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Estado de Minas PROJETO COMPROVA

Enchente foi causada por ciclone, n�o por barragens no Vale do Taquari (RS)

Autoridades afirmam que o grande volume de �gua que alagou as cidades do Vale do Taquari foi causado por eventos clim�ticos naturais


15/09/2023 14:45
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Projeto Comprova
S�o falsos os posts que alegam que as barragens do Rio Taquari, no Rio Grande do Sul, se romperam ou tiveram suas comportas abertas (foto: Projeto Comprova/Reprodu��o)
Conte�do investigado: V�deos e publica��es em texto que circulam nas redes sociais trazem pessoas afirmando que as enchentes em munic�pios do Rio Grande do Sul, que deixaram dezenas de mortos, foram provocadas pela abertura de comportas em represas dos rios das Antas e Taquari.

Onde foi publicado: TikTok, X (antigo Twitter), Instagram e WhatsApp.

Conclus�o do Comprova: As enchentes que devastaram cidades no Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, entre os dias 4 e 5 de setembro n�o foram causadas ou agravadas pela abertura de comportas de barragens da regi�o, diferentemente do que apontam falsamente v�deos e postagens em texto nas redes sociais e distribu�das em aplicativos de mensagem.

Segundo a Companhia Energ�tica Rio das Antas (Ceran), que administra tr�s hidrel�tricas do rio das Antas e do rio Taquari, as barragens sequer possuem comportas capazes de “segurar” a �gua represada. A Usina de Castro Alves, que fica na �rea mais afetada, n�o tem comporta nenhuma. Todas elas utilizam a for�a da correnteza do rio e a gravidade para gerar energia.

Ao Estad�o Verifica, a Ag�ncia Nacional de Energia El�trica (Aneel), respons�vel pela fiscaliza��o de gera��o hidrel�trica, refor�ou que as cheias n�o poderiam ser agravadas por conta da estrutura das barragens. A Ag�ncia Nacional de �guas (ANA) tamb�m confirmou ao ve�culo que a produ��o de energia � feita apenas com a for�a da correnteza, sem uso de comportas.

Al�m de negar ter aberto as supostas comportas, a Ceran ressaltou ainda que n�o foi registrado nenhum rompimento. “Durante as cheias monitoramos em tempo real todas as estruturas, que em nenhum momento, apresentaram anomalias que indicassem risco de rompimento, o que n�o levou ao acionamento das sirenes de emerg�ncia”, diz nota no site.

Especialistas e autoridades em meteorologia afirmam que as chuvas volumosas que causaram os alagamentos no Vale do Taquari foram provocadas por um fen�meno natural: um ciclone extratropical que se formou em um sistema de baixa press�o na regi�o e que pode ter sido agravado pelo estacionamento de uma frente com ar quente e �mido vindo da regi�o Amaz�nica.

Falso, para o Comprova, � todo conte�do inventado ou que tenha sofrido edi��es para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publica��o: O Comprova investiga os conte�dos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. At� o dia 12 de setembro, a publica��o no Instagram alcan�ava 21,8 mil curtidas e 1,4 mil coment�rios. Os posts no X somavam 210 mil visualiza��es, 10,5 mil curtidas e 4,2 mil compartilhamentos. No TikTok, at� o dia 11 de setembro, o v�deo tinha 228 mil visualiza��es. O conte�do foi exclu�do posteriormente da plataforma.

Como verificamos: O primeiro passo foi reunir informa��es sobre as enchentes no Rio Grande do Sul e fatores que causaram a trag�dia. O Comprova tamb�m buscou posicionamentos oficiais de �rg�os como o MPF, a Advocacia-Geral da Uni�o (AGU), a Aneel e a ANA. Por fim, entrou em contato com os respons�veis pelas publica��es dos conte�dos nas redes sociais.

Trag�dia foi resultado de ciclone extratropical e massa de ar quente

 
As enchentes na regi�o do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, foram resultado de um ciclone extratropical. O fen�meno, que provocou enchentes, destelhamento de casas, queda de �rvores e mortes, � causado por sistemas de baixa press�o atmosf�rica.

“Quanto mais baixa a press�o atmosf�rica, mais intensos s�o os ventos e maior � o potencial para forma��o de nuvens carregadas, que podem provocar chuva intensa”, disse o Climatempo ao Estad�o.

Em entrevista � CNN, a meteorologista Maria Clara Sassaki afirmou que a frequ�ncia de forma��o dos ciclones extratropicais no Sul do Brasil n�o est� maior, mas que eles est�o surgindo com mais intensidade.

“As �guas dos oceanos est�o mais quentes do que o normal e isso aumenta a intensidade dos ciclones extratropicais, por isso a gente tem chamado a aten��o para esses sistemas que v�m com rajadas de vento acima do normal, tempestades muito pr�ximas umas das outras. A �gua mais quente serve de combust�vel para que essas �reas de baixa press�o ganhem intensidade”, explicou.

