
O secret�rio de Sa�de Ind�gena do Minist�rio da Sa�de, Ricardo Weibe Tapeba, classificou como alarmante o cen�rio da sa�de p�blica nas comunidades ianom�mis, disse que mais de 1.000 ind�genas foram resgatados, e afirmou que h� subnotifica��o de casos de doen�as. “N�s acreditamos que mais de 1.000 ind�genas foram nesses �ltimos dias resgatados do territ�rio para n�o morrer, n�? [...] N�s acreditamos que h� inclusive uma subnotifica��o muito grande [de doen�as]", afirmou Tabepa nessa ter�a-feira (24/1), em Boa Vista (RR).
Regi�o com 30 mil habitantes em Roraima, a terra ind�gena ianom�mi vive uma explos�o de casos de mal�ria, incid�ncia de verminoses facilmente evit�veis, infec��es respirat�rias e agravamento da desnutri��o, especialmente entre crian�as e idosos. O quadro de desassist�ncia em sa�de no territ�rio � agravado pela perman�ncia de mais de 20 mil garimpeiros invasores na �rea demarcada.
O secret�rio de Sa�de Ind�gena participou de uma incurs�o em tr�s comunidades ianom�mis com o apoio da For�a A�rea Brasileira e afirmou que as comunidades vivem um cen�rio de guerra. “Eu estive no territ�rio; quando eu falo em opera��o de guerra, n�o � figura de linguagem. [Temos] a todo momento aeronaves pousando e decolando, trazendo e levando pacientes graves”, disse Tapeba, destacando que foram resgatadas crian�as com quadro de desnutri��o grave e jovens com mal�ria em estado cr�tico.
Ele afirmou que ainda h� regi�es do territ�rio ianom�mi em que as equipes do governo ainda n�o conseguiram acessar devido � complexidade log�stica e quest�es de seguran�a, j� que parte das comunidades foi invadida pelo garimpo ilegal. “O garimpo invadiu as aldeias e essas comunidades est�o � merc� do crime organizado. Eu n�o falo garimpeiros, eu falo crime organizado, porque s�o muitas pessoas armadas coagindo e n�o se intimidam com a presen�a da For�a A�rea Brasileira”, disse Tapeba.
Ele ainda cobrou a implementa��o de um plano de retirada do garimpo ilegal da terra ind�gena, seguindo inclusive uma decis�o do Supremo Tribunal Federal que determina a remo��o de 20 mil garimpeiros. “O que n�s estamos fazendo aqui � um caminho sem volta, que vai finalizar com a remo��o dos garimpeiros”, completou.
Na sexta (20/1), o Minist�rio da Sa�de decretou Emerg�ncia em Sa�de P�blica de Import�ncia Nacional. Tr�s dias depois, enviou uma equipe da For�a Nacional do SUS (Sistema �nico de Sa�de) para Boa Vista com 12 profissionais, que far�o a opera��o de um hospital de campanha que deve ser montado na sexta-feira (27/1).
Eles v�o prestar servi�o na Casa de Sa�de Ind�gena Ianom�mi e no hospital de campanha que est� sendo preparado pelo Ex�rcito Brasileiro em Boa Vista. S�o 11 volunt�rios assistenciais e um da equipe de gest�o central.
Em visita a Boa Vista no s�bado (21/1), o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) anunciou aux�lio aos habitantes da regi�o e combate ao garimpo ilegal. Na data, o petista disse ter visto durante a semana fotos que o abalaram e que a situa��o encontrada foi de abandono.
Exonera��es
O governo Luiz In�cio Lula da Silva (PT) exonerou 33 coordenadores da Funda��o Nacional dos Povos Ind�genas (Funai) e dispensou outros quatro servidores que ocupavam cargos de coordena��o. As publica��es foram divulgadas em edi��o extra do Di�rio Oficial da Uni�o de segunda-feira (23/1).
Tamb�m foram exonerados cinco assessores da presid�ncia e o chefe de gabinete da funda��o, assim como o diretor do Museu do �ndio da Funai. Foi dispensado ainda o corregedor da Funai.
Sobre as demiss�es, Ricardo Weibe Tapeba afirmou que a sa�de ind�gena estava aparelhada pelo militarismo, e adiantou que a Sesai est� avaliando em Bras�lia novos coordenadores dos distritos e que os cargos n�o ter�o indica��es pol�ticas.
