Deposto pelo golpe militar em 1964, o ex-presidente Jo�o Goulart, o Jango, exilou-se com a fam�lia no Uruguai e, depois, na Argentina. No entanto, mesmo depois de retirado da Presid�ncia da Rep�blica, continuou sendo alvo do regime militar.
Fotos e documentos exclusivos do Arquivo Nacional, obtidos pela TV Brasil, mostram que Jo�o Goulart era vigiado pelos militares, inclusive em momentos privados, como durante a festa de anivers�rio em que comemorou 55 anos.
Para o neto de Jango, Christopher Goulart, o av� sabia que era vigiado, por�m isso n�o o incomodava. “Ele n�o se importava muito, n�o era uma coisa que o incomodava”.
Para o historiador e coordenador do curso de hist�ria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Enrique Padr�s, Jo�o Goulart foi v�tima da Opera��o Condor, a��o conjunta de seis pa�ses sul-americanos, inclusive o Brasil, para reprimir opositores �s ditaduras militares da regi�o. A opera��o foi criada oficialmente em 1975, mas come�ou antes, como mostra a reportagem da TV Brasil. “Ele foi sistematicamente vigiado, foi sistematicamente atingido, com essa coisa de infiltrarem pessoas ou, talvez, infiltrarem mecanismos para obter informa��es”, completa.
Em 6 de dezembro de 1976, Jango morreu na cidade argentina de Mercedes, onde tamb�m viveu durante o ex�lio. A certid�o de �bito diz que o ex-presidente foi v�tima de um ataque card�aco. A fam�lia, no entanto, suspeita das circunst�ncias da morte de Jango, pelo fato de que o ex-presidente estava se organizando para voltar ao Brasil com o intuito de atuar contra o regime militar. “� claro que � muito suspeita [a morte de Jango]. � �bvio que � muito suspeita e, enquanto for suspeita, tem que se investigar”, defende Christopher Goulart.
Depoimentos do ex-espi�o do servi�o de intelig�ncia da pol�cia uruguaia M�rio Neira alimentam a teoria de assassinato. Preso em Porto Alegre h� mais de dez anos por crimes como contrabando de armas, Neira disse que uma opera��o foi montada para envenenar Jango. A decis�o, segundo ele, foi tomada em uma reuni�o com representantes do governo uruguaio, do Servi�o de Intelig�ncia Americano (CIA) e o delegado S�rgio Fleury, ent�o chefe do Departamento de Ordem Pol�tica e Social (Dops) de S�o Paulo. “Foi uma opera��o muito prolongada e a gente n�o sabia que teria como objetivo a morte do presidente Jo�o Goulart”, relatou.
Problemas no cora��o
Segundo Neira, os rem�dios de Goulart, que sofria de problemas no cora��o, foram trocados por comprimidos com uma subst�ncia que acelerava os batimentos card�acos e provocava uma parada card�aca. “Os rem�dios vieram da Fran�a e foram recebidos na ger�ncia do Hotel Liberty. Foi um araponga que foi colocado neste hotel, porque os rem�dios ficavam em uma caixa-forte, uma caixinha mesmo de seguran�a. Em cada frasco, foi colocado um comprimido, apenas um comprimido com o composto que tinha uma a��o que provocaria uma parada card�aca. Acho que ele tomou coincidentemente naquela noite [o veneno], porque todo o relato da dona Maria Tereza [mulher de Jango] fala dos sintomas que encaixam com o que acontece quando a press�o sobe, baixa constri��o dos vasos.”
Com base no depoimento de Neira, a fam�lia de Jo�o Goulart pediu uma investiga��o ao Minist�rio P�blico Federal (MPF). Mas o processo foi arquivado pela Justi�a sob o argumento de que o crime prescreveu.
Com a impossibilidade de investiga��o no Brasil, o procurador federal Ivan Marx recorreu � Justi�a argentina. “Fui at� Paso de Los Libres [pr�xima � cidade de Mercedes], na Justi�a Federal argentina competente, e solicitei uma investiga��o sobre a morte do Jo�o Goulart. Existe a Lei de Anistia e todo esse problema que hoje estamos tentando processar no Brasil, mas, diante de todas as dificuldades, achei importante provocar a Justi�a argentina, pois o fato ocorreu l�. Eles t�m uma compet�ncia territorial para investigar os fatos”, explicou.
O historiador Enrique Padr�s defende esclarecimentos sobre a morte de Jango. “� muito grave um pa�s como o Brasil, at� hoje, n�o ter certeza de como faleceu o �nico presidente que morreu fora, exilado.”