Samuel Sampaio
Assessor da 3A Investimentos

Aentrada de capital estrangeiro, como o pr�prio nome sugere, refere-se � quantia ingressada no pa�s pertencente a pessoas f�sicas ou jur�dicas residentes, domiciliadas ou com sede no exterior. Esse movimento ocorre de quatro maneiras: investimento em moeda, convers�o de cr�ditos externos, importa��o de bens, e via mercado de capitais. Seus efeitos influenciam diretamente a demanda por moeda local e, por consequ�ncia, nossa taxa de c�mbio, deteriorada no ano de 2020. Cabe enfatizar que, como bom emergente, o Brasil � dependente dessa forma de financiamento devido ao elevado custo de capital interno quando comparado aos nossos parceiros mais desenvolvidos.
Nesse complexo tema da economia, que encontra partid�rios e contendores, o recorte ser� feito no mercado de capitais, mais especificamente ao fluxo de divisas destinadas � bolsa de valores. Historicamente, tem-se uma m�xima de que o estrangeiro dita o ritmo dos neg�cios e que sua entrada � sin�nimo de alta expressiva. Entretanto, esse postulado deve ser digerido com cautela. Afinal, n�o se pode considerar apenas os mercados secund�rio e prim�rio, os mais evidentes, mas temos tamb�m os futuros. Al�m disso, � poss�vel com que um n�o brasileiro fa�a o movimento via banco local e essa entrada se misture com os nativos, ou seja, a base de dados n�o � limpa o suficiente para cravarmos uma rela��o direta. O time do fundo Versa, por exemplo, fez a experi�ncia da correla��o entre movimentos de alta do �ndice com fluxo positivo de moeda forasteira e o valor encontrado foi de 43%, sendo que � considerado forte correla��o valores acima de 50%. Outros estudos publicados pela Revista Brasileira de Finan�as, como Fluxo de capital estrangeiro e desempenho do Ibovespa, de Roberto Meurer, por exemplo, refor�am que essa rela��o de alta n�o � trivial e se confunde, muitas vezes, com o investidor internacional interpretando melhora da sa�de macroecon�mica local, de forma mais direta que o sentido do mercado de capitais em si. Essa ressalva n�o desmerece a an�lise de fluxo, que continua sendo ferramenta importante e muito utilizada pelos agentes de mercado, mas nada que envolve rela��es humanas � preto no branco.
Esclarecida essa parte, aten��o para os �ltimos anos, os quais 2018, 2019 e 2020 foram deficit�rios de n�o residentes por aqui, com �nfase no primeiro semestre do ano passado, que foi um deus nos acuda, com saques superando os R$ 60 bilh�es at� junho. A pandemia e as medidas restritivas colocaram uma incerteza sem precedentes nas rela��es econ�micas. O medo tomou conta das rela��es sociais e os resgates foram percebidos em todo o globo. Posteriormente, os mercados emergentes n�o tiveram o mesmo �mpeto de recupera��o que os desenvolvidos; afinal, as discrep�ncias nos pr�mios de risco n�o justificavam. Por �ltimo, ainda entre as na��es em ascens�o, ficamos negativamente destacados, fruto de uma fragilidade fiscal agravada e uma pol�tica bastante controversa aos olhos do exterior at� ent�o. A situa��o s� n�o foi pior porque n�s, residentes, seguramos na unha o �ndice, reflexo de uma difus�o maior de informa��es sobre mercado financeiro e crescentes press�es no CDI, que for�aram de certa forma o capital local para a renda vari�vel.
Deixando o apocalipse financeiro no segundo semestre, mais precisamente nos derradeiros tr�s meses do ano, percebemos uma invers�o da corrente com novembro coroando quase R$ 34 bilh�es entrantes, isso considerando somente os mercados prim�rio e secund�rio, que s�o os mais populares entre o investidor m�dio que provavelmente est� lendo.
Tend�ncia essa evidenciada por um desfecho menos pior que o engendrado em meados de mar�o – claro, em se tratando do campo financeiro, a trag�dia humana � imensur�vel. Para incrementar o sentimento positivo, as primeiras campanhas de vacina��o se instalaram em pa�ses como Estados Unidos e Inglaterra, gerando aquela t�pica sensa��o de luz no fim do t�nel. Nas terras do Tio Sam, tivemos um desfecho eleitoral ameno sem a chamada onda azul, que seria a domin�ncia total democrata, garantindo um equil�brio que o mercado exigia. Por �ltimo e talvez mais importante para as bolsas globais, as pol�ticas monet�rias afrouxaram de forma exponencial e os mercados foram inundados de capital. De fato, as autoridades monet�rias mundo afora n�o mediram esfor�os para estancar as sangrias e manter as expectativas em campo positivo.
Adicionando a realidade local a esses fatores universais, fica evidente o motivo de a tend�ncia se intensificar de forma ainda mais explosiva no ano de 2021. O real brasileiro foi depreciado demasiadamente, at� se comparado aos seus pares, barateando o capital externo. Soma-se a isso um ciclo de commodities conduzindo o excesso de capital gerado e a retomada inerente que, organicamente, vai demandar por insumos b�sicos. Al�m disso, temos a pol�tica keynesiana colocando domin�ncia fiscal em pa�ses como a China, que pretendem financiar projetos internos de infraestrutura e log�stica no intuito de assumir a lideran�a econ�mica global. Nessa breve descri��o o assunto abordado indiretamente � min�rio, petr�leo e tamb�m alimentos. Consegue imaginar um cen�rio mais Brasil que esse?
O resultado vem sendo evidenciado pelo saldo do ano, com ponta comprada estrangeira acumulando mais de R$ 44 bilh�es.
Esclarecido o caminho para um 2021 positivo, � necess�rio fortificar os pilares que o momento carece. Primeiro, a vacina��o em massa para acabar com as restri��es de mobilidade e, obviamente, p�r um fim a essa trag�dia. Segundo, o governo n�o pode se envenenar com o populismo e descuidar das contas p�blicas. Mesmo com revis�es de PIB positivas, a situa��o da d�vida n�o permite desleixo. Por �ltimo, vale lembrar que o cen�rio � v�lido para tudo mais constante, pois eventos inesperados e imprevis�veis, como o mercado financeiro gosta de referendar os cisnes negros de Taleb, podem acontecer a qualquer momento e apenas uma estrat�gia diligente � capaz de enfrentar per�odos turbulentos.
