Isolado no c�rcere, ex-diretor da Ag�ncia Nacional de �guas (ANA) Paulo Vieira escreveu seu di�rio. Em letras mi�das, rabiscou os primeiros passos de sua defesa. As anota��es descrevem minuciosamente situa��es e relacionamentos com personagens como Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presid�ncia em S�o Paulo, e Jos� Weber Holanda, ex-advogado-geral adjunto da Uni�o. Elas revelam um homem angustiado, que quer ir � Justi�a apresentar seus argumentos e rebater ponto a ponto a Opera��o Porto Seguro, da Pol�cia Federal, que lhe confere papel decisivo na suposta trama para compra de pareceres t�cnicos de �rg�os p�blicos.
No quarto dia de reclus�o, 26 de novembro, ele recorre aos c�us. “Preso. Meu Deus! Piedade Senhor!” Insurge-se contra uma das imputa��es penais que recaem sobre ele, por corrup��o ativa, artigo 333 do C�digo Penal. “Trancamento do inqu�rito. Onde est� a participa��o do 333?”
Registros e reflex�es do prisioneiro seguem linha defensiva, n�o hostiliza ningu�m. Confirma rela��es pr�ximas com o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) e com Rose Noronha, ambos alvos da Porto Seguro. Com ela, ressalta, tem “muitos neg�cios”. Aponta que foi padrinho de casamento de Mirela, filha de Rose.
Aqui e ali escreve ser “amigo” ou “muito amigo” de alguns personagens, como Weber Holanda, o ex-n�mero 2 da AGU acusado de facilitar o tr�mite de processos que beneficiariam empresas ligadas � organiza��o. “Weber (advogado) - amigo pessoal, conhe�o do tempo em que trabalhamos no MEC, sempre debatemos diversas mat�rias jur�dicas.”
Dia 25 cita a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) ao abordar libera��o de um empreendimento portu�rio de Gilberto Miranda. “Quem provocou o tema foi a ministra do Meio Ambiente.” A ministra afirma que nunca tratou do projeto do ex-senador e que jamais se encontrou com seus emiss�rios.
Vieira diz que conheceu em 2002 Cyonil Borges, ex-auditor do Tribunal de Contas da Uni�o que o delatou. “Ficamos amigos.” Em outro trecho, escreveu: “O sr. Cyonil tentou s/ sucesso virar s�cio meu. (...) T�nhamos plano de ganhar muito dinheiro. (...) N�o tendo �xito, virou nosso inimigo”.
� Pol�cia Federal, Cyonil sustenta que Vieira lhe ofereceu R$ 300 mil por um laudo. “Nunca ofereci dinheiro para Cyonil fazer parecer”, rebate o ex-diretor da ANA, na anota��o do dia 27.
Declara amizade com Evangelina Pinho, ex-superintendente da Secretaria de Patrim�nio da Uni�o, denunciada por favorecer o grupo. “Mora em im�vel de minha propriedade em Bras�lia, alugado a ela no 1.º semestre”, afirma, no dia 29.
Em outras p�ginas, que intitula “elementos de defesa, o que ouvi do processo”, Vieira afirma que os pareceres que redigiu foram solicitados por �rg�os p�blicos. “Era muito comum o pessoal pedir minha opini�o em processos (...) pela minha experi�ncia.” Fala da parceria com o advogado Marco Antonio Negr�o Martorelli, a quem a Procuradoria da Rep�blica atribui fun��o de “testa de ferro jur�dico da quadrilha”. “Fiz pareceres e estudos para o escrit�rio do Martorelli desde 2008.”
O roteiro de defesa nega capta��o de recursos p�blicos. Ele afirma que jamais enriqueceu nos cargos que ocupou na administra��o. Descreve seus bens e o per�odo em que foram adquiridos: 2006, casa, tr�s terrenos; 2007, terrenos, sala; 2010 (j� na diretoria da ANA), flat, quatro im�veis (obtidos em leil�es).
Incomoda-o as instala��es na pris�o. “Condi��o da sala � p�ssima. Verificar possibilidade de pris�o domiciliar.” � dia 30.