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Estado de Minas TRANSPORTE

A megaestrada que ligar� Brasil e Chile cruzando 'inferno verde' no Paraguai

A rodovia cruzar� as regi�es do Mato Grosso do Sul no Brasil, Gran Chaco no Paraguai, as prov�ncias de Salta e Jujuy na Argentina e as regi�es de Antofagasta e Tarapac� no Chile.


23/04/2023 06:26 - atualizado 23/04/2023 08:26


Egon Neufeld em sua propriedade rural
Egon Neufeld � um empres�rio menonita que trabalha na regi�o do Gran Chaco (foto: BBC)

"� um novo Canal do Panam�". � assim que Egon Neufeld descreve o corredor bioce�nico, um gigantesco projeto de infraestrutura que tentar� ligar a costa do oceano Pac�fico no Chile com a costa atl�ntica no Brasil.

Neufeld, um rico propriet�rio de vastas terras no Paraguai, diz que a rodovia – que ter� cerca de 2.200 quil�metros e cortar� Argentina, Brasil, Chile e Paraguai – facilitar� a vida dos fazendeiros e camponeses da regi�o no transporte de gado e na exporta��o de produtos de exporta��o aos portos que est�o no Atl�ntico e no Pac�fico.

Os governos de cada um dos pa�ses envolvidos no projeto manifestaram apoio, mas o presidente paraguaio, Mario Abdo, foi um de seus principais impulsores.

"O Paraguai � o quarto maior exportador de soja do mundo. Para que a soja chegue ao Oceano Pac�fico � preciso passar pelo Canal do Panam�. Com a nova rodovia pronta, haver� uma economia para todo o setor produtivo em cerca de 25% nos custos de log�stica", disse entusiasmado o presidente � BBC.

Cerca de 525 quil�metros dessa nova rodovia passam pela regi�o conhecida como Gran Chaco, uma das principais reservas ambientais do pa�s, povoada por cerrados e zonas �midas.

� o lar de on�as, on�as-pardas, tamandu�s e milhares de esp�cies de plantas, um dos lugares de maior biodiversidade do planeta.


Estrada do Gran Chaco
O Gran Chaco paraguaio � uma �rea in�spita para muitos dos habitantes do pa�s (foto: Getty Images)

Esse lugar nem sempre foi amado por aqueles que quiseram se estabelecer nessas terras.

Quando os menonitas, uma comunidade crist� protestante, desembarcaram ali no in�cio do s�culo 20, eles o chamaram de "inferno verde".

O av� de Neufeld foi um dos menonitas que se estabeleceram no Chaco em 1930, depois de escapar da persegui��o na Ucr�nia.

Quase 100 anos depois, seu neto continua lutando contra o ambiente hostil.


Gráfico sobre a megaestrada
(foto: BBC)

O que � o corredor bioce�nico?

O corredor bioce�nico � um projeto de infraestrutura desenvolvido desde 2015 pelos governos da Argentina, Brasil, Paraguai e Chile para ligar quatro portos localizados no Oceano Pac�fico – sendo eles Antofagasta, Mejillones, Tocopilla e Iquique – ao porto da cidade brasileira de Santos.

Estima-se que a rodovia ter� cerca de 2.200 quil�metros de extens�o e o custo aproximado do investimento total � de US$ 10 bilh�es.

A rodovia cruzar� as regi�es do Mato Grosso do Sul no Brasil, Gran Chaco no Paraguai, as prov�ncias de Salta e Jujuy na Argentina e as regi�es de Antofagasta e Tarapac� no Chile.

Cada pa�s tem a responsabilidade de cumprir alguns trechos e prazos, por�m n�o est� claro qual � o prazo final para a conclus�o do projeto.

De fato, em janeiro deste ano, os presidentes do Brasil e do Chile, Lula e Gabriel Boric, confirmaram que iriam acelerar a constru��o dos trechos que correspondem aos seus territ�rios.

Talvez um dos pa�ses que est� mais avan�ado na execu��o dos projetos seja o Paraguai, que j� tem um dos tr�s trechos de seu territ�rio pronto.

"O trecho um do corredor bioce�nico, que est� pronto, j� permitiu um acesso muito mais f�cil para os com�rcios, porque antes a estrada era de terra e quando chovia era dif�cil transitar. Agora voc� pode chegar facilmente �s diferentes cidades menonitas e suas col�nias", disse � BBC o engenheiro Alfredo S�nchez, porta-voz do governo para a quest�o do corredor.


