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Estado de Minas

Sarney afirma que a pol�tica � cruel e o embate pol�tico n�o tem limites


postado em 23/01/2013 10:55

(foto: Cadu Gomes/Arquivo Senado)
(foto: Cadu Gomes/Arquivo Senado)

O senador Jos� Sarney (PMDB-AP) est� prestes a deixar a Presid�ncia do Senado, cargo que ocupou por quatro vezes nos �ltimos 17 anos. Em 2014, Sarney vai completar seu terceiro mandato como senador pelo estado do Amap�. Entre 1971 e 1984, esteve na Casa como representante do Maranh�o. “J� s�o 35 anos dentro do Senado. Na hist�ria da Rep�blica eu sou o senador que mais tempo passou aqui”, destaca Sarney, lembrando que Rui Barbosa teve 32 anos de Senado.

Sarney registra que n�o ser� candidato � reelei��o, mas ressalta que n�o � por falta de apoio popular. Ele lembra que o ex-deputado federal Virg�lio T�vora (1919-1988) dizia que duas coisas fazem o pol�tico abandonar a carreira: ou o pol�tico larga o povo, ou o povo larga o pol�tico. “Gra�as a Deus, nada disso aconteceu comigo”, diz.

Sobre o pr�ximo presidente do Senado, Sarney ressalta que “isso depende da escolha do Plen�rio”. Ele, no entanto, admite que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) deve ser um dos candidatos e que o colega de partido tem muita experi�ncia: "J� foi presidente da Casa e tem grande capacidade de di�logo e concilia��o”.

Sarney conta que tentou desestimular o envolvimento de seus filhos na pol�tica, por conta das agruras da atividade. Dois deles, no entanto, seguiram a carreira do pai: o deputado federal Sarney Filho (PV-MA) e a governadora do Maranh�o, Roseana Sarney. Sarney admite, por�m, que gostaria que seus filhos repetissem sua trajet�ria pol�tica.

Em entrevista exclusiva � Ag�ncia Senado, Sarney avaliou seus mandatos como senador, falou sobre as realiza��es de sua carreira pol�tica e a forma como lida com den�ncias, e n�o deixou de tocar em assuntos como Deus, frustra��es, vida e morte. Confira.

Como o senhor avalia seus mandatos como senador?

Sempre tive a preocupa��o com a atualiza��o, com a moderniza��o e com o apoio cient�fico aos trabalhos do Senado. Na d�cada de 1970, fui presidente do Ipeac [Instituto de Pesquisa e Assessoria do Congresso], que visava oferecer assessorias competentes � atividade parlamentar. O Ipeac era o respons�vel pelos trabalhos da Casa, convocando a intelig�ncia nacional para dar apoio ao Congresso. Assuntos como energia nuclear, hidrel�tricas e abertura democr�tica estavam entre os trabalhos do instituto. Ainda como senador, em 1993, eu propus a informatiza��o do Senado. Foi constitu�da uma comiss�o, da qual eu era membro, e o resultado foi a cria��o da Secretaria Especial de Inform�tica do Senado Federal (Prodasen).

Qual a heran�a que o senhor deixa como presidente do Senado?


Durante todo o tempo que passei no Congresso, nunca gostei de participar das mesas de dire��o. Mas, em 1994, me rendi aos apelos para assumir a Presid�ncia do Senado. Como presidente, minha preocupa��o com a moderniza��o se redobrou. Depois de assumir a Presid�ncia, acho que entramos na era da modernidade do Senado. Parecia que o Senado ainda estava no s�culo 19, pois n�o havia o conhecimento das mudan�as significativas que a sociedade da informa��o trouxe para o mundo.

Durante o tempo em que fui presidente, sempre houve a preocupa��o com a transpar�ncia, pois a modernidade traz um novo interlocutor, que � a opini�o p�blica, que se manifesta por meio da m�dia, das redes sociais ou pelas organiza��es civis. Com isso, n�s achamos que o Senado devia se atualizar para ter sua presen�a diante da opini�o p�blica. Da�, houve a cria��o da Secretaria Especial de Comunica��o Social (Secs), com a TV, a R�dio, o Jornal e a Ag�ncia Senado. Servi�os como o DataSenado, a Ouvidoria, o e-Cidadania e o Al� Senado vieram assegurar uma transpar�ncia cada vez maior da Casa. Tamb�m destaco a informatiza��o das sess�es e da frequ�ncia dos senadores, as notas taquigr�ficas em tempo real na internet e o [site de busca de legisla��o] LexML.

Na �rea administrativa, houve o incremento dos cursos do ILB [Instituto Legislativo Brasileiro] e a aquisi��o de livros raros para a Biblioteca, al�m dos programas Pr�-Equidade e Senado Verde. Tudo isso mostra a revolu��o que ocorreu no Senado e como a Casa se modernizou. A moderniza��o e a atualiza��o t�m sido a minha marca por onde tenho passado na administra��o publica.

A vida pol�tica do senhor � muito extensa. O senhor j� foi deputado, governador, senador e presidente da Rep�blica. Al�m disso, � empres�rio e membro da Academia Brasileira de Letras. O senhor se considera realizado ou falta algo a conquistar?

Todo homem chega ao fim da vida com uma certa frustra��o, n�o das coisas que fez, mas pelas coisas que deixou de fazer. Quando a gente entra na pol�tica, � pelo desejo de melhorar a sorte de seu munic�pio, de seu estado, de seu pa�s, e at� de melhorar a sorte da humanidade. Essa � a grande voca��o da pol�tica. E sempre fica uma frustra��o por ainda n�o ter conseguido todas essas coisas.

