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Estado de Minas BRASIL

Fam�lia mora h� mais de 100 anos em casa que agora � espremida por pr�dios

Sobrado de Therezinha Lima, de 90 anos, estampa conflito da verticaliza��o na maior cidade brasileira


03/07/2023 14:36 - atualizado 03/07/2023 14:36
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Fotomontagem destaca sobrado no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, cercado por prédios
A casa de Therezinha Eug�nia, 90, ficou cercada por pr�dios na Vila Mariana, em S�o Paulo (foto: BBC)
Therezinha Eug�nia Pinheiro Lima, de 90 anos, mora h� 70 deles em um sobrado na Vila Mariana, bairro de classe m�dia no centro-sul da capital paulista.

Antes dela, o im�vel pertenceu aos av�s paternos de Maria Ang�lica e Adriana, as filhas de dona Therezinha, de modo que a casa guarda mem�rias da fam�lia h� mais de um s�culo.

 

Nos �ltimos anos, no entanto, Therezinha e as filhas viram todos os antigos vizinhos irem embora, a maioria das casas do entorno serem demolidas e torres de apartamentos do tipo est�dio, com unidades de 16 a 33 m², serem erguidas atr�s, � direita e � esquerda do im�vel.

 

Agora, o sobrado � um ponto sem sol, espremido pelos pr�dios.

"Das janelas dos apartamentos, jogam de tudo. J� jogaram absorvente, bituca de cigarro, embalagem de sabonete e de comida, garrafas", conta Adriana, sobre o que j� recolheu de seu quintal.

 

Casos do tipo se multiplicam em S�o Paulo e urbanistas avaliam que devem se tornar ainda mais frequentes com a revis�o do Plano Diretor Estrat�gico do munic�pio, aprovada na C�mara de vereadores ao fim de junho (veja detalhes do projeto abaixo).

 

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O relator da proposta, que expande os eixos de verticaliza��o na cidade, discorda dessa avalia��o e diz que construir para o alto � a chance de S�o Paulo ampliar a ocupa��o nos bairros centrais e cumprir a promessa de ampliar a habita��o para baixa renda nas �reas mais bem servidas de transporte.

Ass�dio imobili�rio

"Com a gente, [a abordagem dos corretores] come�ou em 2010, mas a gente nem acreditava. A gente ria, e pensava: 'Quem vai vender aqui? O seu P�ssaro [um vizinho de longa data] vai vender? Imagina... Ningu�m aqui vai vender'", lembra Maria Ang�lica, de 43 anos e nutricionista.

 

"E as abordagens nunca s�o feitas de forma amig�vel, � sempre na base da amea�a. Eles diziam: 'Se voc� n�o vender, vai ficar no meio dos pr�dios, n�o vai ter sol. N�s vamos construir o pr�dio do mesmo jeito e a�, l� de cima, v�o jogar de tudo'", conta Adriana, de 55 anos.

 

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A corretora chegou a ficar meses com o carro parado na porta da casa, lembra a tamb�m nutricionista.

 

"Minha m�e n�o conseguia p�r a chave no port�o, que ela [a corretora imobili�ria] vinha: 'Oi, tudo bem? Posso entrar?'. Quando ouvia que n�o, a conversa mudava de tom: 'Depois que a gente construir, voc� n�o vai vender essa casa nunca mais. Nunca ningu�m vai querer essa casa, ent�o acho melhor voc� vender'", diz Adriana, lembrando das conversas com a corretora.


Therezinha Eugênia Pinheiro Lima, uma senhora idosa, sentada num sofá com roupas de inverno
Therezinha Eug�nia, de 90 anos, mora h� 70 deles em sobrado na Vila Mariana (foto: Vitor Serrano/BBC)

 

As demoli��es das casas vizinhas come�aram por volta de 2015, contam as irm�s.

"Voc� s� se d� conta do que est� acontecendo quando chegam os carros de mudan�a", diz Adriana.

 

"� uma coisa que d�i na alma, porque ali era a casa do seu P�ssaro, a outra era a casa do Malandrino, e eu brincava com os filhos dele. Mas a verdade � que a demoli��o, de todo o processo, � a parte menos traum�tica", acrescenta a irm� mais velha.

 

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As obras come�aram por volta de 2018, segundo as irm�s, e a fam�lia passou a conviver com o barulho ininterrupto das estacas, entrega de material de constru��o na madrugada e o tr�fego de caminh�es, que por mais de uma vez destruiu a cal�ada da casa.

