Na Inglaterra, o zagueiro cabo-verdiano Pedro Monteiro, que ingressou no Southampton em 2006, tamb�m era conhecido como Pel�, apelido que ganhou na inf�ncia.
Mas uma medida mais forte do impacto de Pel� pode ser obtida pelo nome com o qual foi batizado.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), Edson explodiu como nome escolhido ap�s as fa�anhas de Pel�.
Na d�cada de 1950, havia 43.511 pessoas chamadas Edson no Brasil. Duas d�cadas depois, depois que Pel� marcou mais de mil gols e ganhou tr�s Copas do Mundo, o n�mero cresceu para mais de 111 mil.
Um rei que poderia ter sido presidente?

Em 1990, Pel� anunciou � imprensa internacional que acalentava a ideia de concorrer � Presid�ncia do Brasil nas elei��es de 1994.
A candidatura nunca veio, mas Pel� realmente entrou na pol�tica naquela mesma d�cada: de 1995 a 1998 foi ministro do Esporte no governo de Fernando Henrique Cardoso e pressionou por uma legisla��o que desse aos jogadores de futebol profissionais mais poder de barganha com os clubes, algo que sua pr�pria gera��o havia sentido falta.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63880474