
O vice-presidente deixou Bras�lia para participar de um evento militar em Porto Alegre e se reuniu com o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva para discutir pontos da reforma pol�tica. Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas concedida em Nova Iork, o vice-presidente disse que considera superada o que chamou de crise administrativa do governo e avisa: “Estamos colaborando com o governo e colaboraremos em qualquer hip�tese”, afirmou, referindo-se ao PMDB.
Ele n�o v� entraves no relacionamento entre os dois partidos, nem mesmo no caso das elei��es de 2012, especialmente para a Prefeitura de S�o Paulo. “Quem chegar ao segundo turno apoiar� o outro”, antecipa. Temer considera que o governo n�o ter� problemas para ver aprovados os projetos mais importantes que atualmente tramitam no Senado, como a Emenda 29, ainda que sem a determina��o de uma nova fonte de recursos para financiar a sa�de. “O governo n�o est� discutindo essa hip�tese da cria��o de um imposto”, afirma.
Entretanto, Temer admite que o Congresso ter� dificuldades para aprovar uma reforma pol�tica. De acordo com o vice-presidente, n�o existem grandes grupos travando duelos por um projeto espec�fico, mas uma disputa individual entre parlamentares de todas as legendas. “A reforma pol�tica n�o � uma quest�o s� dos partidos, mas � quase que individualizada de cada deputado ou senador.” Confira os principais trechos da entrevista.
O senhor veio ajudar a vender o Brasil aqui fora?
Sim. Nesta segunda-feira, abro um semin�rio sobre economia verde, desenvolvimento sustent�vel e meio ambiente. Na ter�a, h� um almo�o no Conselho das Am�ricas, uma institui��o que congrega muitos investidores, brasileiros e norte-americanos. � uma maneira de continuar divulgando o pa�s, porque a presidente Dilma j� o divulgou suficientemente, com um belo, afirmativo e assertivo pronunciamento na ONU.
Dilma Rousseff n�o s� criticou a posi��o dos pa�ses desenvolvidos em rela��o � crise econ�mica, como tamb�m disse que a capacidade de resist�ncia do Brasil n�o � ilimitada. Que pontos deixam a economia vulner�vel?
Foi mais uma precau��o que ela tomou, porque hoje ningu�m sabe que tamanho ainda ter� essa crise. Sempre ou�o dizer, nas reuni�es de coordena��o com a presen�a do ministro Guido Mantega, que o Brasil tem uma situa��o de reservas internacionais que n�o tinha no passado. S�o US$ 350 bilh�es, al�m de US$ 20 bilh�es no Fundo Soberano. E ainda tem o know-how da crise anterior, um conhecimento que serve para o enfrentamento da nova crise. Tanto que a mensagem tem sido mais ou menos a mesma: continuem a consumir para que se possa continuar a produzir e, como consequ�ncia, n�o gerar o desemprego.
Em rela��o � pol�tica interna, a crise passou depois das mudan�as no governo?
N�o chegou a haver crise pol�tica no pa�s. Houve uma pequena crise de natureza administrativa. Eu dimensiono as crises nesta propor��o: a administrativa tem um tamanho, a pol�tica � maior e a institucional, ainda mais grave. A que passou ficou no primeiro est�gio, porque foi rapidamente resolvida. O governo n�o parou em nenhum momento.
Est� tudo em paz entre o PMDB e a presidente, mesmo com a sa�da de ministros do partido?
Est� tudo bem. Vez ou outra, h� as ang�stias naturais de quem quer participar do governo, mas tudo — tenho reiteradamente dito isso — depende da presidente. N�o h� nenhuma preocupa��o em rela��o � situa��o. N�s estamos colaborando com o governo e colaboraremos em qualquer hip�tese.
H� paz mesmo nas elei��es municipais? Como fica a rela��o entre PT e PMDB na disputa pela Prefeitura de S�o Paulo?
