Yuri Santos
Diretor de opera��es da Dire��o M�quinas e Equipamentos (Demaq)

mundo que a gente conhece n�o existe mais. Isso � fato. Ali�s, n�s e nem o mundo j� n�o somos os mesmos desde que o inimigo invis�vel tomou conta do nosso planeta, o novo coronav�rus. Sem aviso pr�vio, a pandemia, para muito al�m da trag�dia humana e o anunciar de um mercado global em recess�o econ�mica, trouxe muitas quest�es a serem enfrentadas – e ainda desconhecidas. E uma chamada de consci�ncia de que, infelizmente, n�o aprendemos a li��o ap�s ter passado por epis�dios extremamente danosos para a humanidade, como a gripe espanhola e a Sars-CoV.
Tal qual, o alto poder de propaga��o da COVID-19 assume contornos t�o graves e inimagin�veis e nos coloca de frente com a mesma urg�ncia de lucidez para vencer essa guerra, e com jus a mea-culpa sobre as a��es devastadoras do homem sobre a natureza anos a fio. No entanto, agora esse � um caminho sem volta, n�o d� para pensar em preserva��o de vidas sem lan�ar m�o de uma vis�o mais abrangente, criteriosa e cuidadosa sobre tudo o que diz respeito ao meio ambiente.
E nesse ponto, preocupa-nos tanto quanto e reacende a pol�mica sobre a n�o implanta��o da Pol�tica Nacional de Res�duos S�lidos (PNRS) em todo o pa�s. Prestes a completar 10 anos – a lei determina o fechamento de todos os lix�es e a destina��o de rejeitos (aquilo que n�o pode ser reciclado ou reutilizado) –, quase nada se avan�ou no que se refere � erradica��o dos lix�es Brasil afora. Vale ressaltar que 60% das cidades brasileiras ainda mant�m os chamados lix�es a c�u aberto, o que corresponde a 3.353 munic�pios, causando graves danos ambientais e � sa�de da popula��o.
Em meio � desordem por conta do novo coronav�rus h� que se ter, obrigatoriamente, espa�o na agenda p�blica dos nossos governantes para a discuss�o acerca da gest�o dos res�duos s�lidos. Ficar como est� � que n�o pode mais ser tolerado. Afinal, n�o restam d�vidas de que estamos colhendo o que de pior o homem fez e tem feito para a natureza – evidenciando, claramente, a rela��o de que novo coronav�rus e crise ambiental, na sua forma mais cruel, se trata de duas pandemias.
A despeito das solu��es para a destina��o e tratamento ambientalmente corretos ao lixo, em todas as suas classifica��es, a primeira, claro, passa por uma premissa b�sica: pela disposi��o de investimentos massivos, de forma planejada e respons�vel em alternativas sustent�veis e com ganhos substanciais para a sa�de, a economia e o meio ambiente, com todas as complexidades que lhe s�o afetas.
Mas voc� deve estar se perguntando: o que tem a ver gest�o de res�duos s�lidos e coronav�rus?. Numa vis�o simplista, talvez nada. Mas ser� mesmo? Sob a �tica da sa�de p�blica, al�m do aparecimento de v�rias doen�as, como dengue, febre amarela, zika e chikungunya, parasitoses e tantas outras, aliadas � estrutura deficit�ria e escassez de recursos do Sistema �nico de Sa�de, o SUS, os elevados custos sociais e econ�micos nos gastos p�blicos do munic�pio, estado e Uni�o – colapso na sa�de p�blica, portanto, n�o parece ser algo pontual. E n�o se engane, tudo isso � resultado da persistente e ignorada degrada��o ambiental, mas que por ora ‘ressurge’ � luz do novo coronav�rus.
Com tudo isso, se ainda n�o aprendemos mais essa li��o, o momento � bastante oportuno se as autoridades competentes se vestirem da mesma vontade pol�tica e disposi��o, assim como v�m fazendo para enfrentar a COVID-19, para acabar de vez com uma de suas maiores chagas, os aterros e lix�es, para onde s�o destinados mais de 80 mil toneladas de res�duos por dia e com elevado potencial de polui��o ambiental e consequ�ncias graves � sa�de da popula��o, em particular de milh�es de brasileiros que t�m, nas montanhas de lixo e com tudo o que h� de mais degradante para a pr�pria dignidade humana, o sustento de suas fam�lias.
O caminho nos parece claro, o mundo vem nos dando sinais contundentes para quebras de paradigmas e posturas inteligentes para uma rela��o harmoniosa e compat�vel entre economia e meio ambiente. O recado est� dado; cabe a cada um de n�s fazer o dever de casa. Caso contr�rio, nosso pr�ximo inimigo invis�vel pode estar mais pr�ximo do que imaginamos.