
Boldrini foi condenado nesta quinta (23) a uma pena total de 31 anos e 8 meses de reclus�o pelos crimes de homic�dio quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo f�til, emprego de veneno e dissimula��o) e falsidade ideol�gica. Ele foi absolvido do crime de oculta��o de cad�ver.
O Conselho de Senten�a foi formado por sete jurados, seis homens e uma mulher. Eles se reuniram no sal�o do j�ri depois de ouvir os argumentos finais do Minist�rio P�blico e da defesa de Boldrini, e, por volta das 19 horas, a ju�za Sucilene Engler Audino anunciou o resultado.
O pai foi apontado pelo Minist�rio P�blico como o mentor intelectual do plano que levou � morte do filho. Ele nega.
Foram quatro dias de julgamento. Boldrini j� havia sido condenado em 2019 a 33 anos e 8 meses de pris�o em regime fechado por homic�dio qualificado, oculta��o de cad�ver e falsidade ideol�gica. Por�m a decis�o foi anulada em 2021 por entendimento dos desembargadores do Tribunal de Justi�a do Rio Grande do Sul de que houve irregularidades no interrogat�rio de Boldrini pela Promotoria, que teria feito perguntas e afirma��es sobre o r�u mesmo ele optando por ficar em sil�ncio.
O novo julgamento, iniciado na segunda-feira (20), teve tr�s dias de depoimentos de testemunhas de acusa��o e de defesa. O primeiro dia foi marcado pela exibi��o dos v�deos recuperados pela per�cia do celular de Boldrini, em que Bernardo � filmado pelo pai pedindo socorro ap�s uma briga, e �udios de liga��es interceptadas pela pol�cia posteriores ao desaparecimento do menino. Em um deles, ao discutir com um tio materno de Bernardo, Boldrini afirma ter certeza de que a esposa havia voltado para casa com menino, ocasi�o em que ele foi assassinado.
Entre as testemunhas de acusa��o, depuseram as delegadas envolvidas no caso, que apontaram o comportamento de Boldrini posterior ao desaparecimento como estranho a quem havia perdido o filho e preocupado mais com a sua defesa do que com a morte do menino ap�s o aparecimento do corpo. Em seu depoimento, a psic�loga de Bernardo, Ariane Schmitt, definiu o menino como "�rf�o de pai vivo", e relatou ocasi�es em que Bernardo chegou �s sess�es sozinho, dopado e com sinais de pneumonia.
As testemunhas de defesa de Boldrini deram depoimentos de que nunca haviam presenciado agress�es do pai ao filho e de que os problemas teriam come�ado somente a partir do casamento dele com Graciele. A �ltima testemunha foi o primo de Boldrini, Andrigo Rebelato, que relatou conversas posteriores ao crime em que Boldrini havia afirmado ser inocente e pedido ajuda.
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Boldrini, assim como em 2019, n�o foi interrogado. Desta vez, alegou n�o ter condi��es de sa�de.
Bernardo foi encontrado morto ap�s ficar dez dias desaparecido. Seu corpo estava num matagal, dentro de um saco, enterrado em Frederico Westphalen (RS). Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, esposa de dele e madrasta de Bernardo, Edelv�nia Wirganovicz, amiga de Graciele, e Evandro Wirganovicz, irm�o de Edelv�nia, foram condenados pelo crime em 2019.
No entendimento do j�ri de 2019, Graciele, com o aux�lio de Edelv�nia, matou Bernardo com uma inje��o de uma superdosagem de um medicamento para dormir. As duas depois enterraram o corpo do menino em um matagal do munic�pio vizinho. Evandro, por sua vez, foi condenado por ter ajudado a cavar a vala em que Bernardo foi enterrado dias depois. O pai teria sido o mentor do crime ao lado da esposa.
Desta vez, a defesa de Boldrini foi feita pelos advogados Ezequiel Vetoretti e Rodrigo Grecell� Vares. Eles argumentaram que o cliente seria um "um pai ausente, que trabalhava demais", mas n�o teria envolvimento na morte do filho. Disseram ainda que n�o havia "prova cabal" do envolvimento de Boldrini, dado que o laudo pericial sobre a assinatura de Boldrini na receita m�dica do medicamento introjetado em Bernardo foi inconclusivo.
Prevaleceu, todavia, a tese do Minist�rio P�blico de que Boldrini teve, sim, envolvimento direto na morte do menino. Os promotores L�cia Helena Callegari e Miguel Germano Podanosche defenderam que Boldrini teria dado a receita do medicamento usado para dopar o menino e que ele teria apagado os v�deos do telefone celular em Bernardo pedia socorro, posteriormente recuperados pela per�cia.
O comportamento de Boldrini ao longo dos dias em que o filho esteve desaparecido tamb�m foi usado para refor�ar a tese de que o pai n�o havia se esfor�ado em procurar o filho por supostamente j� saber que ele estaria morto.
A m�e de Bernardo, Odilaine Uglione, morreu em 2010. O pai se casou novamente com Graciele, com quem teve uma filha. Em 2013, o menino procurou ajuda, por conta pr�pria, no Centro de Defesa dos Direitos da Crian�a e do Adolescente de Tr�s Passos, o que levou o Minist�rio P�blico a ajuizar uma medida protetiva. O menino pedia mais aten��o do pai e permiss�o para brincar com a irm�, o que seria proibido por Graciele.
A av� de Bernardo, m�e de Odilaine, chegou a formalizar um pedido de guarda do neto, mas, em janeiro de 2014, Boldrini pediu ao Juizado da Inf�ncia e da Juventude uma chance de reaproxima��o com o filho. Pai e filho teriam uma nova audi�ncia marcada para 14 de maio, cerca de um m�s ap�s o assassinato.
Graciele foi condenada a 34 anos e sete meses de reclus�o em regime inicial fechado, com previs�o de progress�o de regime em 2026. Edelv�nia foi condenada a 22 anos e 10 meses de reclus�o, mas obteve direito a cumprir pena em regime semiaberto em maio do ano passado. O irm�o de Edelv�nia, Evandro, foi condenado a nove anos e seis meses em regime semiaberto e est� em liberdade condicional.
Apesar da anula��o do j�ri de 2019, Boldrini teve a pris�o preventiva mantida. O �ltimo recurso pedindo a sua liberdade foi negado pelo STJ (Superior Tribunal de Justi�a) em dezembro de 2022, e ele seguiu na Penitenci�ria de Alta Seguran�a de Charqueadas (RS), onde deve seguir o cumprimento da pena.