�lamo Chaves
Presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Regi�o de Minas Gerais e Esp�rito Santo
A leitura � um dos mais completos de todos os exerc�cios intelectuais. Ao ler, diversas �reas do c�rebro s�o estimuladas, criando imagens, sons e, at� mesmo, a voz do narrador na mente do leitor. Atrav�s da leitura, � poss�vel ter acesso a realidades, at� ent�o, inacess�veis, como os costumes da sociedade parisiense do s�culo 19 ou as particularidades dos czares russos. Por meio desse poder que os livros t�m de estimular emo��es e sentimentos, profissionais da psicologia, aliados aos bibliotec�rios e educadores, desenvolveram a biblioterapia como tratamento ps�quico.
Embora n�o seja amplamente aplicada como outros tratamentos psicol�gicos, a leitura terap�utica j� apresentou respostas satisfat�rias, corroborando com a tese de que ler, n�o s� agu�a a sensibilidade, como provoca a reflex�o de problemas profundos e dilemas pessoais. Logo, o m�todo passou a ser aplicado como um ant�doto para traumas, quest�es emocionais e autoconhecimento.
Realizada de maneira interdisciplinar, a biblioterapia � conduzida por psic�logos, bibliotec�rios e educadores, respons�veis por indica��es de leitura, condu��o de conversas sobre a obra e avalia��o do resultado. O tratamento prop�e estimular as emo��es atrav�s da identifica��o do leitor com os personagens para apaziguar os sentimentos adversos, em forma de catarse.
No sistema prisional, os resultados do m�todo s�o extraordin�rios na ressocializa��o dos detentos. Um dos exemplos mais admir�veis � o caso de Florindo, que em alguns meses, ser� o primeiro bibliotec�rio formado dentro de um pres�dio.
Quando chegou ao Centro de Progress�o Penitenci�ria de Jardin�polis, no interior de S�o Paulo, Florindo se orgulhava em afirmar que nunca tinha lido um livro e que detestava a leitura. Entretanto, por ironia da vida, o colocaram para trabalhar na biblioteca, como bibliotec�rio.
No in�cio, ele aprendeu a catalogar. Depois, come�ou a ler as obras e se interessou pelo curso de biblioteconomia. Hoje, Florindo mudou o discurso e se orgulha em dizer que os livros deram um sentido e uma perspectiva para sua vida.
Outro exemplo � o de Carlos, ex-detento de Jardin�polis e ex-coordenador do grupo do livro no local. Ao receber a not�cia que seria posto em liberdade, ficou desconcertado. Tomado pelo pavor, n�o sabia como sua fam�lia e a pr�pria sociedade lidariam com sua soltura. Tinha medo de n�o conseguir emprego pelo estigma de ex-presidi�rio. Contudo, foi atrav�s da biblioterapia, com a leitura do livro “Hermes, o motoboy”, de Fernando Vilela e Ilan Brenman, que Carlos encontrou al�vio para seu tormento e descobriu qual fun��o desempenharia depois de deixar a penitenci�ria.
Florindo e Carlos s�o apenas dois exemplos dos diversos resultados positivos que a leitura terap�utica tem na vida das pessoas. Os casos poderiam ser bem maiores, se as autoridades compreendessem a import�ncia da biblioterapia e n�o rejeitassem projetos de leis e requerimentos, como o PL 4.186/2012 e o Req. 1.298/2019, que permitiriam ao Sistema �nico de Sa�de (SUS) lan�ar m�o da leitura terap�utica para garantir aos brasileiros amplo acesso � literatura atrelada � sa�de mental.