
"Ela disse 'Thais, acorda todo mundo pelo amor de Deus, que a �gua subiu'", conta a dona de casa. Maria Rosa tinha medo que a filha estivesse j� sem vida devido �s fortes chuvas que afetaram severamente Bertioga, na Baixada Santista, nos �ltimos dias.
Ela mora com mais outras 12 pessoas -sendo diversas delas crian�as- em um pequeno barraco de madeira localizado em uma comunidade no bairro Ch�caras.
No munic�pio, o �ndice pluviom�trico chegou a 695 mm, segundo a �ltima atualiza��o do governo do estado, o maior registrado em toda a hist�ria da cidade.
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"Uma hora depois, a �gua j� tinha subido mais de um metro. Ficamos em p�nico. Ligamos para os bombeiros, mas n�o sabiam nem como chegar para nos ajudar", conta Thais.
A rua onde moram nem sequer tem nome. Os im�veis s�o considerados de ocupa��o irregular pela prefeitura e, para a chegada do resgate, moradores precisaram dar refer�ncias pr�ximas. At� botes foram utilizados pelos bombeiros.
"Primeiro tiramos as crian�as. Eles [bombeiros] as colocavam nas costas porque at� os adultos tinham medo de afundar e n�o voltar. Ningu�m sabe nadar", disse Thais � reportagem.
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Enquanto a �gua subia dentro da pr�pria casa, a fam�lia ainda lembrou que os vizinhos, um casal de idosos, poderiam estar com dificuldades mais severas. Um deles sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) recentemente, e teve a locomo��o limitada.
Recorreram, ent�o, a outro vizinho com quem possuem rela��o pr�xima, Moacir de Jesus dos Santos, 39.
"N�s somos como uma fam�lia, ent�o nos ajudamos mesmo. Coloquei ele pendurado em mim, nos meus ombros, e passamos pela �gua at� a casa de um dos parentes", disse Santos.
O lar de Thais Mariane de Carvalho ficou completamente inundado. Ela conta ter perdido fog�o, m�quina de lavar, geladeira e precisou com toda a fam�lia ser alojada temporariamente na quadra da escola municipal Jos� de Oliveira, no bairro Jardim Rio Praia.
Eles t�m no local a companhia de outros integrantes da pr�pria comunidade. Segundo a prefeitura, o n�mero de desalojados subiu nesta segunda-feira (20) de 13 para 21.
Ivanilde Alves, 46, e Beatriz Ariane Ferreira, 22, tamb�m est�o no alojamento provis�rio.
M�e e filha chegaram h� menos de dois meses ao munic�pio, vindas de Ferraz de Vasconcelos, na Grande S�o Paulo, para tentar recome�ar ap�s o div�rcio de Ivanilde.
"Viemos aqui s� com a roupa do corpo, uma mochila e a coragem. Moramos de favor na casa de um conhecido um m�s e conseguimos um barraco para ficar", disse Ivanilde.
Beatriz est� gr�vida de sete meses e segurava no colo um cachorro de pouco mais de 20 dias de vida, sentada sobre um colch�o que receberam de doa��o. Ela ainda tem uma filha de quatro anos.
"Parecia o Titanic. N�o sab�amos se sa�amos da casa, ou se fic�vamos dentro. E o pior: teremos que voltar para l�", afirmou.
Diferentemente de alguns que j� tentam retornar para os seus lares, mesmo com previs�o de novas chuvas na regi�o, elas ainda precisar�o aguardar pelo fato de a casa ainda estar cheia de �gua.
Tamb�m alojado, o morador Antonio Jos� Felix do Nascimento, 46, avisou a assist�ncia social que junto com a esposa, Carina Ribeiro da Luz, deixaria o abrigo para tentar voltar ao lar e n�o perder o trabalho como pedreiro em uma marina.
"Mor�vamos de aluguel e compramos essa casa h� quatro anos. Salvamos tudo o que pod�amos", contou Carina.
Eles disseram que pagavam mensalmente R$ 800 na antiga moradia, mais gastos com �gua e luz por volta de R$ 200. "T�nhamos o lar e faltava o que comer. Ent�o, agora, n�o � uma op��o sair. Vamos para o menos pior", disse.
Para n�o perder o carro, o casal estacionou o ve�culo em frente a uma adega de um conhecido, que fica em um ponto mais alto da regi�o e n�o costuma sofrer com alagamentos. O vizinho deles ficou com o carro completamente submerso.
A Prefeitura de Bertioga decretou estado de emerg�ncia e cancelou toda a programa��o de Carnaval. Al�m do Ch�caras, o Morada da Praia, Boraceia e a Riviera de S�o Louren�o s�o outros pontos afetados.
Segundo o DER (Departamento de Estradas de Rodagem), a rodovia Mogi-Bertioga, um dos principais acessos � cidade, ainda precisou ser interditada e segue sem previs�o de libera��o.
BAIXADA
Al�m de Bertioga, a mais afetada das nove cidades que comp�em o litoral sul, Santos, S�o Vicente, Praia Grande, Guaruj�, Mongagu�, Itanha�m, Peru�be e Cubat�o tamb�m registram diversas ruas alagadas, quedas de �rvores, falta de energia e interrup��o da travessia de balsas, al�m de ve�culos submersos.
Em Guaruj�, foram 395 mm de chuvas, superior � m�dia estimada para todo o m�s de fevereiro, que era de 234 mm.
Consideradas as �ltimas 72 horas, o volume � de 405 mm, superando at� mesmo a registrada em 3 mar�o de 2020, que culminou com deslizamentos de terra que vitimaram 45 pessoas no litoral -23 delas na Barreira do Jo�o Guarda, comunidade local. Na trag�dia, foram 282 mm em 24 horas.
Al�m de Bertioga, com 683 mm, as chuvas passaram de 600 mm em apenas 24 horas em S�o Sebasti�o (627 mm), mas foram muito intensas tamb�m em outras cidades como Ilhabela (337 mm), Ubatuba (335 mm), Santos (232 mm) e Praia Grande (209 mm).