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Estado de Minas

El Ni�o adiou in�cio da temporada de fogo no Cerrado

Fen�meno clim�tico provocou mais chuvas em per�odo de seca, reduzindo dispers�o do fogo, dizem cientistas da UFMG


24/10/2023 04:00
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Ap�s intensificar as chuvas no Sul do Brasil, o El Ni�o est� adiando o come�o da temporada de fogo no Cerrado, que geralmente ocorre no inverno. Por�m, o cen�rio pode mudar nos pr�ximos meses. Com o aumento das temperaturas no ver�o, os inc�ndios florestais no bioma podem se agravar nos meses de dezembro e janeiro, quando o El Ni�o deve atingir seu pico.
 
� o que estimam pesquisadores do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (CSR-UFMG), a partir da an�lise das precipita��es e do fogo nos �ltimos meses. Os cientistas identificaram que a instabilidade atmosf�rica gerada pelo El Ni�o – fen�meno natural de aquecimento das �guas do Oceano Pac�fico – provocou chuvas acima do esperado em regi�es que normalmente experimentariam um clima seco durante o inverno, como o Centro-Oeste, reduzindo as chances de propaga��o do fogo no Cerrado. A avalia��o foi passada com exclusividade � Ag�ncia P�blica. 
 
Respons�veis por uma plataforma que monitora diariamente o risco de inc�ndios no bioma, os pesquisadores observaram uma diminui��o na quantidade de focos de calor desde o m�s de junho, �poca em que os registros deveriam aumentar. A temporada de fogo ocorre naturalmente no inverno, j� que um dos principais fatores para a ocorr�ncia de inc�ndios florestais � o clima seco, que facilita a igni��o da biomassa – o combust�vel do fogo.
 
O monitoramento mostra que o total de focos de calor em julho foi 19% inferior � m�dia hist�rica para o m�s, que considera dados desde 1998, al�m de ser a menor quantidade de focos registrada no m�s desde 2015, ano em que tamb�m ocorreu o El Ni�o. Em agosto, a redu��o foi de 65% sobre a m�dia, com 8.518 focos de calor.
 
Para os pesquisadores, o El Ni�o, turbinado pelo aquecimento global, parece estar por tr�s dessa mudan�a. “O Cerrado est� no meio dos extremos do clima intensificados pelo El Ni�o que estamos vendo no Brasil neste ano: seca na Amaz�nia e chuvas intensas no Sul. Nesse inverno, choveu mais do que a gente esperava no Cerrado, o que pode ter feito o n�mero de inc�ndios despencar”, explica Argemiro Leite-Filho, pesquisador do CSR-UFMG.
 
O climatologista diz que o modelo de monitoramento do fogo desenvolvido na UFMG � procurado por gestores e brigadistas dos parques estaduais e unidades de conserva��o do Cerrado, que utilizam as estimativas de risco de inc�ndio para planejar a��es de preven��o. Nos �ltimos meses, houve uma redu��o do interesse desses profissionais no modelo, porque havia menos fogo, o que acendeu o alerta para os pesquisadores de que havia algo anormal acontecendo.
 
“Neste ano, o que tem de diferente no clima � o El Ni�o, que trouxe mais umidade e chuva para o Cerrado. A propaga��o de fogo at� o momento n�o ocorreu da forma que n�s esper�vamos, mas estamos prevendo que essa situa��o piore nos pr�ximos meses, infelizmente, com o aumento das temperaturas que est� previsto para o ver�o”, diz Leite-Filho.
 
Ubirajara Oliveira, um dos criadores do modelo de previs�o de espalhamento do fogo do CSR, explica que as condi��es clim�ticas determinam a ocorr�ncia de grandes inc�ndios, e a maioria dos focos de calor registrados no inverno mais chuvoso n�o se converteu em inc�ndios. “O adiamento da temporada de fogo em anos de El Ni�o sempre acontece em alguma escala, a depender de sua intensidade. Mas pelo que j� coletamos, a expectativa � que as queimadas sejam mais intensas no ver�o do que observamos em anos anteriores em que ocorreu o fen�meno.”
 
Os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goi�s, Minas Gerais e Bahia tiveram chuvas de 30 a 90 mil�metros acima da m�dia hist�rica no inverno. Os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para o m�s de agosto chamam a aten��o: Goi�nia registrou uma precipita��o 195% acima do normal para o per�odo, com 18,5 mm a mais; choveu quase tr�s vezes a mais do que a m�dia hist�rica em Belo Horizonte; e em Bras�lia a chuva foi 34% superior ao esperado.
 
