Na �ltima semana o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), leu o requerimento que determina a abertura da Comiss�o Parlamentar Mista de Inqu�rito sobre os ataques golpistas de 8 de janeiro. A press�o para instalar uma CPMI estava presente desde a ocorr�ncia dos ataques, mas a divulga��o de imagens do ent�o ministro chefe do Gabinete de Seguran�a Institucional, general Gon�alves Dias, assistindo placidamente ao avan�o dos terroristas no Pal�cio do Planalto, precipitou os fatos. A revela��o das cenas aumentou a troca de acusa��es entre governo e oposi��o, que passaram a especular quem seria o maior respons�vel pelos atos infames de 8 de janeiro.
Paralelamente � iniciativa do Congresso Nacional, a C�mara Legislativa do Distrito Federal conduz uma CPI a fim de averiguar as ocorr�ncias do dia 8. Chamou a aten��o o testemunho da subsecret�ria de Opera��es Integradas da Secretaria de Seguran�a P�blica do DF, a coronel da PM C�ntia Queiroz de Castro. Em depoimento � CPI dos deputados distritais, na �ltima quinta-feira, a militar reconheceu dois fatos graves. O primeiro: em pelo menos tr�s ocasi�es, o Ex�rcito teria impedido o Governo do Distrito Federal de desmontar o acampamento de bolsonaristas em frente ao Quartel-General da For�a. O segundo: no dia da invas�o, policiais militares demoraram para agir, apesar dos insistentes pedidos de ajuda de oficiais que tentavam conter o avan�o dos v�ndalos.
As duas CPIs, realizadas em �mbito federal e distrital, representam iniciativas importantes do Legislativo para identificar a sequ�ncia de falhas e delitos que marcaram o odioso epis�dio ocorrido em Bras�lia. � preciso dizer sempre, com todas as letras: os tr�s Poderes da Rep�blica foram atacados, desonrados, depredados, vilipendiados por uma horda de criminosos que n�o respeitou as bases que sustentam o regime democr�tico no Brasil. Trata-se de crime que vai muito al�m de qualquer diverg�ncia pol�tica, pois ofende os princ�pios estabelecidos pela Constitui��o.
Esse deve ser o ponto de partida de qualquer investiga��o s�ria que se queira conduzir sobre os fatos. N�o pode haver crime sem puni��o. E as informa��es reunidas at� aqui apontam uma sucess�o extraordin�ria de erros, atitudes suspeitas e explica��es ris�veis para uma trag�dia pol�tica e institucional da maior gravidade. N�o podem ser levadas a s�rio as declara��es do ex-presidente Jair Bolsonaro, que afirmou estar sob efeito de morfina quando postou mensagem – mais uma – questionando as elei��es; ou os “lapsos de mem�ria” alegados pela defesa de Anderson Torres para entregar senhas inv�lidas aos investigadores da Pol�cia Federal.
Espera-se que os trabalhos no Legislativo, federal e local, n�o se deixem contaminar pela pol�tica partid�ria. A ocorr�ncia de um certo palanque ser� inevit�vel, mas roga-se aos parlamentares que visem a um objetivo maior, que � a repara��o do profundo dano causado � democracia brasileira. O mesmo rigor e respeito ao processo legal espera-se do Supremo Tribunal Federal. Em algum momento, a Corte, atacada frontalmente em 8 de janeiro, pronunciar� as penas a serem aplicadas aos mentores e aos executores do crime de lesa-p�tria praticado na capital da Rep�blica. Que a ordem e a Justi�a prevale�am, acima da pol�tica.