Na realidade, eu fico meio decepcionado quando vejo que todas as ideias pol�ticas difundidas no mundo prestaram menos servi�o ao povo do que [Alexander] Flemming, com a penicilina, [Albert] Sabin, com a vacina contra a paralisia, ou as inova��es de [Thomas] Edison ou [Steve] Jobs. Sempre fica a ideia de que ainda h� alguma coisa por fazer. Quando Deus fez o mundo, n�o o fez com tudo perfeito, mas deixou o homem com a capacidade de cada dia melhorar um pouco. Eu sou um otimista com a humanidade, e acho que haver� um dia em que o homem vai conseguir aquilo que [Thomas] Jefferson chamava de “a busca da felicidade”. Isso ser� daqui a mil�nios, mas vai acontecer.

O exerc�cio da pol�tica implica, naturalmente, controv�rsia e antagonismo. Ao longo da sua trajet�ria pol�tica, o senhor teve de lidar com den�ncias de irregularidades. De que forma o senhor convive com essas den�ncias e as cr�ticas?

A pol�tica � cruel, lida com a crueldade. O embate pol�tico n�o tem limites. A primeira coisa que muitos fazem [na pol�tica] � tentar desqualificar o advers�rio. Ent�o se inventa tudo e se � submetido a todas as injusti�as. Quanto mais responsabilidade, mais se � combatido. Isso faz parte da pr�tica e da instrumenta��o pol�tica. Isso � terr�vel pra quem faz pol�tica e desmoraliza a atividade pol�tica. Por isso, o povo julga t�o mal os pol�ticos. S�o os pr�prios pol�ticos que constroem esse julgamento.

Quanto a mim, como eu sei que s�o inverdades, eu lido como se fosse com uma terceira pessoa. Eu lido com absoluta tranquilidade. Eu sou crist�o e Deus me deu essa gra�a. Deus j� fez tanto por mim – como o pa�s em que ele me fez nascer e a vida que ele me permitiu construir, tanto na literatura quanto na pol�tica – e ele me pede uma coisa apenas: “Perdoai os vossos inimigos”. Por que eu vou negar isso a ele? Ent�o eu perdoo e fico tranquilo, numa boa.

Na hist�ria do Brasil, muitos sofreram muitos ataques. Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, muitos presidentes. Mas eu vejo que tudo isso passa. Os excessos que a imprensa constr�i, o tempo destr�i.

O senhor completou 82 anos, em 2012, passando por um susto. Teve de ser internado, para tratar do cora��o. � natural que, neste momento da vida, a morte se torne um assunto delicado. O senhor tem receio da morte? De que forma lida com a ideia da morte?

O corpo come�a a dar sinais, algumas pe�as come�am a ficar com a validade vencida (risos). Eu at� escrevi um poema, Homilia do ju�zo final, em que eu termino dizendo: “Tenho um encontro com Deus. / – Jos�! onde est�o tuas m�os que eu enchi de estrelas? / – Est�o aqui, neste balde de ju�aras e sofrimentos.” Ju�ara � outro nome para o a�a�.

Nos v�rios cargos que o senhor exerceu, qual foi o momento mais dif�cil?

Foi quando me ligaram de madrugada, avisando que eu iria assumir a Presid�ncia da Rep�blica (Em mar�o de 1985, Sarney assumiu a Presid�ncia depois de Tancredo Neves ter sido internado com problemas de sa�de. Tancredo viria a morrer em junho daquele ano, e Sarney seguiu como presidente at� 1990). N�o conhecia o minist�rio nem o programa de governo. Todos diziam que a democracia iria morrer nas minhas m�os. Mas n�o morreu. Pelo contr�rio, floresceu.

Eu convivi com grandes homens p�blicos. Cada um tem o seu tempo, e corro o risco de terminar fazendo alguma injusti�a. Mas, se eu tivesse que apontar aquele de quem mais sinto falta, seria de Tancredo Neves.

Nos seus v�rios mandatos, h� algo que o senhor considere que seja o seu legado pol�tico para o Brasil?

Eu destaco a transi��o democr�tica, pois depois a democracia se consolidou no pa�s, e os programas sociais, que tanto bem fazem para o povo brasileiro. Depois de ser presidente, tive a felicidade de ver todas as classes sociais chegando � Presid�ncia da Rep�blica, colaborando com a vida do pa�s. A Rep�blica come�ou com os bar�es do caf�, passou pelos militares, pelos bachar�is e tivemos um oper�rio como presidente. Hoje, temos uma mulher na Presid�ncia. H� pa�s mais democr�tico que o Brasil? H� exemplo maior do que esse? Isso foi fruto de um trabalho que passou pelas minhas m�os.

Quando fui presidente da Rep�blica (1985-1990), houve uma mudan�a de foco. A prioridade era apenas econ�mica e eu coloquei a causa social na pauta da pol�tica brasileira. Todos esses programas que hoje foram ampliados come�aram naquele tempo. Com o Plano Cruzado (1986), tive a coragem de colocar minha cabe�a a pr�mio, com o congelamento de pre�os. Procuramos outro caminho que levou ao Plano Cruzado, ao Plano Ver�o, ao Plano Collor e at� ao Plano Real. O Plano Real, j� naquele tempo, esteve em nossas m�os, mas n�o havia mais tempo para implement�-lo, pois estava deixando a Presid�ncia da Rep�blica. Essas conquistas me fazem muito orgulhoso de minha vida p�blica. Na minha vida, a orienta��o sempre foi procurar ajudar, construir, unir e buscar a paz.


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