Mais de tr�s d�cadas depois da anistia, um mist�rio ainda ronda o grupo pol�tico que lutou ao lado da presidente Dilma Rousseff contra a ditadura militar. Um dos aliados da hoje petista no per�odo, Pedro Paulo Bretas, nascido em Guanh�es, no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, desapareceu h� 16 anos na Espanha depois de outros 16 anos afastado do Brasil. O �ltimo contato do antigo colega da presidente nos anos de chumbo, que � �poca vivia em Barcelona, foi feito com a namorada, a espanhola Maria Rebeca, que morava em Madri, no in�cio de 1996 por telefone.
O �ltimo contato feito com Rebeca foi relatado em carta enviada pela espanhola � fam�lia do militante em Guanh�es em 29 de junho de 1996: “(Bretas) vinha todas as semanas. Ficava por tr�s ou quatro dias. Sempre fal�vamos por telefone”. Em seguida, conta da interrup��o das liga��es e visitas: “Faz uns meses que n�o sei nada. (No �ltimo telefonema) estava preocupado e nervoso. Disse que devia muito dinheiro”. A correspond�ncia foi enviada a Guanh�es de Las Palmas, nas Ilhas Can�rias, para onde Rebeca viajava com frequ�ncia a neg�cios. Bretas esteve no Brasil pela �ltima vez em 1980, com a Lei da Anistia, promulgada em 28 de agosto de 1979, mas decidiu n�o voltar a viver no pa�s. No per�odo em que esteve no exterior, contou com a ajuda financeira de parentes.
O militante de esquerda, que assim como Dilma Rousseff ficou detido no pres�dio de Linhares, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, era apontado pelos militares como o respons�vel pelo roubo de placas de autom�veis e pelo envolvimento no assalto a um jipe da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais que transportava dinheiro de Belo Horizonte para Guanh�es, em 29 de agosto de 1968. Foi atribu�da a Bretas tamb�m a participa��o em outro assalto, a um banco em Sabar�. Com os pais, j� falecidos, Bretas falou pela �ltima vez em 29 de junho de 1994, no dia de seu anivers�rio, conforme relato da irm�, F�tima Bretas.
Conhecido como Kleber ou Amaury na luta contra o regime militar, o colega de Dilma foi preso em 1969 e, depois de torturado, revelou a localiza��o da casa no Bairro S�o Geraldo que abrigava integrantes do Colina. Com a informa��o, agentes do Departamento de Ordem Pol�tica e Social (Dops) e da Delegacia de Furtos e Roubos foram enviados at� o local. Houve troca de tiros. Dois agentes da repress�o morreram. Todas as pessoas que estavam na casa foram presas. Um militante da esquerda e um policial foram feridos.
Cobaia Sem informa��es sobre o filho, o pai de Bretas, Antonio Furbino Bretas, entrou com processo contra o estado para concess�o de indeniza��o. O dinheiro, R$ 30 mil, foi pago em 2003. Al�m de Juiz de Fora, Bretas esteve preso no Rio de Janeiro, onde chegou a servir como cobaia em uma esp�cie de “aula” de tortura para cerca de 100 sargentos. O militante pol�tico foi colocado no pau de arara e teve os dedos pressionados por barras de metal. O “professor” era chamado de tenente Ayton. Para receber a indeniza��o, a fam�lia alegou que as torturas causaram problemas psicol�gicos a Bretas.
O colega de resist�ncia da presidente Dilma Rousseff nasceu em 1945 e chegou a Belo Horizonte em 1967 para estudar medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Um ano depois da pris�o em 1969 foi exilado para o Chile ao ser inclu�do no grupo de militantes de esquerda trocados pela liberta��o do embaixador su��o no Brasil Giovanni Enrico Bucher, sequestrado pelo comando de outro grupo de esquerda � �poca, a Vanguarda Popular Revolucion�ria (VPR). Com o golpe militar contra o presidente Salvador Allende, em 1973, foi deportado do pa�s. Viveu na Costa Rica e na Venezuela antes de se mudar para a Espanha nos anos 90.
S�rie mostrou a��o do grupo
O Estado de Minas publicou entre os dias 17 e 25 de junho uma s�rie de reportagens exclusivas sobre a tortura sofrida por Dilma Rousseff nos por�es da ditadura em Juiz de Fora no in�cio dos anos 1970. O trabalho jornal�stico foi baseado no depoimento concedido por Dilma ao Conselho de Direitos Humanos de Minas Gerais em 2001, quando ela era ocupava o cargo de secret�ria do governo do Rio Grande do Sul. Nesse relato, ela contou sua trajet�ria como militante pol�tica, falou sobre a viol�ncia que sofreu e sobre o grupo em que atuou, o Colina, o mesmo de Pedro Paulo Bretas.