Dianne Melo
Coordenadora de Linguagens no Ita� Social
Todos os dias, desde o momento em que acordamos, recebemos est�mulos que v�o se multiplicando a partir das nossas pr�ticas sociais na escola, no trabalho, nas atividades que realizamos. A resposta a essas demandas est� em grande parte relacionada ao dom�nio das formas de representa��o escrita e num�rica, das habilidades que desenvolvemos, do nosso repert�rio, da nossa capacidade de fazer escolhas e de interagir com o mundo.
Por outro lado, sabemos que s�o marcantes as dificuldades de acesso � leitura e � escrita de qualidade, em especial para as popula��es mais vulner�veis. A escola, como espa�o privilegiado para o ingresso de crian�as, adolescentes e jovens nesse universo, precisa conduzir uma forma��o que lhes permita compreender a realidade que os envolve e nela agir.
O Sistema de Avalia��o da Educa��o B�sica – Saeb 2017, conforme dados de estudo elaborado em mar�o pelo Todos pela Educa��o, aponta que 60,7% dos estudantes brasileiros matriculados no 5º ano do ensino fundamental apresentam aprendizado adequado em l�ngua portuguesa, e 48,9% em matem�tica. � nessa etapa da escolaridade que se observam os maiores progressos, com melhoria cont�nua e significativa desde 2007. Essa curva, por�m, perde for�a nos anos finais do ensino fundamental e fica estagnada no ensino m�dio. Ao final do 9º ano, os percentuais s�o de 39,5% e 21,5%, respectivamente. �s portas de entrar na faculdade e na vida profissional, apenas 29,1% dos estudantes que conclu�ram o ensino m�dio t�m aprendizagem adequada em l�ngua portuguesa e 9,1% em matem�tica.
Como consequ�ncia, respostas a est�mulos cotidianos, como escrever um e-mail ou identificar desconto de um produto no supermercado, tornam-se constrangedores desafios. Em 2018, o Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf) apontou que tr�s a cada 10 brasileiros entre 15 e 64 anos enfrentam essa situa��o. S�o os chamados analfabetos funcionais.
Apesar de o n�mero de analfabetos funcionais ter ca�do de 39% para 29% desde 2001, quando foi realizada a primeira edi��o do estudo, o percentual de brasileiros que alcan�am o n�vel de compreens�o plena e capacidade anal�tica e cr�tica est� estacionado em 12%, concentrado em pessoas da classe m�dia alta, escolaridade elevada e fam�lias com gera��es anteriores j� escolarizadas. Al�m da acentuada desigualdade de aprendizagem por condi��o socioecon�mica, os dados demonstram, ainda, que o avan�o no acesso/matr�cula n�o garantiu a perman�ncia e o sucesso escolar.
O cen�rio geral n�o deixa d�vida sobre a necessidade de se investir em metodologias que valorizem os letramentos (tanto escrito quanto num�rico) como ferramentas que potencializam o exerc�cio da cidadania e contribuem para a diminui��o das desigualdades socioecon�micas e de aprendizagem. Cabe, ent�o, � escola garantir o acesso democr�tico � leitura e � escrita, al�m de promover situa��es concretas para a resolu��o de problemas, de modo a inserir, de forma plena e ativa, todos os estudantes numa cultura letrada.
Mas como estabelecer percursos capazes de cumprir esse objetivo? A forma��o de educadores tem papel estrat�gico no aprimoramento das pr�ticas pedag�gicas, incidindo sobre os conte�dos colocados � disposi��o de crian�as e adolescentes, e tamb�m sobre o engajamento dos profissionais com a melhoria da qualidade da educa��o. Esfor�o nesse sentido, o Programa Letras e N�meros, iniciativa do Ita� Social, elegeu a forma��o como eixo catalisador, capaz de favorecer tanto a aprendizagem das habilidades de leitura, escrita e matem�tica, como de contribuir para estimular a formula��o de pol�ticas p�blicas que possibilitem melhores resultados de aprendizagem.
� medida que acessam novos conhecimentos e se conectam com os avan�os das �reas em que atuam, os profissionais de educa��o ganham autonomia e seguran�a para ensinar, repensar suas pr�ticas pedag�gicas, compreender melhor as novas gera��es (em constantes mudan�as) e engaj�-las nos pr�prios processos de aprendizagem, contribuindo, assim, para a efetiva��o do direito ao pleno desenvolvimento das habilidades de leitura, escrita e matem�tica, no contexto de uma educa��o p�blica de qualidade para todos.