A invas�o da Universidade de Bras�lia (UnB) por tropas do Ex�rcito completa 44 anos nesta quarta-feira. A UnB foi a institui��o de ensino superior que mais sofreu durante o regime militar, na opini�o do historiador Jos� Ot�vio Nogueira Guimar�es, coordenador de investiga��o da Comiss�o de Mem�ria e Verdade An�sio Teixeira.
Recentemente instalada, a comiss�o vem desenvolvendo o trabalho de apurar viola��es de direitos humanos e liberdades individuais na universidade, ocorridas entre abril de 1964 (golpe militar) e outubro de 1988 (promulga��o da Constitui��o).
O historiador lembra que no dia 9 de abril de 1964, nove dias depois do golpe, nove professores foram demitidos, al�m do reitor An�sio Teixeira e do vice-reitor Almir de Castro. As demiss�es foram feitas com base no Ato Institucional nº 1 (AI-1), que previa “investiga��o sum�ria”, com demiss�o e dispensa de funcion�rios p�blicos, contra quem tivesse “tentado contra a seguran�a do Pais, o regime democr�tico [sic] e a probidade da administra��o p�blica”.
Di�spora
Al�m das dispensas ap�s o AI-1, 223 professores pediram demiss�o da universidade em setembro de 1965 por causa das interven��es. “Foi aquela di�spora”, comentava Darcy Ribeiro (morto em 1997), um dos idealizadores da UnB. Segundo ele, a institui��o foi concebida “para cuidar das causas do atraso do Brasil”, mas mesmo antes do golpe j� incomodava.
“Bras�lia n�o podia ter duas coisas: oper�rios fabris fazendo greve e estudantes fazendo baderna”, disse Darcy Ribeiro, em depoimento registrado no document�rio Barra 68, de Wladimir Carvalho (veja fotos), que retrata a invas�o. Na invas�o, um estudante foi baleado, 60 pessoas foram presas e 500 chegaram a ser detidas provisoriamente, junto com parlamentares, na quadra de basquete.
A invas�o ocorreu porque os alunos haviam protestado recentemente contra a morte do estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto, no Rio de Janeiro. Um decreto determinava a pris�o de sete universit�rios. Com a ordem, agentes das pol�cias Militar e Civil, do Departamento de Ordem Pol�tica e Social (DOPS) e do Ex�rcito invadiram a universidade. “Ignor�ncia militar era uma coisa absurda .A UnB incomodava por causa da maneira como foi idealizada”, pondera Cl�udio Ant�nio de Almeida, ent�o estudante de economia.
Almeida era amigo de Honestino Guimar�es, aluno de geologia e presidente da Federa��o dos Estudantes Universit�rios de Bras�lia (Feub), um dos sete que tinham ordem de pris�o decretada na invas�o. Segundo o ex-aluno, Honestino foi levado em “cena de sequestro”. Ele lembra que estava tendo aula de pol�tica e programa��o econ�mica, com o professor Lauro Campos, morto em 2003, quando come�ou a ouvir gritos: “prenderam Honestino!”.
Na sequ�ncia, os alunos sa�ram correndo da sala de aula. “Fomos avisados de que um grupo de policiais saiu arrastando Honestino de maneira violenta, batendo nele, colocaram-no dentro de uma viatura e sa�ram dando tiros pela janela, at� o pr�prio motorista”, relatou � Ag�ncia Brasil.
Novas estrat�gias
A invas�o da UnB marcou uma mudan�a nas interven��es na universidade. A partir dali, o governo militar usou outras estrat�gias para combater o que considerava “subvers�o” acad�mica: entre elas, a exclus�o de professores e estudantes de programa de bolsas, a produ��o de material contra docentes e depoimentos falsos. “O prop�sito era criar fatos para desmoralizar as pessoas e fazer uma limpeza na universidade”, analisa Jos� Ot�vio Guimar�es.
Segundo ele, h� documentos no Arquivo Nacional que comprovam a atua��o de agentes do Servi�o Nacional de Intelig�ncia (SNI) e do Servi�o de Intelig�ncia do Minist�rio da Educa��o para investigar alunos e professores.
Com esse material, Guimar�es espera que Comiss�o da Verdade v� al�m de contar a resist�ncia “heroica” � ditadura militar. Segundo ele, pode ser que se chegue a documentos que mostrem que ocorreu dela��o e que foram forjadas hist�rias sobre as pessoas. A comiss�o faz nesta semana sua segunda reuni�o fechada para definir prioridades.