Documentos comprovam neg�cios suspeitos do casal Jorge e Deborah Guerner

Documento da Junta Comercial do Reino Unido — Companies House — atesta a sociedade entre os empres�rios Jorge Guerner e os irm�os Renato e Roberto Cortopassi, donos da construtora WRJ, na constitui��o de uma empresa sediada em Londres. Registrada inicialmente como WRJ Engenharia International LLP, a firma que depois passou a se chamar Solurb International LLP estava instalada em endere�o nobre da capital brit�nica, na 7 Welbeck Street, a menos de 2 km do Pal�cio de Buckingham, a resid�ncia oficial da rainha Elizabeth II. As informa��es, em poder do Minist�rio P�blico Federal e do Conselho Nacional do Minist�rio P�blico (CNMP), indicam que a promotora Deborah Guerner participou de reuni�es em 2006 no gabinete do ent�o procurador-geral de Justi�a do DF, Leonardo Bandarra, em que foram discutidos interesses de s�cios do marido dela, sobre contratos de limpeza urbana do DF.

A rela��o do casal Guerner com neg�cios de lixo � uma das principais linhas de investiga��o dos procuradores regionais da Rep�blica Ronaldo Albo e Alexandre Espinosa, que j� aju�zaram tr�s den�ncias contra eles no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Regi�o, relacionadas a outros crimes. Eles tentam agora rastrear suposta influ�ncia da promotora em favorecimento a empresas de limpeza. Em novembro de 2006, ela intermediou reuni�es em que representantes do Governo do Distrito Federal (GDF) discutiram com o Minist�rio P�blico do DF proposta de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) relacionado � terceiriza��o de limpeza urbana da capital, at� ent�o sob a responsabilidade exclusiva da Qualix Servi�os Ambientais. O mercado seria dividido entre empresas at� a realiza��o de uma outra licita��o no governo que assumiria em janeiro de 2007.

Aterro sanit�rio

Deborah Guerner n�o tinha nenhum motivo funcional para participar das reuni�es entre a ent�o governadora Maria de Lourdes Abadia, Bandarra e outros promotores que atuavam diretamente na fiscaliza��o dos neg�cios. Deborah estava lotada numa das promotorias de Fazenda P�blica, sem rela��o direta com o tema. A proposta do GDF previa entregar sem licita��o � WRJ Engenharia Ltda., empresa sediada em Bras�lia, de propriedade dos irm�os Cortopassi, um dos neg�cios mais disputados na �rea do lixo: a implanta��o e opera��o do aterro sanit�rio de Bras�lia. Um empreendimento que poderia render at� R$ 30 milh�es por ano.

O TAC n�o foi assinado por discord�ncia de promotores de Justi�a que n�o aceitaram assinar o documento. Em depoimento prestado ao longo das investiga��es, o promotor Ivaldo Lemos J�nior, da 5ª Promotoria de Patrim�nio P�blico, respons�vel pela fiscaliza��o dos contratos de lixo, relatou ter sido procurado por Deborah “tr�s ou quatro dias seguidos” no gabinete dele para conversar sobre limpeza p�blica. Ela teria apresentado algumas sugest�es sobre como deveria ser administrado o servi�o. Na conversa, a promotora, segundo Ivaldo, disse que havia estudado o assunto durante o per�odo em que se licenciou do cargo no Minist�rio P�blico do DF, durante tr�s anos, para acompanhar os neg�cios do marido em S�o Paulo. Segundo o promotor, Deborah defendia a quebra do monop�lio da Qualix e a celebra��o de contratos emergenciais. Ele n�o assinou o termo.

Na �poca das reuni�es entre GDF e MP, havia a suspeita de que Deborah Guerner era a autora do documento. A defesa da promotora sustenta que os Guerner nunca foram s�cios dos Cortopassi e afirma que eles, inclusive, s�o brigados. De acordo com os documentos da Junta Comercial inglesa, eles desfizeram a sociedade em outubro de 2009.

Sem licita��o

Durante o governo de Jos� Roberto Arruda, a demora na conclus�o da licita��o para o setor provocou uma despesa de R$ 500 milh�es com a limpeza p�blica, em contratos emergenciais, sem licita��o, de 2007 a 2009. Nesse per�odo, oito empresas atuaram. S�o elas: Enget�cnica, Serquip, Caenge, Nely Transportes, Delta Constru��es, Valor Ambiental, Artec e Qualix.