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Estado de Minas artigo

Una�: em mem�ria de nosso futuro

A Chacina de Una� nos mostra que a civiliza��o brasileira � uma obra inacabada, ainda somos travessia


28/01/2022 04:00




T�lio de Souza
Advogado e vice-presidente do Conselho 
Empresarial de Assuntos Jur�dicos da ACMinas

Guimar�es Rosa fez do sert�o, lugar esquecido, uma representa��o dos universos e da humanidade. De seus personagens, ora sofridos, ora violentos, temos uma hist�ria de civiliza��o, de choque de culturas e de usos, de tudo aquilo que resulta na forma��o de um povo, da gente brasileira.

A obra de Guimar�es Rosa conta de maneira rom�ntica, quase mitol�gica, como foi nossa “marcha para o Oeste”. A conquista do territ�rio pelo homem, deixando para tr�s o litoral em busca de um peda�o de terra onde prosperar, a exemplo do que se deu nos Estados Unidos 100 anos antes – h� certa semelhan�a entre os bandos de jagun�os roseanos e os bandos de foras da lei dos cultuados filmes de faroeste.

A apoteose de “Grande sert�o: Veredas” � a luta de Riobaldo Tatarana e Herm�genes, o C�o, a fim de se restaurar n�o a lei, pois lei ali n�o existia – “Sert�o � onde manda quem � forte, com as ast�cias. Deus, mesmo, se vier, que venha armado...” –, mas a dignidade daqueles que viviam amea�ados pela ira de Herm�genes.

E foi no sert�o de Una�, distante uns 200 quil�metros do Liso do Sussuar�o – a travessia de Guimar�es Rosa – que em 28 de janeiro de 2004 ocorreu um epis�dio infame da nossa “marcha para o Oeste”: quatro auditores do Minist�rio do Trabalho foram assassinados por conta do seu of�cio, que era devolver a dignidade a trabalhadores para ali levados para trabalhar, e mantidos em condi��es an�logas � escravid�o.

Em pleno s�culo 21, somos surpreendidos com fatos de s�culos passados: pistolagem e escravid�o. E o que pens�vamos ter ficado para tr�s se colocava diante de toda sociedade, um paradoxo. A pistolagem sob o imp�rio da Constitui��o e do Estado de direito.

E o Brasil � assim: n�o faltam epis�dios onde nosso presente luta com o futuro, para permanecer no passado, e na maioria das vezes a viol�ncia e o desprezo pelas institui��es s�o marca desses epis�dios.

Mas Una� n�o deve ficar na mem�ria pelo epis�dio nefasto, mas como o lugar onde se concretizou a obra de homens que pensaram o futuro do Brasil: Una� representa a conquista do cerrado pelo homem brasileiro, aquilo que um dia foi projeto de Jo�o Pinheiro, Te�filo Otoni, Bias Fortes, Luiz de Queiroz e Alysson Paulinelli. Foi a agricultura do cerrado, projeto acalentado desde o final do s�culo 19 e materializado em finais do s�culo 20, em cidades como Una�, que fez o Brasil a pot�ncia agr�cola mundial e que definitivamente incorporou ao pa�s o “Brasil Profundo”, h� tanto esquecido.

Mas n�o adianta sermos uma pot�ncia agr�cola � custa da dignidade alheia, e do desrespeito �s leis. Vai mal o pa�s onde poucos prosperam � custa da espolia��o alheia, pior fica quando estes mesmos que espoliam fazem isso porque se acham a lei.

A Chacina de Una� nos mostra que a civiliza��o brasileira � uma obra inacabada, ainda somos travessia, e como tal devemos seguir com esperan�a e coragem: “E nisto, que conto ao senhor, se v� o sert�o do mundo. Que Deus existe, sim, devagarinho, depressa. Ele existe – mas quase s� por interm�dio da a��o das pessoas: de bons e maus. Coisas imensas no mundo. O grande-sert�o � a forte arma. Deus � um gatilho?". (Guimar�es Rosa)


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