 

Junto a isso, vieram os abalos na estrutura do im�vel, que sofreu com rachaduras e infiltra��es, segundo as irm�s, nunca devidamente compensadas pela construtora.

"Eles n�o se responsabilizam por nada e, quando voc� reclama, de novo, voc� escuta assim: 'Est� vendo? Por que voc� n�o vendeu?'", conta Adriana.

 

Questionada sobre os problemas apontados pela fam�lia durante as obras, a incorporadora Vitacon, respons�vel por dois dos pr�dios vizinhos � casa, informou que "apura os referidos relatos e est� � disposi��o para poss�veis esclarecimentos".

 

Conforme o C�digo Civil, quando uma constru��o provoca estragos em um im�vel vizinho, cabe ao respons�vel pela obra arcar com os custos de reparo, desde que comprovado o v�nculo de causa e efeito.


Guindaste ao lado da casa durante obra de um dos prédios do entorno
Guindaste ao lado da casa durante obra de um dos pr�dios do entorno (foto: Arquivo pessoal)

Novos vizinhos

Os transtornos, no entanto, n�o terminaram com as obras. Depois vieram os novos vizinhos, principalmente estudantes universit�rios, ou pessoas de passagem, que alugam os pequenos apartamentos vendidos "para investimento", com ganhos por meio de servi�os como o Airbnb, de aluguel por temporada. Barulho e lixo jogado pela janela tornaram-se problemas frequentes.

 

Com rela��o ao barulho, o principal problema s�o as festas que, realizadas nos apartamentos min�sculos, tomam as varandas, com conversa e m�sica alta at� a madrugada, contam as irm�s.

 

Reclamar � dif�cil, diz Adriana, pois alguns dos novos pr�dios n�o t�m porteiro, apenas portaria eletr�nica com um profissional que fica em outro lugar e diz que n�o pode fazer nada sem saber o n�mero exato do apartamento que est� incomodando. A pol�cia tamb�m, quando chamada, muitas vezes n�o faz nada, afirmam as vizinhas.

 

Outro problema frequente s�o os carros que param na frente da casa, bloqueando o carro da fam�lia.

 

Com dona Therezinha aos seus 90 anos, as irm�s se preocupam se isso um dia ocorrer em alguma situa��o de emerg�ncia. "Voc� reclama e ningu�m est� nem a�, chama a CET [Companhia de Engenharia de Tr�fego] e nada acontece", diz Adriana, expressando sua sensa��o de impot�ncia.

 

Apesar de todos os novos problemas, a fam�lia n�o pensa em vender a casa.

'N�o � resistir'

Segundo as irm�s, a decis�o da fam�lia de ficar n�o � nenhum movimento de resist�ncia.

 

"N�o � resistir. Quando se fala dessa forma, d� a impress�o que eles fazem uma proposta muito boa e que a pessoa est� resistindo diante de uma oferta irrecus�vel. Mas n�o � isso, a proposta � uma porcaria. Com o que eles ofereceram, n�o poder�amos comprar uma casa de padr�o similar em lugar nenhum", diz Maria Ang�lica.

 

"E n�o � que a gente n�o quis de forma alguma. Tivemos uma conversa com a mam�e, explicamos a ela o que poderia acontecer, como a casa ia ficar", lembra Adriana. "Foi uma op��o dela, ela at� se emocionou um dia, dizendo: 'Eu n�o quero sair da minha casa'. E n�s respeitamos essa decis�o."


A casa de Therezinha em meio aos prédios, em imagem de satélite
A casa de Therezinha em meio aos pr�dios, em imagem de sat�lite (foto: Google Earth)

Cercados

A cerca de 7 km da casa de Therezinha, no bairro de Pinheiros, zona oeste de S�o Paulo, os s�cios em um neg�cio de arquitetura e decora��o de interiores, Roberto Cimino e Nelson Amorim, vivem hist�ria similar, mas a encaram como uma jornada de fidelidade a seus princ�pios.

 

A casa e escrit�rio dos dois na Rua Francisco Leit�o � a �ltima em p�, de um conjunto de quatro casinhas geminadas, demolidas para dar lugar a um empreendimento imobili�rio.

 

Al�m das tr�s casinhas geminadas, outros quatro sobrados do entorno tamb�m vieram abaixo, deixando a �ltima casa restante cercada pelo canteiro de obras.