Os term�metros no Cerrado tamb�m foram na contram�o dos recordes observados no resto do Brasil. “Em grande parte do bioma, a temperatura ficou dentro da m�dia nos meses de agosto e setembro, apesar de as temperaturas estarem mais altas no resto do pa�s. Isso tamb�m � um reflexo do El Ni�o e da maior incid�ncia de chuvas”, diz Argemiro Leite-Filho.

Falsa sensa��o de que “o pior 
j� passou” deve se traduzir 
em mais fogo no ver�o

O fogo que deixou de se alastrar no Cerrado com maior for�a no inverno, por�m, deve ganhar intensidade entre os meses de dezembro e janeiro, afirma Leite-Filho. Modelos da Administra��o Oce�nica e Atmosf�rica dos Estados Unidos (NOAA) estimam que naquela �poca o El Ni�o ter� 90% de chance de atingir seu �pice de aquecimento.
 
“Como os gestores e brigadistas esperavam que o inverno fosse o per�odo com maiores inc�ndios, e n�o foi, a tend�ncia � relaxar as medidas [de preven��o e combate]. As pessoas est�o com a sensa��o de que o pior j� passou, mas esquecem que neste ano estamos numa situa��o bastante at�pica com o El Ni�o”, diz o climatologista.
 
As previs�es para o ver�o apontam para um aumento de temperatura nas �reas do Cerrado, aliado a temporais mais fortes e espa�ados. O pesquisador explica que os veranicos, per�odos de seca prolongada dentro da esta��o chuvosa, aumentam o perigo para os inc�ndios.
 
“Se teve menos fogo na �poca seca, agora a situa��o tende a se inverter. As tempestades de ver�o n�o ser�o suficientes para evitar inc�ndios futuros, porque como essas chuvas s�o muito volumosas e duram pouco tempo, a �gua n�o consegue infiltrar no solo, criando condi��es prop�cias para a propaga��o de fogo”, alerta Leite-Filho. “Esperamos at� mesmo uma maior quantidade de focos de inc�ndio comparado ao hist�rico dos anos anteriores, justamente por causa do El Ni�o”.
 
Outro agravante � o fato de que Cerrado vem enfrentando um aumento no desmatamento nos �ltimos anos, com destaque para os primeiros meses de 2023, puxado pela expans�o das fronteiras agr�colas na regi�o conhecida como Matopiba (entre os estados do Maranh�o, Tocantins, Piau� e Bahia). De acordo com Ubirajara Oliveira, todo esse contexto pode piorar os inc�ndios no fim do ano.Ele acrescenta que � comum a ocorr�ncia de raios durante as tempestades de ver�o, que podem iniciar inc�ndios por conta da descarga el�trica que atinge as �rvores. “Quando h� eventos como o El Ni�o, o padr�o de chuvas muda, e pode acontecer de ter muitos raios, mas a chuva n�o ocorrer no local que o raio atingiu.” Segundo ele, isso pode aumentar a ocorr�ncia dos inc�ndios naturais, comuns no Cerrado, que n�o dependem da a��o humana e s�o mais dif�ceis de serem combatidos.
 
Leite-Filho relembra que as temporadas de fogo de 2010 e 2015 foram intensas no Cerrado durante o ver�o, anos tamb�m marcados pela ocorr�ncia do El Ni�o. “Foram os anos em que aconteceram maiores queimadas e maior seca na Amaz�nia, e consequentemente, na divisa da Amaz�nia com o Cerrado e na parte mais ao centro do bioma”, explica.
 
Para o climatologista, s�o positivas as iniciativas do governo federal que se voltam para o Cerrado, como a elabora��o do novo Plano de A��o para Preven��o e Controle do Desmatamento e das Queimadas no bioma, mas, segundo ele, falta aos governos estaduais e municipais a disposi��o de mobilizar esfor�os e criar a tradi��o de preocupa��o com o espalhamento do fogo.
 
Leite-Filho defende a import�ncia de realizar a��es que possam combater os inc�ndios no Cerrado, que passam por aumentar a conserva��o florestal, incrementar a fiscaliza��o sobre o uso do fogo e fortalecer as iniciativas de monitoramento. “N�o podemos baixar a guarda nesse momento, precisamos de uma a��o s�ria de conscientiza��o que combata os inc�ndios que vir�o”. 

Essa reportagem foi produzida pela 
ag�ncia p�blica e publicada em parceria com 
o Estado de Minas. Leia mais em apublica.org


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