Enquanto o PT e o PSDB polarizam a disputa nacional em torno do Pal�cio do Planalto, divergindo em rela��o �s prioridades de governo, o PMDB adotou, ao longo das �ltimas duas d�cadas, uma estrat�gia diferente: privilegiou a sua presen�a nos munic�pios, o que se verifica n�o apenas pelo maior n�mero de candidatos a prefeito lan�ados em todo o pa�s, como tamb�m pela maior vota��o m�dia conquistada nos munic�pios e nas elei��es para deputados federais na compara��o com todos os partidos. “A estrat�gia do PMDB � local. Fazer parte do governo federal faz todo sentido. � ter acesso aos recursos do Executivo n�o s� para mandar aos prefeitos, mas tamb�m para manter as bases dos congressistas”, afirma a pesquisadora e cientista pol�tica Nat�lia Maciel, doutoranda do Instituto de Estudos Sociais e Pol�ticos (Iesp) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Levantamento de pesquisa espacial realizado por Nat�lia Maciel com a vota��o dos candidatos e partidos pol�ticos em todos os munic�pios brasileiros a partir de 1994 mostra como o PMDB, partido de centro, sem uma plataforma ideol�gica que o vincule e identifique, se manteve n�o apenas em todos os governos tucanos e petistas, mas tamb�m registrou ao longo do tempo, entre todas as legendas, as maiores vota��es m�dias nos munic�pios brasileiros para deputados federais.
Evolu��o
Nas elei��es de 1994, o PMDB obteve, em m�dia, 15% dos votos nas elei��es proporcionais em cada munic�pio brasileiro. Naquele ano, o PT havia obtido apenas 3,9%, o PSDB 6% e o ent�o PFL – atual DEM – 10,9%. Enquanto a m�dia do PMDB nas elei��es seguintes para deputado federal manteve-se sempre superior aos 15% registrados em 1994 – foi a 15,6% em 1998, saltou para 17% em 2002, chegou a 17,9% em 2006 e ficou em 16,6% em 2010 –, o PFL encolheu. Nos anos em que integrou o governo Fernando Henrique Cardoso, a vota��o dos candidatos a deputado federal do partido saltou de uma m�dia de 10,9% dos votos em 1994 para 16,3% em 1998, vota��o m�dia que se manteve est�vel em 16,4% nas elei��es de 2002. A partir da�, entretanto, durante o governo Lula, a vota��o m�dia do PFL nas cidades brasileiras despencou para 11,2% em 2006 e 7,8% em 2010.
Tamb�m o PSDB cresceu ao sabor do governo FHC, manteve o seu desempenho est�vel nas elei��es de 2006, que se seguiram ao primeiro mandato do governo Lula, e em 2010, encolheu um pouco, embora nem de longe tanto quanto o parceiro PFL. Entre o Plano Real e as elei��es de 1998, o PSDB dobrou a sua vota��o m�dia nas cidades brasileiras de 6% para 12,6%. Em 2002, os tucanos conquistaram, em m�dia, 13,5% dos votos para deputado federal nas cidades brasileiras e no pleito seguinte 13,2%. Nas �ltimas elei��es, o desempenho m�dio do partido nos munic�pios brasileiros caiu para 10,6%. J� o PT, que durante os anos FHC n�o foi bem, com m�dias de 3,9% e 4,95% dos votos para deputado federal, reagiu em 2002, na esteira da candidatura Lula e do desgaste do governo tucano: o desempenho m�dio da sigla para deputado federal saltou para 11,2% dos votos. Em 2006, o esc�ndalo do mensal�o impediu o crescimento da legenda, e o �ndice m�dio de vota��o ficou em 10,9%. Em 2010, o PT voltou a crescer, obtendo em cada cidade uma m�dia de 13,4% dos votos para deputado federal.
Custos da vit�ria
“Ter a Presid�ncia da Rep�blica, o governo, traz benef�cios, mas tamb�m custos. Isso � particularmente verdade quando se analisa o desempenho do PSDB nas elei��es de 2002 e do PT ap�s o mensal�o em 2006”, afirma a cientista pol�tica Nat�lia Maciel. Mas a constata��o n�o � verdadeira para o PMDB, que embora estivesse sempre integrado aos governos do PSDB e do PT, n�o teve seu desempenho afetado por desgastes em nenhum pleito. Isso sugere que o PMDB participa dos governos e colhe os benef�cios da m�quina, mantendo um desempenho m�dio alto e est�vel nas elei��es para a C�mara dos Deputados. “Com a sua heterogeneidade e com a debandada dos mais ideol�gicos para fundar outros partidos no final dos anos 1980, o PMDB foi naturalmente empurrado para o centro. Nessa posi��o, comp�e � direita e � esquerda, est� sempre no governo, se beneficia dele e refor�a a sua estrat�gia de fortalecimento nos munic�pios”, afirma Nat�lia Maciel. Tamb�m nas elei��es municipais, o PMDB � o partido que ao longo do tempo mais lan�ou chapas �s c�maras municipais e candidaturas majorit�rias. “� uma legenda que est� em todo o pa�s. Tem mais capilaridade e presen�a em todo o territ�rio”, considera a cientista.