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Estado de Minas

Conhe�a as cidades de Minas que perderam a chance de se tornar capital do estado

Costa Sena e Col�nia do Mar�al, atualmente um distrito e um bairro, estavam na lista dos lugares sondados para a constru��o do novo centro administrativo de Minas Gerais


postado em 10/12/2012 00:12 / atualizado em 11/12/2012 10:41

Daniel Camargos
Enviado especial



O futebol dos meninos no gramado da igreja matriz dá vida ao pacato distrito de Costa Sena, antiga candidata a capital Paraúnas (foto: Euler Júnior/EM/D.A Press)
O futebol dos meninos no gramado da igreja matriz d� vida ao pacato distrito de Costa Sena, antiga candidata a capital Para�nas (foto: Euler J�nior/EM/D.A Press)

Costa Sena –
Em frente � quase tricenten�ria Matriz de S�o Francisco de Assis, do s�culo 18, crian�as jogam bola no gramado que j� foi cemit�rio. Poucos metros adiante, bezerros descansam � sombra, enquanto na lateral da igreja um cavalo pasta calmamente. As crian�as encerram a brincadeira e muitos minutos se passam at� que outra pessoa caminhe por uma das tr�s ruas de Costa Sena, distrito de Concei��o do Mato Dentro, na Regi�o Central de Minas. A calmaria do lugarejo contrasta com o caos de Belo Horizonte. A compara��o com a cidade que completa 115 anos quarta-feira pode soar absurda, mas quem vasculha a hist�ria descobre que Costa Sena poderia ter sido a capital mineira.

O m�dico e pesquisador Eug�nio Marcos Andrade Goulart conta no livro O caminho dos currais do Rio das Velhas – Estrada real do sert�o que Joaquim C�ndido da Costa Sena (1852–1919) fez parte da comiss�o criada para decidir onde seria a nova capital mineira, que substituiria Ouro Preto, j� saturada no fim do s�culo 19. Por interm�dio de Costa Sena, a localidade de Para�na foi sugerida, mas nem a for�a do pol�tico, que nasceu em Concei��o do Mato Dentro e foi presidente de Minas Gerais por sete meses, em 1902, sensibilizou a comiss�o.

Em 1938, o distrito, ent�o chamado S�o Francisco de Assis de Para�na, recebeu o nome de Costa Sena. O local se desenvolveu nos s�culos passados com a extra��o de ouro e diamante, al�m estar localizado na estrada para o Serro. “O per�odo de opul�ncia na regi�o n�o durou para sempre, como se acreditava a princ�pio. Seu apogeu ocorreu entre 1750 e 1760. Em poucas d�cadas, o diamante foi desaparecendo, e com ele a riqueza”, relata Goulart.

Com o fim da riqueza, veio o principal drama do lugarejo: a falta de op��es de trabalho. Um contraste com a Belo Horizonte de hoje. No �ltimo levantamento do IBGE, a taxa de desemprego na capital foi de 3,9%. Uma das mais baixas do pa�s, situa��o que, de acordo com a teoria econ�mica, pode ser considerada de pleno emprego. Enquanto isso, em Costa Sena grande parte dos moradores busca trabalho em outras localidades, como em Pomp�u, na explora��o de ard�sia, e Concei��o do Mato dentro, onde est� em andamento um megaprojeto da mineradora AngloAmerican.

A minera��o foi o caminho escolhido pelo filho de Catarina de Lourdes Silva. N�o existe restaurante em Costa Sena e dona Catarina consegue faturar um pouco quando um viajante busca uma refei��o. N�o � poss�vel a agilidade de um self-service, desses que est�o espalhados por quase todas as esquinas da atual capital mineira, mas nada que uma boa conversa n�o resolva. Basta chegar antes, avisar que precisa almo�ar e dona Catarina prepara a saborosa comida. “Estou meio desprevenida hoje, mas uma comidinha simples eu fa�o”, avisa antes de servir arroz, feij�o, lingui�a, macarr�o, ovo e batata frita.
 
CASAMENTO DIF�CIL Por ter poucos moradores no lugar – a popula��o estimada � de cerca de 600 habitantes – a vida das mo�as que querem casar n�o � f�cil. “Meu pai e minha m�e s�o primos primeiros e a minha irm� tamb�m se casou com um primo”, conta Leidilene Rosana da Silva, de 28 anos, que j� engatou um namoro com parente, mas, como o romance acabou sem matrim�nio, ajuda a cuidar dos sobrinhos. Leidilene sempre quis se mudar para a capital. “Tenho uma irm� que mora em BH. J� fui ao shopping e vi a Lagoa da Pampulha”, recorda. Ela n�o se intimidou com as duas horas que enfrentou em um engarrafamento entre a rodovi�ria e Ibirit�, na regi�o metropolitana. “Eu n�o vivi isso ainda e tenho vontade de viver.” Ela reconhece, por�m, que o sossego de Costa Sena tem seu lado positivos: “Todo mundo conhece todo mundo e n�o tem viol�ncia”.

J� o lavrador Wilson Geraldo da Silva, de 48 anos, quer dist�ncia da capital. Na �nica vez que visitou BH foi por um p�ssimo motivo: buscar um irm�o que havia falecido. “Nasci e fui criado aqui. J� acostumei com o bruto e vou levando”, explica. Os tr�s filhos j� sa�ram de casa e a mais nova, de 20 anos, se mudou para a capital, onde trabalha e faz faculdade de engenharia civil.

