Alexandre Hashimoto
Especialista em gest�o e neg�cios e doutor em sustentabilidade e empreendedorismo
At� meados dos anos 1990, as organiza��es eram avaliadas quanto ao seu desempenho somente pelo vi�s financeiro (lucro ou preju�zo). Mas o ingl�s John Elkington, conhecido como o pai da sustentabilidade corporativa, entendeu que al�m do aspecto financeiro era importante saber como as organiza��es chegavam ao resultado apresentado, considerando sua intera��o com as pessoas e tamb�m com o meio ambiente. Nascia ali o conceito do Trip� da Sustentabilidade.
Nos anos seguintes, essa discuss�o se concentrou majoritariamente em mercados com foco mais comercial ou restrita �s grandes empresas. Contudo, o document�rio “Uma verdade inconveniente” (2006), produzido pelo ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, lan�ou luz � quest�o dos efeitos devastadores do aquecimento global e os riscos ao planeta, ligando um sinal de alerta em todas as cadeias produtivas mundo afora.
Tive a honra de ter sido um dos primeiros profissionais no Brasil a discutir a Sustentabilidade na Sa�de, por meio do desenvolvimento e implanta��o do primeiro departamento de Sustentabilidade Corporativa em um hospital p�blico no pa�s e na Am�rica Latina, em 2010: o Hospital Municipal de Cubat�o, no litoral de S�o Paulo.
� �poca, em meio a um quase total desconhecimento sobre o projeto, sobre questionamentos em “investimento sem retorno” e outras mazelas, conseguimos resultados formid�veis, como a redu��o em 7% do custo operacional da unidade, apenas com a implanta��o de uma pol�tica de consumo consciente, ao rever padr�es de consumo, qualificando fornecedores e otimizando processos. Tivemos diversos ganhos, como exposi��o espont�nea positiva na m�dia nacional e internacional, redu��o do absente�smo e rotatividade, dentre outros.
Nos �ltimos anos, a discuss�o sobre sustentabilidade avan�ou, mas n�o de forma igualit�ria e qualificada. � extremamente comum conversar com diretores de hospitais, laborat�rios e outros servi�os de sa�de e descobrir que a pol�tica de sustentabilidade da institui��o consiste em disponibilizar lixeiras para a coleta seletiva de res�duos, que na maioria das vezes servem para tudo, menos para o descarte de recicl�veis. E quando questiono o motivo de n�o existir uma estrat�gia clara para o tema, conectada ao planejamento estrat�gico, a resposta padr�o �: “n�o � o momento de falarmos disso”; ou “n�o temos recursos”; ou ainda: “a Comiss�o de Res�duos e a Comiss�o de Humaniza��o j� cuidam bem disso”.
Esses erros crassos ocorrem por falta de conhecimento qualificado sobre sustentabilidade, mesmo entre os gestores nos n�veis mais elevados da hierarquia. Isso faz com que o tomador de decis�es n�o tenha sensibilidade para saber, por exemplo, que sustentabilidade n�o � s� meio ambiente, como � amplamente difundido, mas a capacidade que aquela organiza��o ou ecossistema de sa�de tem de se manter operando por longas d�cadas.
Al�m disso, � muito comum o gestor imaginar altos custos com reformas nas instala��es f�sicas, coloca��o de pain�is solares ou softwares de �ltima gera��o. Mas antes mesmo de falarmos em recursos � preciso preparar os atores envolvidos no processo e construir uma cultura de sustentabilidade, baseada em sensibiliza��o, capacita��o e melhoria cont�nua. Muitas vezes isso requer investimento zero, a n�o ser tempo e resili�ncia.
Tudo aquilo que � cultural leva tempo para ser constru�do de forma s�lida, e sustentabilidade n�o � diferente. Isso esbarra na vis�o imediatista que busca por resultados a curto prazo, al�m da dificuldade em tangibilizar resultados como melhoria na percep��o de valor da sua marca e outros resultados que s�o mais “abstratos” que a redu��o na conta de luz ou �gua, de um m�s a outro.
Para ser realmente “sustent�vel” uma organiza��o precisa buscar aprendizagem constante e ter a inova��o e adaptabilidade no core do neg�cio, tendo finalidade lucrativa ou n�o, p�blico, privado, de grande ou pequeno porte. Em suma, trabalhar a sustentabilidade � gerar maior efici�ncia operacional e competitividade, para n�o correr o risco de desaparecer, caso as pol�ticas p�blicas n�o acompanhem a mesma filosofia.