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Estado de Minas MUNDO ANIMAL

Magro e infestado de larvas: a morte suspeita do le�o Nagan em zoo do interior de SP

O le�o estava em zool�gico municipal da cidade de Americana. Veterin�rios que acompanharam o caso disseram que ele tinha muitas larvas pelo corpo, al�m de tumores e cistos.


20/01/2023 06:17 - atualizado 20/01/2023 07:10


Nagan
Nagan morreu no dia 31 de dezembro (foto: Divulga��o)

A morte do le�o Nagan, que estava em um zool�gico na cidade de Americana, no interior de S�o Paulo, est� causando revolta em advogados, veterin�rios e ativistas dos direitos dos animais.

Sob suspeita de neglig�ncia e maus tratos, a morte de Nagan chegou � Justi�a paulista em uma tentativa de se descobrir o que de fato aconteceu com o felino.

O imbr�glio ainda est� no in�cio, mas j� envolveu uma disputa at� pela necropsia do animal. O Minist�rio P�blico tamb�m foi acionado, e deve iniciar uma investiga��o sobre o caso.

Nagan morreu no dia 31 de dezembro de 2022 nas depend�ncias do Parque Ecol�gico de Americana, um zool�gico p�blico administrado pela prefeitura do munic�pio, que fica a 126 quil�metros da capital.

No mesmo dia, a prefeitura divulgou uma nota afirmando que Nagan, que tinha 24 anos, havia morrido de velhice.

Segundo a Uni�o Internacional para a Conserva��o da Natureza, a expectativa de vida para le�es em cativeiro � justamente de 24 anos.

Por�m, segundo veterin�rios que acompanharam a necropsia, o le�o estava muito magro e bastante debilitado, al�m de ter v�rios tumores espalhados pelo corpo e feridas infestadas por larvas de moscas.

Nesta quinta-feira, a BBC News Brasil procurou a gest�o do prefeito Chico Sardelli (PV), mas a prefeitura respondeu que s� vai se pronunciar ap�s a divulga��o do laudo oficial da necropsia, o que s� deve acontecer em 40 dias.

O caso come�ou em 24 de outubro, quando a consultora e ativista Mirella Cecchini se mudou para uma casa vizinha ao zool�gico de Americana.

"No primeiro dia comecei a ouvir um le�o rugindo. At� a�, normal. Mas ele rugia muitas horas sem parar. Achei esquisito e resolvi procurar o zool�gico", conta.

Segundo ela, uma veterin�ria do estabelecimento respondeu que estava tudo bem com Nagan.

"Ela me disse que ele estava bem de sa�de e que rugir o dia todo era normal para um le�o idoso, como se fosse um gatinho. Ela disse que ele recebia a melhor alimenta��o do mundo, que estava tudo de acordo com as normas do Ibama e pediu que eu ficasse tranquila", conta.


Leão Nagan
Nagan tinha 24 anos quando morreu, em dezembro. Essa � uma imagem da �poca em que chegou no zool�gico de Americana (foto: Divulga��o)

Mirella n�o conseguiu ver Nagan nessa primeira visita. Mas os rugidos continuaram nos dias seguintes, e ela, desconfiada e preocupada, decidiu voltar ao zool�gico em 21 de dezembro.

"Quando o vi, fiquei sem palavras com a situa��o. Ele estava muito magro, s� pele e osso. Ficou um temp�o deitado, sem se movimentar, sem for�a. Mal conseguia andar, �s vezes se arrastava", conta ela, que gravou dois v�deos e tirou fotos de Nagan.

As imagens foram divulgadas nas redes sociais, gerando como��o e revolta entre ativistas da causa animal.

Mirella conta ter procurado a prefeitura no dia 21 de dezembro. Alguns funcion�rios disseram para ela n�o se preocupar, e que Nagan estava bem.

No entanto, poucas horas antes da virada do ano, ela soube que o le�o tinha morrido.

Disputa pela necropsia

Aconselhada por ativistas e veterin�rios, Mirella decidiu procurar a Justi�a para tentar descobrir o que tinha acontecido. "Passei o r�veillon dedicada ao Nagan", conta.

Ela, a veterin�ria Priscilla Sarti e a Associa��o Protetora dos Animais de Americana entraram com uma a��o pedindo que a necropsia do animal n�o fosse realizada por t�cnicos da prefeitura.