O Climatempo informou ainda que essa � a segunda maior enchente j� registrada no rio Taquari, que alcan�ou 29,45 metros no primeiro fim de semana de setembro no ponto de medi��o da cidade de Lajeado. A maior cheia foi registrada em 1941, quando o rio chegou a 29,92 metros.

De acordo com o Minist�rio da Ci�ncia, Tecnologia e Inova��o, desde junho, ao menos quatro ciclones extratropicais j� atingiram o Sul do pa�s.

Segundo o pesquisador Manoel Alonso Gan, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nem todo ciclone � intenso e provoca ventos fortes o suficiente para provocar destrui��o, mas os mais intensos costumam ocorrer na costa da regi�o Sul entre maio e setembro. Isso decorre da diferen�a de temperatura e umidade entre o continente e as �guas do mar pr�ximas � costa, ou seja, o deslocamento do ciclone do continente mais frio e seco em dire��o ao oceano mais quente contribui para que haja transfer�ncia de calor e umidade do oceano para a atmosfera.

Conforme Gan, a trag�dia no Rio Grande do Sul n�o pode ser atribu�da exclusivamente a um ciclone extratropical. Ele explica que, concomitantemente, podem ter ocorrido o estacionamento de uma frente com ar quente e �mido vindo da regi�o Amaz�nica e a forma��o de baixa press�o. Uma an�lise detalhada desse evento ser� feita pelo Inpe para avaliar todos os fen�menos e fatores que contribu�ram para a situa��o.

Minist�rio P�blico Federal (MPF) est� apurando as provid�ncias adotadas em rela��o �s enchentes. Em 7 de setembro, o �rg�o instaurou um inqu�rito civil p�blico para identificar eventuais irregularidades e seus respons�veis, e poss�veis a��es preventivas que poderiam ser adotadas no enfrentamento de situa��es clim�ticas extremas.

N�o houve rompimento de barragens ou abertura de comportas

 
A Ceran, que administra tr�s barragens hidrel�tricas no rio das Antas/Taquari, afirmou que n�o houve nenhuma anormalidade na opera��o das estruturas, nem rompimento acidental, nem abertura de comportas.

Sobre um poss�vel rompimento, a Ceran emitiu nota no site negando essa possibilidade, o que explica por que as sirenes de alerta n�o foram acionadas. “Durante as cheias monitoramos em tempo real todas as estruturas, que em nenhum momento, apresentaram anomalias que indicassem risco de rompimento, o que n�o levou ao acionamento das sirenes de emerg�ncia. Refor�amos que todos os protocolos de seguran�a de barragem foram cumpridos durante o evento, incluindo as comunica��es com as Defesas Civis dos munic�pios, que atuaram junto � popula��o.”

Ao jornal GZH, a companhia refor�ou que tamb�m n�o houve abertura de comportas para libera��o da �gua porque as estruturas, em especial a de Castro Alves – mais atingida pela chuva – n�o t�m comportas que retenham �gua.

“Infelizmente, as barragens n�o conseguem reduzir altas aflu�ncias e mitigar os impactos no entorno do rio, pois as barragens da Ceran possuem vertedouro do tipo soleira livre e t�m a caracter�stica ‘a fio d’�gua’, ou seja, n�o t�m capacidade de armazenamento e nem de regular o fluxo do rio.” Nesse modelo, em caso de volume maior do que capacidade da represa, a �gua simplesmente passa por cima da barragem.
 
Barragem de Castro Alves
Barragem de Castro Alves n�o tem comportas, �gua saindo no canto direito � constante e mant�m a fauna e o uso no rio abaixo da barragem (foto: Ceran)

 
As outras duas barragens, de Monte Claro e 14 de Julho, por serem maiores que a Castro Alves, t�m duas comportas de vertedouro. Segundo a empresa, elas s�o abertas somente quando a �gua j� est� passando sobre a crista da barragem, para n�o sobrecarregar as estruturas. Dessa forma, n�o h� altera��o da vaz�o do rio.
 
Em entrevista � R�dio Independente na tarde do dia 10 de setembro, a secret�ria de Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul, Marjorie Kauffmann, disse que n�o h� evid�ncias de que as barragens tenham tido influ�ncia sobre os danos causados pela enchente.

Ao Estad�o Verifica, a Aneel, respons�vel pela fiscaliza��o de gera��o hidrel�trica, afirmou que as cheias n�o poderiam ser agravadas por conta da estrutura das barragens. A Ag�ncia Nacional de �guas (ANA) tamb�m confirmou ao ve�culo que a produ��o de energia � feita apenas com a for�a da correnteza, sem uso de comportas.

