
Mas o tempo quente n�o demora at� o in�cio da esta��o, em 22 de dezembro, para chegar ao pa�s. Al�m de ondas de calor que come�aram nesta �ltima semana de inverno, progn�sticos de meteorologia, como os do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), indicam que recordes de temperatura podem ser registrados j� na primavera.
Ainda, especialistas dizem que as chuvas que atingem o Sul devem ganhar for�a com o El Ni�o, especialmente em dezembro, o que tamb�m levar� tempo mais quente e seco ao Norte e ao Nordeste. A incerteza recai sobre o Sudeste, sem sinais claros de mais ou menos chuva e calor.
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"Todos os modelos de previs�o clim�tica sazonal que olham a primavera e o ver�o indicam 70% de chance de as temperaturas estarem acima da m�dia", diz o climatologista Francisco Aquino, chefe do departamento de geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
"De outubro em diante, at� fevereiro de 2024, no Brasil, a gente vai ver temperaturas acima da m�dia e precipita��o abaixo da m�dia, com exce��o do Sul. E j� tivemos o agosto mais quente da hist�ria na Am�rica do Sul desde 1910."
Ele cita dados publicados nesta ter�a (19) pela Administra��o Nacional Oce�nica e Atmosf�rica (NOAA, na sigla em ingl�s) dos EUA, que consideram as anomalias de temperatura em rela��o �s m�dias de agosto de cada ano.
A anomalia � uma varia��o —positiva ou negativa— de uma temperatura em rela��o � linha de base. Segundo a NOAA, essa linha � uma m�dia de 30 anos ou mais de dados de temperatura.
Segundo a meteorologista do Inmet Adriana Ramos, as previs�es meteorol�gicas do instituto v�o at� a primavera —com tend�ncias de mais calor. "O progn�stico clim�tico que temos � de setembro a novembro, e indica que as temperaturas devem ficar acima da m�dia. Ainda n�o temos ver�o, mas sabemos que o El Ni�o vai atuar, com pico de dezembro a janeiro."
As chuvas tamb�m devem aumentar no Sul, segundo nota t�cnica do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). De acordo com o �rg�o, as frentes frias tendem a ficar estacionadas na regi�o.
"Em geral, o El Ni�o favorece a atua��o de sistemas frontais no Sul do Brasil. O quanto esses sistemas v�o se propagar mais at� o Sudeste � o que n�o est� t�o claro", diz o meteorologista e conselheiro do Crea-SP Carlo Raupp. Ele ressalta que a primavera tradicionalmente concentra as m�ximas de temperatura.
Para Paulo Artaxo, f�sico e professor da USP, h� um grau de imprevisibilidade em fen�menos como o El Ni�o, especialmente por causa dos impactos do aquecimento global. "� um sistema complexo e nunca tivemos um El Ni�o forte como o deste ano, somado ao agravamento das mudan�as clim�ticas globais."
A �ltima forma��o do fen�meno foi entre 2015 e 2016, que foi caracterizado como um super El Ni�o. Agora, oceanos mais quentes, segundo o recorde registrado em agosto, devem acentuar seus efeitos. "Isso porque o El Ni�o � exatamente produzido por um aquecimento anormal do oceano Pac�fico tropical."
A partir do aquecimento dessas �guas, h� mudan�as na circula��o dos ventos al�sios, que v�o de leste a oeste, levando umidade e �guas mais quentes da costa das Am�ricas para �sia e Oceania. Os efeitos provocam secas e inunda��es em diferentes locais do mundo.
Por outro lado, segundo Aquino, o fen�meno vai encontrar �guas mais quentes. O aumento de temperatura causado pela emiss�o de gases de efeito estufa � lentamente absorvido pelos oceanos. "Durante a a��o humana de aquecimento global, de atmosfera e oceano, fomos estocando a maior parte do aquecimento no oceano, que tem mais massa."
� neste cen�rio de �guas aquecidas que o efeito do El Ni�o pode potencializar temperaturas acima da m�dia. "� uma �rea de �gua quente de grande extens�o no Pac�fico que vai perturbar a atmosfera tropical do planeta. Toda a circula��o, para dois hemisf�rios, vai se adaptar a esse sinal vindo da ‘piscina de �gua quente’ do Pac�fico tropical", afirma o pesquisador.
De acordo com Aquino, o fen�meno, uma variabilidade natural e hist�rica do aquecimento do Pac�fico perto do equador e a altera��o da circula��o de ventos funcionam como um sinal.
"A atmosfera entende ‘vamos nos ajustar’. Mas o que aconteceu nos �ltimos cem anos? Esses eventos, dos anos 1960 para c�, passaram a ter mais intensidade porque o oceano ficou mais quente."