Animal na floresta do Chaco
A floresta do Chaco � o segundo maior ecossistema da Am�rica Latina e se estende pela Argentina, Brasil e Bol�via (foto: Getty Images)

“Para n�s, o maior problema � que temos que retirar o mato dos campos. Se voc� n�o cuidar, esse mato volta e toma conta de tudo”, explicou.

Para Neufeld, a rodovia dar� mais oportunidades de trabalho que atrair�o pessoas de outras partes do Paraguai.

Sua comunidade conseguiu se estabelecer com sucesso em algumas se��es do "inferno verde", especialmente eles conseguiram construir uma lucrativa ind�stria de gado e latic�nios, que agora s�o transportados em caminh�es 4x4 e n�o em carro�as puxadas por cavalos como em outras comunidades

Mas o que para alguns � atrativo, para outros � preocupante.

Taguide Picanerai, um jovem l�der da comunidade ind�gena Ayoreo, uma das primeiras a habitar o Chaco, a comunidade j� est� sofrendo os efeitos do desmatamento, porque milhares de �rvores foram derrubadas em raz�o da pecu�ria.

Cerca de 20% da floresta do Gran Chaco, o equivalente � �rea do estado de Nova York, foi convertida em terras para pastagem de gado e produ��o agroindustrial desde 1985, segundo fotografias de sat�lite da NASA.


Criação de gado no Gran Chaco
O Gran Chaco � uma regi�o de explora��o agr�cola (foto: Getty Images)

“A nova rodovia vai significar mais cria��o de gado, o que leva a uma grande perda de biodiversidade”, diz Picanerai, acrescentando que tamb�m est� preocupado com a perda de territ�rio dos Ayoreo.

Ele explica que no passado os produtores se mudaram para os territ�rios ancestrais dos Ayoreo, impediram o acesso � �gua e restringiram o espa�o de ca�a para as comunidades ind�genas.

A vida dos Ayoreo mudou significativamente em apenas uma gera��o. Os pais de Picanerai viviam na floresta impenetr�vel, onde ca�avam javalis e tartarugas.

A comunidade foi convencida por mission�rios americanos que vieram para o Paraguai na d�cada de 1960 a abandonar a vida de ca�adores, vestir roupas e se estabelecer com outras comunidades ind�genas.

E grande parte de suas terras foi vendida a fazendeiros e pecuaristas, o que levou a batalhas legais de anos para recuperar parte dessas terras para que a comunidade pudesse se restabelecer.

"Esse territ�rio � vital para n�s", declarou Picanerai.

A amea�a ambiental

O presidente Abdo reconhece que a nova rodovia “aumentar� a popula��o no Chaco” e gerar� “mais atividade comercial”. Mas ele acredita que, desde que as leis sejam cumpridas, o impacto ser� positivo.

Ele disse � BBC que j� existiam regras r�gidas para os propriet�rios de terras, incluindo uma cl�usula que estipulava que "o m�ximo que as pessoas podem desmatar no Chaco � 50% de seu latif�ndio, e menos se a biodiversidade da �rea for considerada mais delicada”.

Para o ambientalista Miguel Lovera, essas medidas n�o s�o suficientes.

“A constru��o de novas estradas leva a um maior desmatamento e derrubada de florestas em pequenos trechos, o que coloca uma enorme press�o sobre o fr�gil ecossistema”, disse Lovera, que dirige uma organiza��o que luta pela prote��o de grupos ind�genas no Chaco.

Por outro lado, para Bianca Orqueda, jovem cantora e compositora do grupo ind�gena Nivacl�, a estrada tem alguns aspectos positivos.

Orqueda, que dirige uma escola de m�sica infantil na periferia da cidade menonita de Filadelfia, divide seu tempo entre sua comunidade e a capital do Paraguai, Assun��o.

E a rodovia a ajudar� a encurtar os tempos de viagem.

Ela n�o est� convencida de que seja poss�vel que sua comunidade continue vivendo isolada, acrescentando que os Nivacl� precisam "progresir", o que para alguns pode significar deixar o Chaco e seu modo de vida para tr�s.

"Eu digo �s crian�as que, se quiserem ser m�dicas, arquitetas, dentistas ou musicistas, ter�o que sair assim que terminarem a escola e irem para outra cidade."

"Aqui na Filad�lfia n�o h� universidades, n�o h� nada a menos que voc� queira ir para a agricultura", disse Orqueda.

Para Picanerai, a conserva��o do Chaco � mais do que apenas o modo de vida de sua comunidade ind�gena.

“A rica biodiversidade do Chaco significa que � um problema global que deveria preocupar a todos”, comentou ele, acrescentando que est� determinado a proteger sua terra dos rec�m-chegados que se mudarem para a regi�o ap�s o fim das obras da nova rodovia.


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