A Marcha das Margaridas � evento marcado no calend�rio de Bras�lia, capital da Rep�blica. Ocorre a cada quatro anos – sempre em 12 de agosto. Apesar de prevista, parece ter surpreendido o governo do Distrito Federal. Ontem, na sexta edi��o, a multid�o organizada tomou conta das ruas.
Organizada pela Confedera��o Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e sindicatos rurais, a mobiliza��o re�ne agricultoras familiares, ribeirinhas, quilombolas, pescadoras, camponesas, trabalhadoras dos movimentos feministas e ind�genas. S�o pessoas simples, marcadas pela pobreza e pela aus�ncia de educa��o formal. Sozinhas, n�o t�m voz nem poder de press�o. Juntas, ganham for�a.
Elas reivindicam pol�ticas p�blicas e enfrentamento da viol�ncia contra a mulher. Ponto alto: d�o visibilidade a problemas considerados tabu. As margaridas t�m pouco acesso a informa��es sobre medidas governamentais. Entre elas, conquistas importantes como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminic�dio. O desconhecimento fica evidente quando se buscam os dados sobre a viol�ncia contra a mulher do meio rural. Inexistem diagn�sticos e, em consequ�ncia, instrumentos de combate.
Segundo a Cepal, 40% dos feminic�dios notificados na Am�rica Latina e Caribe ocorrem no Brasil, quinto pa�s que mais assassina pessoas pela condi��o de g�nero. O Minist�rio da Mulher, da Fam�lia e dos Direitos Humanos mostra n�meros constrangedores: de janeiro a julho de 2018, o Ligue 180 registrou 27 feminic�dios, 51 homic�dios, 547 tentativas de feminic�dios e 118 de homic�dios. No mesmo per�odo, as den�ncias de maus-tratos e agress�es chegaram a 79.661 – 37.396 referentes a viol�ncia f�sica e 26.527, psicol�gica. Tamb�m a� falta discriminar a viol�ncia contra as m�es, as esposas, as filhas do campo e das florestas e as trabalhadoras do agro, hidro e mineroneg�cio.
A Marcha das Margaridas desmascara a realidade que envergonha as consci�ncias civilizadas. Temas tabus saem dos subterr�neos do atraso e se mostram � luz do sol. Expostos, imp�em medidas aptas a apontar solu��es. Tal como os motoristas que, engarrafados, tiveram de se inteirar do drama que se desenrolava nas pistas da capital, o Pal�cio do Planalto, a Esplanada dos Minist�rios, o Congresso Nacional precisam ouvir a voz de 100 mil mulheres que ecoam Brasil afora. Que venham as respostas.