Em 11 de setembro, a Secretaria de Comunica��o Social (Secom) do governo federal tamb�m desmentiu a alega��o de que as barragens teriam causado os alagamentos. “As barragens no Rio das Antas, controladas por empresa privada, possuem vertedouros do tipo soleira livre, ou seja, n�o possuem estruturas que possibilitem o controle da vaz�o do rio e tem a caracter�stica ‘a fio d’�gua’, que n�o tem capacidade de armazenamento e todo o excedente de �gua passa por cima da barragem.”

Investiga��o por divulga��o de informa��es falsas

 
Conforme mostrou a ag�ncia Aos Fatos, as alega��es falsas de que as enchentes teriam sido causadas por conta da abertura de comportas das barragens viralizaram ap�s terem sido replicadas pelo apresentador Alexandre Garcia, em 8 de setembro.

No dia 11 de setembro, o advogado-geral da Uni�o, Jorge Messias, pediu investiga��o sobre Garcia por divulga��o de informa��es falsas a respeito da trag�dia no Rio Grande do Sul.

Assim como no caso dos conte�dos investigados aqui, Garcia afirmou que n�o teriam sido s� as fortes chuvas as respons�veis pelos estragos. Em um programa da Revista Oeste, o jornalista disse, sem apresentar provas, que tr�s represas constru�das no “governo do PT” tiveram as comportas abertas junto com as tempestades, o que aumentou o volume de �gua e causou as enxurradas. Segundo ele, seria preciso investigar as causas da trag�dia

No mesmo dia, o ministro da Justi�a e Seguran�a P�blica, Fl�vio Dino (PSB), disse, em rede social, que a Pol�cia Federal tem conhecimento das fake news referentes � crise humanit�ria no Rio Grande do Sul e que “adotar� provid�ncias previstas em lei”.

Garcia disse a Aos Fatos que se referia a um of�cio enviado pela prefeitura de Bento Gon�alves (RS) ï¿½ Ceran, no qual constava uma pergunta sobre uma poss�vel abertura de comportas das barragens.

Em v�deo publicado em 11 de setembro no YouTube, o apresentador afirma que a determina��o do advogado-geral da Uni�o “ajuda a p�r luz em busca da transpar�ncia sobre as tr�s barragens”. Garcia diz ainda que a resposta que deu no programa da Revista Oeste durou quase 4 minutos e que as publica��es nas redes sociais omitem parte da declara��o.

O apresentador diz que se baseou em informa��es divulgadas at� aquele momento sobre o of�cio da prefeitura de Bento Gon�alves e sobre o questionamento feito por um grupo de prefeitos de munic�pios da regi�o acerca do quanto o funcionamento do Complexo Energ�tico Rio das Antas poderia ter influenciado nas enchentes.

O que diz o respons�vel pela publica��o: O Comprova entrou em contato com os respons�veis pelas publica��es no Instagram (@adalexgois) e no X (@CarinaBelome), e tamb�m buscou a mulher que gravou originalmente os v�deos compartilhados (@bioyinluz) por e-mail e WhatsApp. A outra conta que postou o v�deo no X (@damadanoite14) n�o permite o envio de mensagens e o Comprova n�o encontrou perfis correspondentes em outras redes sociais. J� o respons�vel pela publica��o no TikTok (@fabioaquino47) excluiu tanto a postagem quanto o perfil da plataforma.

O �nico usu�rio que respondeu, at� a publica��o desta checagem, foi o que postou o conte�do no Instagram. Segundo ele, o v�deo � “autoexplicativo” e em nenhum momento a publica��o teria afirmado que a abertura das comportas foi respons�vel pelo alagamento. Ele tamb�m encaminhou o link para um “conte�do opinativo” por meio do qual � poss�vel “encontrar informa��es sobre minhas consultas com minhas fontes”.

O que podemos aprender com esta verifica��o: O Rio Grande do Sul enfrentou o maior desastre natural dos �ltimos 40 anos no estado, que deixou dezenas de mortos, desaparecidos e milhares de pessoas desabrigadas. Em momentos de grandes cat�strofes, � comum que informa��es truncadas, incompletas ou mesmo totalmente falsas circulem com o objetivo de gerar p�nico, atacar grupos espec�ficos ou tentar apontar culpados pelo ocorrido.

Por que investigamos: O Comprova monitora conte�dos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre pol�ticas p�blicas e elei��es no �mbito federal e abre investiga��es para publica��es que obtiveram maior alcance e engajamento e que induzem a interpreta��es equivocadas. Voc� tamb�m pode sugerir verifica��es pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O site Boatos.org e ag�ncias como Estad�o Verifica e Aos Fatos j� checaram conte�dos sobre comportas de barragens no Rio Grande do Sul.


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