Nagan deitado
Nagan estava muito magro antes de morrer, aponta moradora que viu o animal (foto: Divulga��o)

"Para mim estava claro que a necropsia deveria acontecer na USP, que � uma universidade p�blica com muita experi�ncia nesses procedimentos com grandes felinos", explica Sarti, que � especialista em felinos dom�sticos e selvagens

O juiz Andr� Pereira de Souza, que estava de plant�o, decidiu que n�o era necess�rio levar o corpo para a USP, mas que o procedimento s� poderia ser realizado com acompanhamento da veterin�ria.

A necropsia aconteceu no dia 10 de janeiro no hospital veterin�rio da Faculdade de Americana (FAM), institui��o particular de ensino que tem parcerias com a prefeitura de Americana - segundo pessoas que acompanharam o caso, a gest�o insistiu para que a necropsia fosse realizada na faculdade.

Quando entrou na sala, Sarti percebeu que o corpo de Nagan j� havia passado por procedimentos: a cabe�a e duas pernas tinham sido removidas.

"J� achei esquisito o corpo ter sido modificado antes da necropsia, porque isso poderia alterar o resultado do exame", diz.

Segundo Jorge Salom�o, diretor t�cnico do hospital veterin�rio da FAM, o corpo foi modificado por funcion�rios da prefeitura. "O que disseram para a gente foi que a cabe�a e os membros foram retirados para caber no freezer do zool�gico", disse.

J� a prefeitura de Americana n�o respondeu aos questionamentos da reportagem.

A necropsia foi feita pela patologista Josemara Neves Cavalcanti, que trabalha na FAM.

O corpo continua no hospital da faculdade. E ativistas agora v�o entrar na Justi�a para tentar realizar uma contraprova sobre a causa da morte.

'Estado chocante'

A veterin�ria Priscila Sarti, que acompanhou o procedimento, afirma que o estado de Nagan "era chocante".

"Ele tinha um tumor na boca e outro na mand�bula, ambos vis�veis. Havia v�rios cistos no f�gado, um deles do tamanho de uma m�o. O queixo e parte do pesco�o tinham sido comidos por larvas de moscas, as chamadas bicheiras. Dava para ver a musculatura. Ele estava t�o magro que n�o tinha gordura, era pele e osso", explica.

Para ela, Nagan pode ter ficado meses ou at� anos doente e sem tratamento m�dico ou medica��o adequada que amenizassem seu sofrimento.

"Ele sofreu por muito tempo, com muita dor. Como ele n�o passava por exames ou tratamento, o estado dele foi se agravando. Estava t�o doente que n�o conseguia mais comer e por isso ficou magro, n�o tinha for�a para levantar, ficava se arrastando", diz.


Nagan no recinto do zoo
Nagan tinha tumores e cistos pelo corpo (foto: Reprodu��o)

Segundo Salom�o, que tamb�m acompanhou a necropsia, n�o � poss�vel afirmar qual foi a causa da morte antes do laudo definitivo.

Ele afirma que, dois dias antes, em 29 de dezembro, ele tratou Nagan a pedido da prefeitura. O animal foi sedado e medicado. As larvas, diz, foram retiradas em grande quantidade.

O veterin�rio, tamb�m especialista em felinos, confirmou que o le�o tinha uma s�rie de problemas graves de sa�de, como tumores e cistos, mas atribui parte deles � idade avan�ada.

"Ele tinha hepatopatia (doen�as no f�gado), altera��es nos rins e tumores. Alguns desses problemas se devem � idade, e s�o comuns em felinos dom�sticos. Ele tinha 24 anos, e infelizmente n�o tem muito o que fazer", explica.

Segundo ele, a FAM n�o cobrou pelo atendimento. "N�s atuamos quando somos chamados", explica.

Salom�o conta que examinou Nagan em julho de 2020, quando foi constatado as doen�as hep�ticas. "N�s recomendamos um tratamento com medicamentos, mas ele foi tocado pelo pr�prio zool�gico", diz.

A prefeitura n�o respondeu se o le�o estava recebendo algum tipo de tratamento.

Para Antilia Reis, advogada ativista da causa animal e que assumiu o caso de Nagan, a hist�ria do le�o de Americana � um exemplo do sofrimento de muitos animais que vivem em zool�gicos.

Filhotes

Nagan chegou em 2015 ao Parque Ecol�gico de Americana, que tem cerca de 400 animais, e cobra R$ 4 pelo ingresso.

Uma reportagem do Estado de S. Paulo, publicada em dezembro de 2006, conta que Nagan era o pai de dois le�ezinhos que nasceram no Horto Municipal de S�o Vicente, no litoral paulista.

Kiara, de 3 anos, era a m�e.

Ele j� havia sido pai antes. O filhote se chamava Natan.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64327207


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