O potencial maior fornecedor de alimentos para o planeta tem fome. Dono do setor produtivo mais moderno do mundo, segundo avalia��o da Confedera��o a Agricultura e Pecu�ria do Brasil (CNA), o pa�s do agroneg�cio, quarto maior exportador mundial de produtos agropecu�rios, atr�s apenas da Uni�o Europeia, Estados Unidos e China, v� mais de 33 milh�es de seus habitantes passarem fome.
Os n�meros revelados pelo 2º Inqu�rito Nacional sobre Inseguran�a Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil (2º Vigisan), produzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Seguran�a Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), mostram um retrato assustador e contradit�rio de um pa�s que se vangloria de sua produ��o de alimentos, enquanto 15,5% de seus habitantes enfrentam falta do que comer e mais da metade deles (125,2 milh�es de pessoas) convivem com algum grau de inseguran�a alimentar.
� algo como se toda a popula��o japonesa n�o soubesse exatamente como poderia se alimentar a cada novo dia. Ou como se todos os habitantes de B�lgica, Bol�via e Haiti, somados, convivessem diariamente com o fantasma da fome. Em padr�es de nosso pa�s continente, significa que entre o �ltimo trimestre de 2020 e o primeiro de 2022, a forma mais grave de inseguran�a alimentar incorporou ao seu ex�rcito de famintos mais 14 milh�es de brasileiros. Um n�mero assustador, equivalente a dois ter�os dos moradores de Minas Gerais ou quase cinco vezes os que vivem no Distrito Federal.
As entrevistas para chegar a esses dados foram feitas de novembro de 2021 a abril deste ano em todas as regi�es do pa�s, abrangendo 12.745 moradias em 577 munic�pios distribu�dos pelas 27 unidades da federa��o, produzindo uma retrato considerado representativo do conjunto da popula��o. Ele traduz em n�meros o que se v� na pr�tica nas grandes cidades, onde a multiplica��o da popula��o de miser�veis exp�e a deteriora��o das condi��es sociais de um pa�s em que a minoria dos lares, apenas 41,3%, se revelaram em conforto nutricional. E na zona rural a situa��o n�o melhora – pelo contr�rio: 18,6% dos lares enfrentam fome fora das �reas urbanas.
“A progressiva crise econ�mica, a pandemia e o desmonte das pol�ticas p�blicas que poderiam minimizar o impacto das duas primeiras explicam o recrudescimento da inseguran�a alimentar e da fome entre o final de 2020 e o in�cio de 2022”, diz trecho do relat�rio.
A partir da divulga��o dos n�meros – e os aqui citados s�o apenas alguns dos mais impressionantes, em um mar de dados produzido pelo estudo – as estat�sticas est�o dispon�veis para serem analisadas, apropriadas e debatidas sob diferentes vieses. O que n�o parece deixar muita margem de d�vida, com base no relat�rio, � o agravamento das condi��es enfrentadas pela popula��o mais carente, ao qual os programas sociais em vigor n�o d�o conta de dar resposta.
O relat�rio mostra que mesmo o Aux�lio Brasil, pago no per�odo avaliado, n�o foi capaz de afastar a fome de 21,5% das fam�lias que conseguiram o benef�cio. Na mesma linha, reportagem publicada pelo jornal Estado de Minas, dos Di�rios Associados, mostrou que benefici�rios do Aux�lio G�s n�o t�m conseguido sequer comprar o botij�o: muitos cozinham a lenha – e eles agradecem quando h� o que p�r nas panelas.Mudar esse triste retrato de um pa�s onde o agroneg�cio pr�spero e produtivo divide territ�rio com uma legi�o de famintos � tarefa de governos, sim, mas exige muito mais: exige um sentimento de inconformismo, mobiliza��o e urg�ncia em todos os setores da sociedade.
Em seu primeiro encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na 9ª C�pula das Am�ricas, o chefe do Executivo brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), chegou a afirmar: “O Brasil alimenta mais de 1 bilh�o de pessoas pelo mundo com agricultura de ponta, mecanizada, e com tecnologia incompar�vel. O mundo hoje, ouso dizer, depende muito do Brasil para sua sobreviv�ncia.” Os brasileiros, demonstra o estudo sobre a fome, tamb�m.
