
Aeroporto de Confins, fila de embarque do voo para o Rio de Janeiro. A reportagem do Estado de Minas aguarda para entrar no avi�o, enquanto duas mulheres conversam sobre como as suas fam�lias temiam a estadia delas em terras cariocas. “N�o � bang bang, eles n�o saem dando tiro em todo mundo”, diz uma delas. N�o � novidade que a capital fluminense � conhecida pelos casos de viol�ncia, motivada pela presen�a do crime organizado e das mil�cias na cidade.
Mas, na �ltima quinta-feira (5/10), o Rio tomou as principais manchetes dos jornais de todo o pa�s, por conta do assassinato de tr�s m�dicos em um quiosque na Barra da Tijuca, bairro nobre da cidade. Uma das v�timas era Diego Ralf, irm�o da deputada federal S�mia Bomfim (Psol - SP). Na madrugada seguinte, dois cad�veres foram encontrados em carros abandonados nas ruas do Rio de Janeiro. Segundo a investiga��o policial, os corpos s�o de suspeitos do crime.
Indo participar da cobertura do Festival do Rio, a equipe do Estado de Minas chegou � cidade na segunda-feira, mesmo dia em que parte dos moradores se viram em um cen�rio de guerra. Mil agentes das pol�cias Civil e Militar fizeram uma opera��o em tr�s comunidades carioca:o Complexo da Mar� e da Vila Cruzeiro, na Zona Norte da capital, e Cidade de Deus, na Zona Oeste.
As regi�es s�o controladas pelo Comando Vermelho, fac��o que, segundo as autoridades, est� por tr�s das mortes dos m�dicos. A opera��o incluia cem mandados de pris�o. Dois helic�pteros foram utilizados para dar apoio � a��o. Mas um deles foi alvejado com tiros de fuzil por criminosos e quase foi abatido, enquanto sobrevoava o Complexo da Penha.
Nas redes sociais, internautas compartilharam v�deos em que � poss�vel ver chamas saindo do motor da aeronave. Segundo o que foi divulgado, nenhum tripulante ficou ferido.
Pr�ximo ao local, o motorista de aplicativo Rodrigo Machado* acompanhou com medo a situa��o. Ele conta que estava dormindo com a esposa quando foi acordado pelo barulho dos tiros de fuzil. Assustado, o homem de 46 anos diz que aprendeu a conviver com o medo.
Rodrigo mora perto do Complexo do Alem�o, mas vive nas imedia��es de um posto policial, o que d� mais seguran�a para ele e a fam�lia. “A gente leva uma vida normal. Tem vez que a gente escuta barulho de tiro e continua indo � padaria”, exemplifica. Ele evita sair de casa � noite e aboliu de vez o transporte p�blico temendo sua seguran�a. “Mesmo assim j� roubaram meu carro”, conta. Por conta viol�ncia, ele sonha em sair do Rio e come�ar uma nova vida em Macei�, capital de Alagoas. “L� tem uma sensa��o de seguran�a que aqui n�o existe”, revela.
‘Tiro � a coisa mais comum do Rio de Janeiro’
Rio de Janeiro, 18 horas. O cen�rio � diferente das grandes capitais do pa�s. Enquanto em S�o Paulo e Belo Horizonte, por exemplo, os pontos de �nibus ficam tomados por pessoas esperando os coletivos para voltar para casa, na capital fluminense os lugares estavam praticamente vazios.
“Isso � por conta do medo. Aqui, a gente tem medo o tempo todo”, explica o motorista de aplicativo Lucas Vieira*. Ele cita dois grandes motivos para tanto temor: os usu�rios de drogas, que praticam assaltos pelas ruas, e os milicianos, que criaram um poder paralelo.
Ao contr�rio de Rodrigo, Lucas n�o mora perto de uma comunidade. “L� perto de casa � mais tranquilo. Mas essa quest�o dos tiros realmente � uma coisa comum. A gente sempre ouve. Pode ser crime, treinamento de pol�cia, nunca se sabe. Tiro � a coisa mais comum do Rio de Janeiro”, descreve.
Prote��o para turistas
Na Avenida Atl�ntica, na Zona Sul da cidade, a cada esquina existe uma viatura das for�as policiais parada ou pelo menos dois agentes de moto. Em outros pontos da regi�o, s�o realizadas blitze, especialmente em locais pr�ximos a viadutos e t�neis.
A Zona Sul � uma das mais nobres da cidade, com hot�is de luxo, como o Copacabana Palace. Os dois motoristas comentam a mesma coisa ao ver o policiamento no local: “Aqui � realmente mais seguro, mas � coisa para turista, que acabam se concentrando aqui e no centro da cidade”, dizem.
No Festival do Rio, que a reportagem do Estado de Minas acompanhou, as atividades eram divididas em v�rias partes da cidade: Botafogo, G�vea, Gl�ria e Centro, por exemplo. Em algumas dessas localidades, a estudante carioca Vinicia Cardoso teve medo da viol�ncia na cidade. “Aqui na Gl�ria, em especial, eu me sinto um pouco insegura. Eu acho que deveria ter um pouco mais de policiamento por ser um grande evento. Mas na cidade em si, eu acho que n�o mudou desde o assassinato dos m�dicos. N�o houve um crescente de seguran�a, mas tamb�m n�o houve aumento da viol�ncia ap�s isso, pelo menos ao meu ver”, pondera.
Moradora da Zona Sul carioca, a jovem diz ter sido surpreendida com a morte dos m�dicos. “Me chocou muito esse assassinato, principalmente naquela regi�o, porque n�o � algo comum. O Rio � realmente violente, mas nessa regi�o os n�meros s�o reduzidos. N�o � uma coisa que o carioca est� acostumado”, conta, apesar de negar ter se sentido mais insegura ap�s o caso.
No mesmo evento, uma mulher que n�o quis conceder entrevista sintetiza: “O problema da viol�ncia na cidade � a mil�cia. Elas tomaram conta de tudo, especialmente no governo do Crivela e do Bolsonaro”, acusa.
Percep��o de seguran�a
No dia seguinte aos assassinatos, as irm�s Lu�sa e Aline Mosqueira, de Belo Horizonte. desembarcaram no Rio de Janeiro, para conferir o show de The Weekend no dia seguinte, no Engenh�o. Ela e o grupo de amigos, todos mineiros, n�o viram diferen�a no policiamento de outras visitas � cidade.
“Estava bem normal nesse quesito. Tamb�m n�o senti muita inseguran�a, a cidade estava bem movimentada, com bastante turista. A gente foi no Cristo Redentor no come�o da tarde, quando fica mais vazio, e estava lotado. Sinceramente, eu n�o senti”, avalia Lu�sa, que diz que s� uma pessoa com quem conversou estava preocupada com os assassinatos dos m�dicos.
Ela ainda contou que a organiza��o do evento foi muito mais rigorosa do que no Rock in Rio de 2022, quando ela viu assaltos acontecendo dentro da Cidade do Rock. “Teve uma revista muito maior. Foi tudo bem tranquilo, tanto na ida quanto na volta”, conta.
J� Aline lembra de ter visto policiamento no entorno do Engenh�o, mas diz n�o ter sentido nenhum pouco de inseguran�a. “N�o vi nenhum policial dentro, s� na sa�da. Mas todos de boa na deles, n�o vi abordagem”, relata.