Wilson aprecia a vida no distrito. Fez um banco de tronco de �rvore em uma sombra na porta da casa e quando pode descansar um pouco aproveita para fumar um cigarro de palha guardado atr�s da orelha esquerda. “Sempre trabalhei em fazenda. Planto milho, feij�o e o que d�”, conta. H� poucos anos ir trabalhar ficou mais simples. Trocou as longas caminhadas at� as ro�as por uma motocicleta.

SUCESSO DE VENDA As motos, que invadiram o tr�nsito da capital, tomaram o lugar dos jegues e cavalos na pequena Costa Sena. Tanto que na Comercial Ianni, uma das duas mercearias da cidade, um dos produtos mais procurados s�o pneus de motocicleta. “Aqui tem de tudo um pouco”, informa a propriet�ria Diane Ottoni Malaquias enquanto vende um pacotinho de cola instant�nea para um fregu�s. “O que tem mais sa�da � a��car. Parece que o povo daqui gosta de ficar diab�tico”, brinca a comerciante. O mercadinho foi fundado pelo pai dela h� mais de 80 anos e Diane � a �nica dos 10 filhos que ficou no, lugarejo. O restante se espalhou por Curvelo, Congonhas do Norte, o distrito vizinho de Capit�o Felizardo e , claro, Belo Horizonte.

Mem�ria

Bastidores da disputa


Em artigo publicado na Revista do Arquivo P�blico Mineiro, a historiadora e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Cl�udia Maria Ribeiro Viscardi revela os bastidores da disputa pela sede da capital mineira. Os anseios para tirar a capital de Ouro Preto e levar para outra localidade come�aram na imprensa da Zona da Mata. “A imprensa de Juiz de Fora, em sua campanha para que a cidade fosse a capital, alegava ser a regi�o econ�mica e culturalmente mais desenvolvida de Minas Gerais”, relata Cl�udia Maria. O debate saiu da imprensa para o campo pol�tico. Foram indicadas Curral del Rey, Barbacena, V�rzea do Mar�al (hoje um bairro de S�o Jo�o del-Rei), Juiz de Fora e Para�na. Curral del Rey ganhou por apenas dois votos de V�rzea do Mar�al. Como compensa��o, relata o pesquisador Eug�nio Marcos Andrade Goulart, Para�na deu nome a uma importante avenida da nova capital. Por�m, a via teve o nome trocado em 1938, para homenagear o ent�o presidente ditador Get�lio Vargas. A avenida voltou a se chamar Para�na quando Vargas deixou o poder, mas com nova elei��o do ga�cho o nome do pol�tico retornou e permanece at� hoje. 

Ao p� de outra serra

Leonardo Augusto
Enviado especial


S�o Jo�o del-Rei – Belo Horizonte poderia tamb�m ter crescido ao p� de outra serra, a de S�o Jos�, e n�o a do Curral, e ser banhada pelo Rio das Mortes, e n�o pelo Ribeir�o Arrudas. A regi�o, uma das cinco sondadas pelos enviados de Aar�o Reis para constru��o da capital de Minas Gerais, acabou contribuindo para o desenvolvimento de outra cidade, S�o Jo�o del-Rei, no Campo das Vertentes, e � hoje um bairro do munic�pio, a antiga V�rzea do Mar�al, hoje Col�nia do Mar�al.

O nome vem de um dos integrantes das fam�lias italianas que se mudaram para o vale do Rio da Morte a partir de 1881 – 177 anos depois da funda��o de S�o Jo�o del-Rei – com a inaugura��o da Estrada de Ferro Oeste de Minas por dom Pedro II. O n�mero de imigrantes do pa�s europeu aumentou durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918). Seis mangueiras de 115 anos, exatamente a idade a ser completada por Belo Horizonte na quarta-feira, formam hoje uma esp�cie de portal na chegada � Col�nia do Mar�al. A garantia da idade das �rvores � dada por Wilson Jos� Vicenti, de 54 anos, neto de um dos italianos que migraram para a regi�o, conhecida ent�o por V�rzea do Mar�al.

Dono de um bar que fica embaixo das mangueiras, o comerciante exibe uma foto em que o av� aparece ao lado de colegas perfilados antes de uma partida de futebol. O campo para a pr�tica do esporte em que o retrato foi feito deu lugar � primeira igreja cat�lica do bairro, depois que uma briga entre atletas de dois times terminou com o espancamento de um jovem com galhos de assa-peixe. O rapaz morreu tr�s dias depois do confronto. “O campo acabou sendo doado para os padres”, conta Wilson.

A moradora mais antiga da Col�nia do Mar�al, Ana Calsavara Vicentini, de 92 anos, tia de Wilson, � filha de um dos primeiros italianos a se mudarem para a regi�o. Nas hist�rias contadas aos filhos, dona Ana dizia que seus pais come�aram a vida na regi�o depois de assumirem terras que, aparentemente, n�o tinham dono. “Com o pouco dinheiro que tinham iniciaram uma lavoura com hortali�as, mandioca e a cria��o de porcos”, diz uma das filhas de dona Ana, Merc�s Josefina Vicentini Reis.

A Col�nia do Mar�al � hoje um bairro formado por casas de luxos que se misturam a resid�ncias mais simples, pousadas e bares. O vencedor, h� cerca de dois anos, de um pr�mio da Mega-Sena mora na regi�o. Da �poca em que chegaram os primeiros italianos, resta apenas o peda�o da fachada frontal de uma pequena casa, prestes a ser demolida para dar lugar a mais uma mans�o. A velha V�rzea do Mar�al pode n�o ter virado Belo Horizonte, que acabou ficando a 185 quil�metros no sentido norte, mas tampouco definhou por ter sido preterida.
 


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