
No anivers�rio de 300 anos de Minas Gerais, um dos setores mais importantes da economia do estado tem o que comemorar. Mesmo em meio � pandemia do novo coronav�rus, a agropecu�ria mineira deve produzir R$ 76,7 bilh�es em 2020, 18% a mais do que em 2019, segundo estimativa do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento.
Ao longo da hist�ria, os produtores rurais mineiros conseguiram unir a tradi��o e o desenvolvimento tecnol�gico para fazer do estado uma refer�ncia nacional e mundial na cultura de caf� e produ��o de leite, entre outros produtos.
Ao lado da minera��o e do com�rcio, o agroneg�cio � um dos tr�s pilares econ�micos que definiram a forma��o de Minas ao longo desses 300 anos, segundo M�rio Rodarte, professor-adjunto da Faculdade de Ci�ncias Econ�micas da UFMG.
O pesquisador explica que a agricultura, a cria��o de gado e a produ��o de latic�nios, especialmente queijos, se desenvolveram no estado a partir do estabelecimento dos estados vizinhos de S�o Paulo e Rio de Janeiro como grandes mercados consumidores.
“No in�cio do s�culo 19 j� havia uma certa diminui��o do fluxo de ouro, que teve seu auge no s�culo 18. A chegada da fam�lia real ao Rio de Janeiro em 1808 desenvolveu a cidade econ�mica e demograficamente”, explica Rodarte. Al�m da ent�o capital federal, o estado de S�o Paulo, outro grande produtor agr�cola e pecu�rio, passou a se converter para a produ��o de caf�, o pr�ximo grande produto da economia brasileira. “Essa composi��o regional acabou gerando um espa�o econ�mico de divis�o do trabalho em que Minas ficava com a agricultura de mantimento, a pecu�ria e a ind�stria de latic�nios.”
O principal produto do agroneg�cio mineiro � o caf�
De Minas Gerais sai aproximadamente metade da produ��o brasileira do gr�o. Segundo os dados mais recentes da Funda��o Jo�o Pinheiro (FJP), de 2018, o caf� representa 38,6% do valor bruto de produ��o da agricultura mineira, � frente da soja 17,1%), cana-de-a��car (16%), milho (10%) e feij�o (3%).
Na safra de 2020, mesmo com a pandemia do novo coronav�rus, o estado deve colher 34,6 milh�es de sacas de caf�, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O n�mero representa novo recorde hist�rico, acima das 33,4 milh�es de sacas colhidas em 2018.
Desenvolvimento
A hist�ria do caf� em Minas come�a no s�culo 18, no auge do Ciclo do Ouro. Segundo o historiador Ant�nio Carlos Moreira, no livro /Hist�ria do caf� no Brasil/, os tropeiros traziam sementes de caf� na volta das viagens em que transportavam ouro. As lavouras se desenvolveram e fizeram da Zona da Mata a regi�o mais rica do estado.
No s�culo 19, com a atividade j� estabelecida, a pouca infraestrutura de transporte era um problema, j� que boa parte da produ��o se perdia pelo caminho. No Segundo Reinado, a constru��o de ferrovias aumentou a efici�ncia. No in�cio do s�culo 20, a economia do caf� j� era o motor de cidades como Lavras, Alfenas, Guaxup�, Varginha e Tr�s Cora��es.
Hoje, os cafeicultores investem em t�cnicas baseadas em pesquisa e tecnologias que buscam aumentar cada vez mais a produtividade da lavoura. � o caso do produtor e agr�nomo Alessandro Oliveira, que trabalha h� 32 anos com caf� e administra cerca de 620 hectares de planta��o em S�o Roque de Minas. Em 2000, ele come�ou a testar t�cnicas na propriedade, e presta consultoria para outros produtores com o que aprende. “Comecei porque era um agr�nomo com um peda�o de terra. Vou testando e ampliando o que d� certo. Alguns duvidam, mas depois de aplicar o produtor v� o resultado”, conta.

Em colabora��o com o engenheiro agr�nomo Jos� Peres Romero, Oliveira desenvolveu um conjunto de t�cnicas de manejo conhecido como Sistema AP Romero. Uma delas envolve aplica��o de gesso agr�cola, que confere doses de c�lcio e enxofre ao solo.
