� inacredit�vel como o governo e o Congresso est�o na dire��o oposta do que defende a sociedade – pelo menos aquela mais consciente das suas responsabilidades. Isso ficou expl�cito diante da decis�o de parlamentares, com total apoio do Pal�cio do Planalto, de colocarem em vota��o o regime de urg�ncia do projeto de lei que libera a minera��o em terras ind�genas. O arranjo pol�tico foi fechado no mesmo instante em que um grupo de artistas e ativistas ambientais se manifestavam em Bras�lia contra as propostas legislativas que abrem a porteira para a destrui��o mais r�pida da Amaz�nia. Um esc�rnio que, como bem frisou Caetano Veloso, custar� caro �s pr�ximas gera��es.
A boiada, liderada pelo presidente da C�mara, Arthur Lira, usa como argumento a necessidade de o Brasil reduzir a depend�ncia de fertilizantes do exterior, em especial da R�ssia e de Belarus, que est�o sofrendo pesadas san��es comerciais depois de o pa�s de Vladimir Putin invadir a Ucr�nia. No geral, o pa�s compra no exterior mais de 80% dos adubos consumidos pelos agricultores. O Brasil � o �nico grande produtor de alimentos que n�o � autossuficiente na produ��o de insumos para aumentar a produtividade no campo.
Nada disso, por�m, justifica o governo e o Congresso darem as m�os para liberar a invas�o de terras de povos origin�rios, que, sabe-se, s�o os maiores protetores da floresta. At� porque, levantamentos do pr�prio setor p�blico indicam que as principais reservas de pot�ssio n�o est�o na Amaz�nia, mas nos estados do Sudeste. Ou seja, tudo indica que h� outros interesses por tr�s do projeto que est� em tramita��o na C�mara. N�o � segredo para ningu�m que sempre foi prioridade do atual governo e de parlamentares do Centr�o liberar geral a explora��o de minerais em �reas demarcadas.
Felizmente, depois de muita press�o, Lira deixou para a segunda quinzena de abril a vota��o do PL 191. A previs�o, agora, � de que um grupo de trabalho avalie o texto e apresente sugest�es. O melhor a ser feito, contudo, � enterrar de vez o projeto, para que o desastre n�o se confirme. Parlamentares avan�aram todos os sinais no sentido de destruir a pol�tica ambiental brasileira, considerada uma das mais avan�adas do mundo. Legalizar o garimpo em terras ind�genas ser� a senten�a de morte. A �ltima barreira a ser ultrapassada.
Ningu�m � ing�nuo de pensar que nada est� acontecendo na Amaz�nia. O crime organizado tomou conta da regi�o, est� matando �ndios, ambientalistas e ativistas locais, al�m de poluir os rios. Nesse caso, cabe aos poderes constitu�dos combaterem a bandidagem com rigor, n�o dar sinal verde de que tudo pode, com o benepl�cito da lei. Em vez de concentrar esfor�os para facilitar a destrui��o de florestas, Congresso e governo deveriam se unir para criar leis ainda mais r�gidas e punir com rigor aqueles que as desrespeitam.
N�o � hora de fechar os olhos, muito menos de entregar as chaves para o desmatamento, o enfraquecimento da soberania dos territ�rios ind�genas, a explora��o indiscriminada do solo e o uso de metais pesados e de agrot�xicos. Se insistir nesse caminho, o Brasil s� ter� a perder. Sua imagem j� est� desgastada demais no exterior. Mais: os erros cometidos at� agora s�o os culpados pelas centenas de mortes causadas recentemente pelas chuvas na Bahia, em Minas Gerais, em S�o Paulo e no Rio de Janeiro. O descontrole ambiental e a ocupa��o desordenada facilitaram as trag�dias. Com eventos extremos cada vez mais frequentes, o caos estar� contratado se o governo e o Congresso atenderem aos interesses de grupos espec�ficos. Um pouco de consci�ncia n�o far� mal. Pelo contr�rio.