Roberto e Nelson moraram e trabalharam na casa da Francisco Leit�o desde 2012 e, ao contr�rio da fam�lia da Vila Mariana, veem a escolha de n�o vender como um ato de resist�ncia.

 

"N�s transformamos esse im�vel, fizemos uma bela reforma nele e ficou extremamente aconchegante", conta Roberto. "Ent�o ficamos esse per�odo todo, at� que chegou essa condi��o de explora��o imobili�ria. Eles j� estavam cercando h� muitos anos esse local, foram conseguindo a compra de um e de outro, at� que chegou a nossa vez."

 

Para os decoradores, uma s�rie de fatores pesaram na escolha de n�o vender: o apego que tinham pelo local, o fato de que em um dos lados da casa ser� constru�da uma �rea verde e, como no caso da fam�lia de Therezinha, o valor considerado muito baixo para a compra do im�vel.

 

"Eles ofereceram em troca do que era nosso escrit�rio, nossa base, o que oferecem no mercado: apartamentos de 30, 28, 18, 14 m². Na contram�o do que n�s, como profissionais, com a vis�o que temos do ser humano habitar um espa�o f�sico, acreditamos", diz Roberto.


Nelson Amorim e Roberto Cimino, dois homens de meia-idade, olham para a câmera
'Eles j� estavam cercando h� muitos anos, foram conseguindo a compra de um e de outro, at� que chegou nossa vez', diz Roberto Cimino (dir.), ao lado do s�cio Nelson Amorim (foto: Arquivo pessoal)

Abalo estrutural e nova demoli��o

Decididos a n�o vender, os dois permaneceram na casa durante o processo de demoli��o dos vizinhos e constru��o e posterior demoli��o do estande de vendas. A situa��o se complicou, por�m, na etapa de corte do terreno para constru��o das garagens subterr�neas e da funda��o.

 

"Nossa casa, por ser dos anos 1940, n�o tem estrutura convencional de concreto com alvenaria, ela � pura alvenaria, se suporta de um tijolo em cima do outro. Ent�o, mesmo com todos os cuidados corretos de constru��o, a casa foi abalada", conta Roberto.


A casa de Roberto e Nelson em junho de 2023
A casa de Roberto e Nelson em junho de 2023, j� com a obra do pr�dio avan�ada (foto: Vitor Serrano/BBC)

 

Diante do abalo estrutural, a dupla deixou o im�vel e foi morar temporariamente num sobrado em uma vila pr�xima � Livraria Travessa de Pinheiros.

 

"Ficamos ali um ano, at� mar�o ou abril deste ano, porque a vilinha tamb�m foi demolida", conta Nelson, num exemplo pr�tico da velocidade do avan�o imobili�rio em Pinheiros e outros bairros tradicionais de S�o Paulo.

Expulsos pela segunda vez em meio � verticaliza��o acelerada, os arquitetos moram e trabalham agora num apartamento em Pinheiros. Ap�s embates com a incorporadora You,Inc sobre compensa��es pela reforma da casa e pelo aluguel tempor�rio, chegaram a um acordo que consideram satisfat�rio.

 

Procurada para comentar o caso, a You,Inc afirmou em nota: "Referente � obra na Rua Francisco Leit�o, a empresa sempre esteve � disposi��o do entorno, com objetivo de inibir transtornos aos moradores. As partes entraram em acordo e todas as provid�ncias est�o sendo tomadas."

 

Mesmo ap�s o acordo, Roberto e Nelson lamentam a mudan�a acelerada do bairro.

"� uma quest�o de vis�o humanista: como fazer moradias para seres humanos dessa forma? Destruindo outros, destruindo todo um entorno e seu modo de vida", questiona Roberto. "� claro que o progresso vai levar a uma movimenta��o daquele modo de viver, mas isso deveria ser feito com mais cuidado. � assim que a gente encara. Por isso, n�s resistimos."

Vila Mariana e Pinheiros lideram demoli��es em SP

Os casos da fam�lia de Therezinha e da dupla Roberto e Nelson n�o s�o isolados, est�o acontecendo em diversos bairros de S�o Paulo, em meio ao avan�o da verticaliza��o.

 

Vila Mariana e Pinheiros s�o apenas os exemplos mais gritantes, liderando demoli��es no munic�pio, conforme dados da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento da Prefeitura de S�o Paulo.