Conversei com o (ex) presidente Lula sobre isso h� cerca de um m�s e estamos muito tranquilos. O PMDB j� tem candidato, o (Gabriel) Chalita. E quem chegar ao segundo turno apoiar� o outro. Teremos uma rela��o muito respeitosa e cordial na campanha.
E a reforma pol�tica sair� do papel? Na semana passada o senhor teve uma reuni�o no Pal�cio do Jaburu…
Tivemos uma reuni�o grande com o (ex) presidente Lula e v�rios l�deres partid�rios. N�o vi muita facilidade. Confesso que as diverg�ncias ainda existem, at� por uma raz�o singela: a reforma pol�tica n�o � uma quest�o s� dos partidos, mas � quase que individualizada de cada deputado ou senador. Da� a dificuldade da sua tramita��o. Mas n�o estou descrente e acho que o debate ainda pode caminhar, especialmente se houver no relat�rio a jun��o das duas posi��es b�sicas: a lista fechada de um lado e o voto majorit�rio, chamado distrit�o, de outro. Mesmo nessa hip�tese, � preciso tomar cautelas para preservar os partidos menores.
O relat�rio do deputado Henrique Fontana (PT-ES) n�o traz o distrit�o...
N�o traz, mas na reuni�o que fizemos na semana passada ficou muito claro que, se n�o houver essa am�lgama, da lista com o distrit�o, fica dif�cil aprovar o relat�rio.
Por qu�?
� como estou dizendo, naquele dia, caminhou-se muito nessa dire��o. N�o sei o que o relator far�, porque, depois daquela reuni�o, n�o mantivemos contato.
E o financiamento p�blico, o senhor acha que ser� aprovado?
H� uma razo�vel unanimidade. � claro que, quando se fala no distrit�o, as pessoas imaginam que possa haver o financiamento p�blico para a lista fechada e o privado para o voto majorit�rio. � um assunto a ser examinado. Se houver toda essa conjuga��o, � poss�vel que d� para aprovar.
Mas na conven��o do PT se falou em acabar com o financiamento privado. Disseram, inclusive, que resultou no mensal�o e que era hora de acabar com a pr�tica.
Acho que essa quest�o deveria seguir por partes, pois seria algo um pouco experimental. Daqui a uma ou duas elei��es — essa � a minha opini�o —, tem que haver um referendo. Ou seja, o povo tem que testar esse sistema e dizer se o aprova ou n�o. Seria �til a participa��o popular nessa reforma pol�tica. � preciso fazer um esfor�o para levar o relat�rio adiante, porque, se paralisar na comiss�o, voc� n�o tem nem a chance de discuti-lo amplamente no plen�rio.
E os temas que v�o entrar na pauta? A Emenda 29, por exemplo, foi aprovada sem imposto...
O governo n�o est� discutindo a hip�tese da cria��o de um imposto para financiar a sa�de. As solu��es ser�o debatidas no Congresso. L�, tivemos uma semana muito f�rtil. Votou-se a Desvincula��o de Receitas da Uni�o (DRU) na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a, aprovou-se a Comiss�o da Verdade. O texto, da forma como foi aprovado, representa um avan�o. A composi��o do colegiado ter� que ser feita com pessoas capazes de realizar uma avalia��o situada no contexto hist�rico, com muita cautela para n�o criar problema. Essa comiss�o, em vez de uma dor de cabe�a, tem que ser uma solu��o.
Mas e o Senado? Esses projetos mais pol�micos j� est�o l�, como a Emenda 29 e a Comiss�o da Verdade. Como o senhor vai trabalhar, por exemplo, o G-8, o grupo de senadores rebeldes do PMDB?
N�o h� rebeli�o. H� uma ou outra postula��o, mas, pelo di�logo que tenho com todos, considero que as coisas v�o se ajustando no Senado. Mesmo alguns parlamentares desse grupo se manifestaram num dado momento para apoiar a atua��o governamental. N�o h� embara�o com eles. E democracia � isso. � preciso administrar supostas diverg�ncias.
E o PR?
N�o vejo atua��o oposicionista do PR. H� vontade de colaborar.