Em lugar de pessoas, 200 mil bandeiras perfiladas diante do Capit�lio representaram norte-americanos dos 50 estados do pa�s. Foi nesse cen�rio, em que os eleitores n�o estiveram presentes, pela primeira vez na hist�ria, devido � pandemia, que Joe Biden fez seu primeiro discurso ap�s ser empossado como o 46º presidente dos Estados Unidos. Ele conclamou os americanos a se unirem para reerguer o pa�s, a “recome�ar do zero”. “Sem unidade n�o h� paz, h� apenas amargura e f�ria. N�o h� progresso, apenas indigna��o exaustiva. N�o h� na��o, apenas um estado de caos. Este � o nosso momento hist�rico de crise e desafio, e a uni�o � o caminho a ser tomado”, disse.
O primeiro desafio de Biden � imunizar os norte-americanos contra a pandemia do novo coronav�rus. Em seguida, unificar o pa�s, ou pelo menos reduzir a tens�o entre republicanos radicais, apoiadores de Trump, e os democratas, uma das miss�es mais dif�ceis. Em grande parte, a vit�ria foi alcan�ada pelo voto de migrantes e afro-americanos, v�timas da viol�ncia dos supremacistas brancos. Al�m das fraturas ideol�gicas e sociais, Biden est� desafiado a recuperar a economia. Com a crise sanit�ria, o desenvolvimento dos EUA encolheu. O desemprego chega a quase 7% da popula��o economicamente ativa; o Produto Interno Bruto recuou 3,5%, estando abaixo do n�vel pr�-pandemia; e houve uma quebra generalizada de empresas.
O presidente Joe Biden, embora com maioria no Congresso, poder� ter dificuldades para elevar a carga tribut�ria das empresas de 21%, fixada pelo antecessor Donald Trump, para 28%, como no per�odo de Barack Obama. O pacote fiscal preparado pela equipe de Biden orienta as compras governamentais para as empresas norte-americanas. No entanto, s� isso n�o ser� suficiente, e h� quem aposte que a campanha para que todos comprem somente produtos nacionais ter� pouca efic�cia.
A guerra comercial entre os EUA e a China impactar� o Brasil. Apesar de estar no polo oposto, Biden converge com Trump em rela��o � tecnologia 5G, desenvolvida pela concorrente chinesa Huawei. A China, no entanto, � a primeira parceira comercial do Brasil. Os Estados Unidos ocupam a segunda posi��o. Desagradar a um ou outro deixa o governo brasileiro em situa��o delicada. A tecnologia chinesa aportou no Brasil. Biden n�o dever� ser t�o radical quanto Trump, mas poder� estabelecer limites � chinesa.
A condu��o da pol�tica ambiental brasileira � crucial para que as rela��es entre os atuais governos brasileiro e norte-americano sejam amig�veis. Biden anunciou que os EUA voltar�o ao Acordo de Paris, do qual o Brasil � signat�rio, e refor�ar� a tend�ncia dos pa�ses desenvolvidos de migrar para uma economia verde, com redu��o das emiss�es de gases de efeito estufa, respons�vel pelas mudan�as clim�ticas. Bolsonaro, por sua vez, coloca em d�vida o que diz a ci�ncia sobre o tema, assim como Trump. Juan Gonzalez, indicado por Biden para o cargo de diretor s�nior para o hemisf�rio ocidental no Conselho de Seguran�a Nacional, ser� o respons�vel por assuntos ligados � Am�rica Latina, entre eles o meio ambiente. Gonzalez � um cr�tico da pol�tica ambiental do Brasil.
A Organiza��o Mundial do Com�rcio (OMC) s� espera uma orienta��o de Biden para estabelecer san��es comerciais aos integrantes que desrespeitam o meio ambiente e n�o combatem o trabalho infantil e escravo, como ocorria nos anos 1990. Nessa perspectiva, o Brasil tamb�m seria afetado na OMC, uma vez que perdeu o status de pa�s em desenvolvimento, certo de que ingressaria na Organiza��o para a Coopera��o e o Desenvolvimento Econ�mico (OCDE), com o apoio de Trump – algo que n�o se concretizou. Para evitar mais percal�os, o Brasil ter� de ter habilidade diplom�tica e adequar pol�ticas � tend�ncia mundial. Caso contr�rio, corre o risco de se tornar um parceiro esquecido.