 

Na Vila Mariana, o valor m�dio do metro quadrado � de R$ 8.504 em 2023, enquanto em Pinheiros � de R$ 10.207, segundo levantamento da Loft — a t�tulo de compara��o, o metro quadrado vale R$ 16.839 na Vila Nova Concei��o e R$ 5.046 no Sacom�, respectivamente, o bairro mais caro e o mais barato de S�o Paulo, entre 57 analisados pela startup de im�veis.

 

Somente nos �ltimos cinco anos, de 2018 a 2022, a Prefeitura concedeu 1.091 alvar�s de demoli��o na Vila Mariana e 1.063 em Pinheiros, mais do que o dobro de alvar�s concedidos na regi�o da subprefeitura de Santo Amaro (508), terceiro colocado da lista.


Gráfico de barras mostras missão de alvarás de demolição em subprefeituras selecionadas, entre 2018 e 2022
(foto: BBC)

 

Por tr�s desse avan�o das demoli��es — e, consequentemente, da constru��o de novos edif�cios — nos dois bairros, est� o Plano Diretor Estrat�gico (PDE) de S�o Paulo de 2014, aprovado durante a gest�o do ent�o prefeito Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda.

 

Nabil Bonduki, professor titular de planejamento urbano na USP (Universidade de S�o Paulo) e relator do Plano Diretor de 2014, lembra que a inten��o do plano foi estimular o adensamento populacional em torno dos eixos de transporte p�blico.

Ou seja, aumentar a quantidade de pessoas vivendo perto de esta��es de metr�, trem e corredores de �nibus, aproximando a moradia das �reas com maior oferta de empregos e diminuindo o tempo de deslocamento urbano.

 

"Foram inclu�das regras que estimulam apartamentos de menor tamanho para ter maior adensamento perto das �reas de transporte coletivo de massa, protegendo, por outro lado, os miolos de bairros", diz Bonduki, em entrevista � BBC News Brasil.

Segundo o urbanista, o objetivo foi dar maior racionalidade ao processo de verticaliza��o, antes dispersa, al�m de inibir a expans�o horizontal da cidade, com o avan�o das periferias sobre �reas verdes, em conson�ncia com as diretrizes para combate �s mudan�as clim�ticas.


Edifício em construção em meio a outros edifícios em São Paulo
Objetivo do Plano Direito de 2014 foi dar maior racionalidade ao processo de verticaliza��o, antes dispersa, al�m de inibir a expans�o horizontal da cidade, diz Nabil Bonduki (foto: Getty Images)

 

Margareth Uemura, coordenadora de urbanismo do Instituto P�lis, avalia, no entanto, que o PDE de 2014 falhou na sua inten��o de trazer a popula��o de menor renda para morar perto dos eixos de transporte. E que a verticaliza��o em curso n�o resulta necessariamente em maior adensamento.

 

"A ideia do Plano Diretor era ter apartamentos que abrigassem pessoas de rendas diversas, mas principalmente incluir a popula��o de menor renda pr�ximo aos eixos de transporte", diz Uemura.

 

Mas, ao longo dos anos, altera��es na lei — principalmente aquelas que permitiram maior n�mero de vagas de garagem — fizeram com que esses apartamentos fossem destinados a uma popula��o de renda maior, que usa o carro e n�o o transporte p�blico, e consome apartamentos maiores, afirma.

 

"Esses empreendimentos acabaram sendo feitos demolindo conjuntos de casas de moradores que j� estavam h� anos em bairros consolidados", aponta a arquiteta e urbanista.

 

"Ou seja, voc� est� substituindo uma popula��o que morava ali h� muito tempo, com seus com�rcios e servi�os, por im�veis vendidos para uma renda mais alta e monofuncionais [isto �, apenas residenciais e n�o de uso misto]", acrescenta.

 

Questionada sobre os problemas na execu��o do PDE de 2014, a Prefeitura de S�o Paulo afirmou em nota que "na capital, uma unidade de habita��o de interesse social foi licenciada, em m�dia, a cada tr�s horas pela Prefeitura nas regi�es mais bem servidas de transporte desde a aprova��o do Plano Diretor".

 

Em n�meros absolutos, foram 28,9 mil unidades licenciadas entre 2014 e 2021 e 130,9 mil unidades em Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social), informou a administra��o municipal.

Novo Plano Diretor

Bonduki e Uemura concordam na avalia��o de que a revis�o do Plano Diretor, aprovada em segunda vota��o na segunda-feira (26/6) na C�mara Municipal de S�o Paulo, n�o resolve as defici�ncias do projeto original.

 

Segundo eles, a mudan�a pode, na verdade, acentuar o conflito nos bairros, ao ampliar a �rea onde a verticaliza��o � permitida.