47 crian�as est�o
internadas em Roraima
A Secretaria Municipal de Sa�de de Boa Vista informou que as crian�as ianom�mis est�o internadas no Hospital da Crian�a da capital de Roraima, �nica unidade de sa�de que atende aos casos pedi�tricos de m�dia e alta complexidade no estado. As principais causas de interna��o s�o: diarreia e doen�a gastrointestinal aguda; desnutri��o grave; pneumonia; mal�ria; e acidentes com cobras.
Segundo o Minist�rio dos Povos Ind�genas, 570 crian�as desse povo morreram por contamina��o por merc�rio e fome, causadas pelo “impacto do garimpo ilegal na regi�o”, nos �ltimos quatro anos. Profissionais de sa�de relatam falta de seguran�a e vulnerabilidade para continuar os atendimentos, dificultando ainda mais a assist�ncia m�dica aos ind�genas.
Investiga��o
Em 30 de novembro do ano passado, a Pol�cia Federal e o Minist�rio P�blico Federal (MPF) fizeram uma opera��o para combater um suposto desvio de recursos p�blicos destinados � compra de medicamentos para os ianom�mis.
As supostas fraudes no governo anterior teriam causado a reten��o de medicamentos, em especial verm�fugos, o que deixou 10.193 crian�as desassistidas, segundo a PF. O resultado foi um “aumento de infec��es e manifesta��es de formas graves da doen�a, com crian�as expelindo vermes pela boca”. De 13.748 crian�as aptas ao tratamento de verminoses no primeiro semestre de 2022, apenas 3.555 receberam tratamento, segundo os dados usados nas investiga��es.
Um hospital para crian�as em Boa Vista (RR) atendeu mais de 300 crian�as ianom�mis com desnutri��o ou mal�ria num per�odo de 15 meses. De acordo com o MPF, 52% das crian�as ianom�mis est�o desnutridas. Nas comunidades mais isoladas, o �ndice chega a 80%.
O quadro cr�tico � notado tamb�m com a mal�ria. Foram 44 mil casos da doen�a em menos de dois anos, e o cen�rio � de que toda a popula��o ianom�mi foi infectada, com descontrole do surto, como descreve o MPF na recomenda��o em 2021. (Folhapress)
Bolsonaro fala sobre
contato com ind�genas
Em meio � crise humanit�ria vivida pelos ianom�mis, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou ontem, em Orlando (EUA), que, durante viagem a S�o Gabriel da Cachoeira (AM), perguntou a ind�genas da etnia ianom�mi o que eles queriam e que a resposta foi 'internet'. A fala foi feita de passagem, enquanto Bolsonaro conversava com apoiadores e exaltava feitos de seu governo.
Bolsonaro visitou S�o Gabriel da Cachoeira em 27 de maio de 2021, onde fica a comunidade de Maturac�. � a mesma etnia, mas em uma regi�o diferente da visitada neste ano por Lula, em Roraima, quando o governo decretou estado de emerg�ncia para combater a falta de assist�ncia sanit�ria na regi�o.
“N�s temos o que o Brasil precisa para o agro. Alguns est�o em terras ind�genas. Tem um projeto na C�mara, que acho que n�o vai para frente agora, para poder explorar isso, dando royalties para os ind�genas, se assim eles concordarem. Muitas tribos, muitas etnias passaram a investir no agro, o [povo] paresi j� vinha investindo l� em Mato Grosso, outras vieram. Levamos internet para as aldeias. Eu tive uma vez l� em S�o Gabriel [da Cachoeira], conversei com alguns ianom�mis. Eu perguntei: O que voc�s querem?. ‘Internet’”, disse a apoiadores em frente da casa onde est� hospedado.
Nesse momento, a reportagem perguntou o que o presidente tinha a dizer sobre a situa��o atual dos ianom�mis, mas o ex-presidente se negou a comentar. “N�o vou responder a voc�. Com todo o respeito a voc�, n�o vou te responder.”
Na sequ�ncia, Bolsonaro tamb�m comentou a investiga��o da PF sobre o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira, em junho do ano passado. Nessa segunda, a PF afirmou que o mandante do crime foi Ruben Dario da Silva Villar, apelidado de Col�mbia.
“Voc�s lembram do cara, um brasileiro e um estrangeiro que foram mortos l� na Amaz�nia. Botaram a culpa em mim, n�? Ontem descobriram que veio da Col�mbia. N�o do governo colombiano, vamos deixar bem claro, veio do pessoal da Col�mbia. E assim vai.”
(Folhapress)