(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas TR�S ANOS DEPOIS

Brasil atinge 700 mil mortes por Covid com mudan�a no perfil de v�timas

Maior propor��o de �bitos agora � de pessoas com mais de 80 e imunossuprimidas; levantamento da Fiocruz refor�a risco maior entre n�o vacinados


28/03/2023 15:19 - atualizado 28/03/2023 16:49

Vacina
Brasil chega � triste marca de 700 mil �bitos por Covid (foto: Divulga��o/Cremerj)
BELO HORIZONTE, MG E S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Tr�s anos depois da primeira morte por Covid no pa�s, o Brasil chega � triste marca de 700 mil �bitos pela doen�a com um cen�rio marcado por paradoxos.

Ao mesmo tempo em que a pandemia teve uma desacelera��o recente devido ao avan�o na vacina��o, o pa�s ainda enfrenta desafios como a baixa cobertura vacinal contra a Covid em algumas faixas et�rias, como crian�as menores de cinco anos.

Entremeado por hist�rias de vidas perdidas, o marco de 700 mil mortes tamb�m vem acompanhado de uma mudan�a no perfil da mortalidade pela doen�a em compara��o a outros per�odos -com maior propor��o de �bitos agora em pessoas acima de 80 anos e imunossuprimidas, por exemplo.

Levantamento do InfoGripe, sistema da Fiocruz que acompanha registros de s�ndromes respirat�rias graves, incluindo a Covid, tamb�m aponta mortalidade at� tr�s vezes maior por Covid em pessoas n�o vacinadas em compara��o �quelas que receberam doses.

Para especialistas, a vacina��o � o ponto-chave para explicar o cen�rio de desacelera��o da pandemia nos �ltimos meses.

Exemplo disso est� nos marcos anteriores da epidemia no pa�s.

Da primeira morte por Covid no Brasil, em mar�o de 2020, at� o registro de 100 mil mortes pela doen�a, em agosto de 2020, passaram-se quase cinco meses. Os demais registros (de 200 mil, 300 mil at� 600 mil mortes) ocorreram todos em 2021, sendo dois deles com intervalos de pouco mais de um m�s. Desta vez, o pa�s levou mais de um ano e cinco meses para a marca de 700 mil mortes.

O total consolida o Brasil como o segundo pa�s em �bitos acumulados pela Covid, atr�s apenas dos Estados Unidos.

Na pr�tica, � como se a popula��o de uma capital inteira, como Aracaju, tivesse sumido do mapa pouco a pouco nos �ltimos tr�s anos. O total de v�timas da doen�a tamb�m � equivalente � popula��o, somada, de 337 munic�pios entre aqueles de menor porte.

"� o que chamamos de mortes evit�veis", afirma Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, para quem o n�mero de mortes poderia ter sido menor se o pa�s tivesse adotado pol�ticas de controle mais cedo.

"Poder�amos, por exemplo, ter tido uma vacina��o mais r�pida e efetiva, com comunica��o mais adequada com a popula��o, sem discuss�es desnecess�rias e ru�dos que trouxeram d�vidas e levaram diversas pessoas a n�o se vacinarem."

Apesar desse atraso e desafios persistentes, a vacina��o passou a ter avan�os no segundo semestre de 2021 e, desde ent�o, j� traz mudan�as no perfil de mortalidade pela doen�a.

Um exemplo s�o os dados da propor��o de mortes por Covid entre as diferentes faixas et�rias.

No �ltimo trimestre de 2020, antes do in�cio da vacina��o, a faixa de 60 a 79 anos respondia pela maior propor��o de mortes pela doen�a (50%), segundo dados do Sistema de Informa��o da Vigil�ncia Epidemiol�gica da Gripe (Sivep-Gripe).

A popula��o de mais de 80 anos aparecia em segundo lugar, com 29%, e a de 45 a 59 anos, em terceiro, com 15%.

No segundo trimestre de 2021, com a vacina��o j� em andamento, caiu a propor��o de v�timas tanto de 60 a 79 anos (43%) quanto de mais de 80 anos (13%). A de 45 a 59 anos, por outro lado, subiu (30%).

J� neste primeiro trimestre de 2023, a maior propor��o de �bitos � registrada em pessoas acima de 80 anos (43%), seguida pela faixa de 60 a 79 anos (42%). A de 49 a 59 anos responde por 9%.

"� medida que a vacina��o foi avan�ando, observamos uma redu��o geral no risco [de morte] para todas as faixas et�rias, mas para jovens adultos essa diminui��o foi muito maior do que para os idosos", diz Gomes.

O motivo � a resposta vacinal menor entre os mais idosos -fen�meno chamado de imunossenesc�ncia, quando h� um decl�nio natural do sistema imunol�gico pelo envelhecimento.

Dados de boletim do Minist�rio da Sa�de mostram ainda que, das mortes registradas por Covid em 2022, 66,5% eram de pessoas que tinham comorbidades, a maioria tamb�m idosos.