Manifestante em ato contra a revisão do Plano Diretor em São Paulo
Manifestante em ato contra a revis�o do Plano Diretor em S�o Paulo (foto: Paulo Pinto/Ag�ncia Brasil)

 

Pelas novas regras aprovadas, o chamado eixo de verticaliza��o — onde n�o h� limite de altura para os pr�dios — ser� expandindo dos atuais 600 m a partir de esta��es de metr� e trem e 300 m de corredores de �nibus para 700 m e 400 m, respectivamente.

 

Al�m disso, os pr�dios poder�o ter �rea constru�da maior, em rela��o ao terreno, desde que destinem parte de suas unidades � habita��o social e incluam lojas na fachada dos pr�dios e salas comerciais.

 

A nova vers�o do plano tamb�m tem regras que incentivam apartamentos maiores — numa tentativa de conter o avan�o dos microapartamentos — e com mais de uma vaga de garagem.

 

"A amplia��o da �rea de verticaliza��o descaracteriza a ideia de ter o adensamento pr�ximo ao transporte coletivo e a prote��o aos miolos de bairros", diz Bonduki.

"Da maneira como foi proposto o substitutivo, ele agrava [o conflito nos bairros], porque a verticaliza��o ser� mais permissiva", concorda Uemura.

 

O vereador Rodrigo Goulart (PSD), relator da revis�o do PDE, discorda da avalia��o dos urbanistas.

 

"A proposta apresentada por mim tem justamente o objetivo contr�rio ao de agravar o conflito nos bairros", disse Goulart por e-mail � BBC News Brasil.

 

"O PDE de 2014 n�o conseguiu atingir o seu objetivo inicial, que era levar pessoas de todas as rendas, principalmente as mais carentes, para morar perto dos eixos. Com os incentivos que estamos dando agora para HIS (Habita��o de Interesse Social) queremos justamente corrigir essa distor��o", acrescentou o vereador.

"Lamento que tais especialistas tenham essa vis�o distorcida da realidade", completou.

O texto deve ainda passar pela aprova��o do prefeito Ricardo Nunes (MDB). A permiss�o para verticalizar ser� ent�o debatida quadra a quadra na revis�o da lei de zoneamento, que tamb�m ser� analisada pela C�mara.

Individual vs. Coletivo

Para Nabil Bonduki, o conflito entre moradores de casinhas e incorporadoras e construtoras � uma parte natural do processo de transforma��o das cidades.

"Uma propriedade com baix�ssima densidade do lado de uma esta��o de metr� n�o est� cumprindo a fun��o social da propriedade", diz Bonduki. "Perder esse local pode ser algo ruim para a pessoa, mas esse � um interesse individual. Estamos falando aqui do interesse coletivo", defende.

 

J� Margareth Uemura, do Instituto P�lis, avalia que h� uma disparidade de for�as na disputa entre fam�lias e empresas e que caberia ao Estado proteger a parte mais fraca.

 

"O pequeno propriet�rio da casa fica medindo for�as com incorporadora e construtora, numa rela��o totalmente desleal. Ent�o o Estado deveria proteger esse cidad�o — n�o s� atrav�s da diretriz do Plano Diretor, mas tamb�m de todas as regras de uso e ocupa��o, porque o que vem acontecendo � que os pr�dios confinam as casas, como est�o confinando tamb�m v�rias vilas."


Adriana, Therezinha e Maria Angélica sentadas em sofá
'Ningu�m quer mexer nesse vespeiro que � o fato de as construtoras mandarem nesse pa�s', diz Maria Ang�lica (dir.), ao lado da m�e Therezinha e da irm� Adriana (foto: Vitor Serrano/BBC)

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo publicada em junho mostrou que metade das doa��es de campanha de vereadores de S�o Paulo veio de pessoas ligadas ao setor imobili�rio.

 

Os pol�ticos dizem, no entanto, que os recursos n�o interferem em sua atua��o na C�mara ou no debate sobre as mudan�as no Plano Diretor.

 

Para a fam�lia de Therezinha, h� mais de cem anos no sobrado da Vila Mariana, agora cercado por pr�dios, os moradores antigos de bairros devem ter sua escolha de permanecer respeitada.

 

"Tenho direito de decidir onde quero morar", diz Maria Ang�lica. "Ningu�m quer mexer nesse vespeiro que � o fato de as construtoras mandarem nesse pa�s."


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