Com isso, a planta consegue criar ra�zes mais profundas, de at� dois metros, e alcan�a a �gua que est� dispon�vel. O sistema tamb�m inclui uma tecnologia que permite um espa�amento menor entre as ruas de caf�, o que aumenta a produtividade. Outra t�cnica � a instala��o de outra planta na lavoura, a braqui�ria, que contribui para o n�vel de mat�ria org�nica no solo.
O cafeicultor acredita que Minas Gerais tem aptid�o para a produ��o de caf�, com altitude, solo e clima pr�prios para a cultura. “Isso gerou riqueza, o produtor ganhou dinheiro e continuou apostando”, afirma. Oliveira defende que se trata de uma atividade justa, que recompensa quem se dedica, mesmo come�ando com pouco.
“Com 30 hectares j� se faz muito. Se fizer tudo certo ningu�m segura. O benef�cio que o caf� d� para o pequeno e m�dio produtor contribuiu muito para a posi��o que Minas ocupa, de maior produtor do Brasil e do mundo”, diz.
Minas � o maior produtor de leite do Brasil
Al�m da lideran�a na cafeicultura e proemin�ncia em outras culturas agr�colas, Minas Gerais se destaca pela produ��o de leite, que � o principal produto de origem animal do estado, por uma larga margem.
Segundo os dados da FJP, a ordenha de leite representava 87,3% do valor bruto de produ��o desse segmento, seguida de ovos (12,3%) e mel de abelha e l� (0,4%). O estado � o maior produtor de leite do Brasil, com previs�o de ter produzido 7,6 bilh�es de litros em 2020, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu�ria (Embrapa).
O retorno oferecido pela produ��o de leite em Minas, que une o tradicionalismo e a tecnologia, atrai o investimento at� de quem deseja mudar de carreira. Maria Stelita Vaz Goulart trabalhou como dentista por 32 anos e decidiu se aposentar em 2013, sentindo muitas dores. Ela decidiu assumir a propriedade rural da fam�lia, em Piumhi, e come�ou a investir em ordenha de leite, por conferir uma rentabilidade mensal, ao contr�rio do gado de corte.
Hoje, em um espa�o de 58 hectares, com 137 animais, oito funcion�rios, e duas ordenhas, a produ��o anual m�dia � de 4 mil litros de leite por dia. “At� hoje tenho clientes que pedem para voltar, gosto muito da minha profiss�o. Mas eu ficava presa de segunda a sexta. Na fazenda, por outro lado trabalho em campo aberto, tenho muito mais liberdade”, conta Maria Stelita.

Por�m, ela destaca que n�o � um neg�cio para quem quer realizar um sonho id�lico de viver no campo. “Antigamente se pensava que era s� ter uma vaquinha, um peda�o de terra. Hoje n�o, � um neg�cio de ponta, a fazenda � uma empresa rural. � uma oportunidade, se for bom ganha dinheiro, mas precisa estudar e aprender”, afirma a produtora. A pr�xima meta � robotizar a ordenha e chegar a ter 180 animais, o que levaria a produ��o para 6 mil litros por dia.
“Minas mudou muito de perfil. Hoje se voc� procura tecnologia encontra f�cil. O que aprendi na odontologia sobre organiza��o, esteriliza��o, consegui levar para fazenda. E assim conseguimos trabalhar com leite de qualidade, esse � o diferencial”, diz Maria Stelita.
Setor aliment�cio
Integrado � cadeia produtiva da agropecu�ria mineira, especialmente representado pelo segmento de latic�nios, o setor industrial aliment�cio no estado tamb�m se moderniza.
Essa ind�stria foi se desenvolver no Brasil apenas depois da independ�ncia, j� que a Coroa portuguesa proibia produtos manufaturados no pa�s. Na virada do s�culo 20, Minas se destacava principalmente pela produ��o artesanal de queijo, manteiga e vinho, de acordo com o livro /A ind�stria no estado de S�o Paulo em 1901/, de Antonio Francisco Bandeira.
Atualmente, a ind�stria aliment�cia no estado conta com 7.812 empresas, que empregam mais de 171 mil pessoas, com receita l�quida de R$ 76,5 bilh�es, segundo dados de 2018 compilados pela Federa��o das Ind�strias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
Confira mais not�cias sobre o especial Minas 300 anos. Uma parceria entre o banco Mercantil do Brasil e o jornal Estado de Minas.