"O que a gente observa claramente depois que uma grande parcela da popula��o mundial foi imunizada � que a Covid se concentra nos grupos mais vulner�veis. Quem s�o? As pessoas n�o vacinadas e, no Brasil, especialmente crian�as", diz o infectologista Julio Croda, professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). "E outro grupo s�o pessoas que n�o respondem bem � vacina porque essa prote��o n�o dura muito tempo, que s�o idosos e imunossuprimidos."

"A Covid-19, agora em 2023, � uma doen�a completamente diferente de quando a conhecemos em 2020. Naquela �poca, tive pacientes com menos de 40 anos que, mesmo sem comorbidades, evolu�ram para �bitos", relata Alexandre Naime, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

"Com a vacina��o, hoje os quadros graves que evoluem para �bito s�o de pessoas que t�m algum preju�zo na resposta imune, como pessoas de extremos de idade e imunossuprimidas", completa ele.

Outro grupo que registrou aumento na propor��o de mortes por Covid foi o de menores de cinco anos, reflexo da baixa cobertura vacinal.

"� preocupante", aponta a m�dica e pesquisadora F�tima Marinho, consultora s�nior da Vital Strategies, que lembra ainda que h� subnotifica��o.

Dados do Minist�rio da Sa�de apontam que apenas 48% das crian�as de at� 11 anos receberam a primeira dose de vacina contra a Covid. Al�m disso, s� 33% tomaram a segunda.

Para Marinho, � preciso refor�ar estrat�gias para recuperar o est�mulo � vacina��o. "Se n�o reverter essa baixa cobertura, isso vai afetar muito as crian�as, porque j� s�o mais suscet�veis a doen�as respirat�rias."

J� para idosos, especialistas dizem que uma estrat�gia seria, al�m de refor�ar a prote��o com a vacina bivalente, aumentar a oferta de tratamento antiviral.

Em novembro, o SUS decidiu incorporar na rede o Paxlovid, associa��o entre os antivirais nirmatrelvir, ritonavir e aprovado pela Anvisa para tratamento de casos leves e moderados em pacientes com maior risco de hospitaliza��o. A rede de sa�de tamb�m possui outras op��es, como o baracetinib, indicado para casos graves.

A prescri��o, sobretudo para o Paxlovid, por�m, ainda � baixa, diz Naime. "Muitas vezes os m�dicos nem sabem que os medicamentos est�o dispon�veis. Depois acabamos internando o paciente com Covid grave."

Segundo o Minist�rio da Sa�de, cerca de 50 mil tratamentos do Paxlovid foram distribu�dos aos estados para serem utilizados nos casos indicados. Quantidade equivalente ainda deve ser distribu�da, informa.

Em nota, a pasta alerta ainda que, para que a tend�ncia de queda de mortes por Covid se mantenha, � necess�rio que a popula��o se vacine e complete o esquema vacinal com todas as doses recomendadas.

Desde o fim de fevereiro, o governo realiza uma campanha com a vacina bivalente, que protege tamb�m contra a variante �micron e subvariantes. A ideia � que sejam vacinados grupos mais vulner�veis, como idosos, pessoas imunocomprometidas, gestantes, entre outros.

A medida ocorre em um momento em que dados recentes do InfoGripe, contabilizados at� 13 de mar�o, apontavam tend�ncia de aumento de casos, cen�rio que, segundo Gomes, deve se repetir agora em diferentes momentos.

"V�nhamos com tend�ncia de queda, mas j� come�amos a observar uma tend�ncia de revers�o." Segundo ele, o Carnaval pode ter contribu�do, mas n�o deve ser o �nico fator. "Nossa hip�tese � que isso seja decorr�ncia do ciclo natural da doen�a", diz o pesquisador, segundo quem um poss�vel padr�o sazonal ainda n�o est� bem definido.

Recentemente, a OMS (Organiza��o Mundial da Sa�de) chegou a reunir especialistas para discutir a possibilidade de rever o status de emerg�ncia global em sa�de pela Covid. O grupo, por�m, decidiu que era cedo para isso.

Para Croda, os dados mostram que a Covid pode estar no caminho para se tornar end�mica, mas ainda � preciso observar mais o cen�rio. A doen�a tamb�m tem mostrado novo perfil.

"O que mudou � que est� se tornando mais leve de forma geral. Os sintomas s�o mais brandos, porque a popula��o adquiriu algum tipo de imunidade, e isso de alguma forma impacta na apresenta��o cl�nica. Antes a gente tinha muita falta de ar. Agora vemos mais pacientes em leitos de enfermaria, n�o necessariamente em leitos de terapia intensiva", diz.

"Talvez, no futuro, se o v�rus se tornar sazonal, e respeitar um per�odo de maior ocorr�ncia, como o inverno, possamos aplicar a vacina no mesmo per�odo para a popula��o."

As incertezas sobre o futuro da doen�a refor�am a import�ncia de pol�ticas de vacina��o e prote��o.

"A Covid n�o deixou de ser um problema importante s� porque [o n�mero de mortes] diminuiu em rela��o � cat�strofe dos anos anteriores", afirma Gomes. "Ainda s�o valores expressivos, e � uma das principais causas de mortes."


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)