Alessandra Mello
Documentos divulgados nessa segunda-feira pela Comiss�o Nacional da Verdade (CNV) desmontam a vers�o oficial do Ex�rcito brasileiro sobre a morte do ex-deputado federal Rubens Paiva, desaparecido em 1971. Para o presidente da CNV, o ex-procurador da Rep�blica Claudio Fonteles, n�o h� a menor d�vida de que Rubens Paiva foi sequestrado, torturado e morto pelo regime militar. As provas do crime, segundo um estudo elaborado por Fontelles, s�o documentos do Arquivo Nacional de Bras�lia e tamb�m pap�is encontrados na casa do coronel aposentado do Ex�rcito J�lio Miguel Molinas Dias, ex-chefe do Destacamento de Opera��es de Informa��es – Centro de Opera��es de Defesa Interna (Doi-Codi) no Rio de Janeiro. Cassado em 1964, Paiva foi sequestrado em sua casa em 21 de janeiro de 1971 e nunca mais foi encontrado. O Ex�rcito sempre sustentou a vers�o de que ele teria fugido ap�s a pris�o. Seu corpo nunca foi encontrado.
De acordo com o estudo de Fontelles, al�m da papelada encontrada na casa de Molina, um informe in�dito guardado no Arquivo Nacional revela como os �rg�os de repress�o chegaram at� Rubens Paiva. Ele relata uma ordem recebida pela para revistar um avi�o da Varig, vindo do Chile, que pousaria no Rio de Janeiro, em 20 de janeiro. Nele estavam Cec�lia de Barros Correia Viveiros de Castro e Marilene de Lima Corona, m�e e cunhada do brasileiro exilado Luiz Rodolfo Viveiros de Castro. Elas traziam cartas de exilados pol�ticos que “deveriam ser entregues no Rio a um senhor por nome Rubens que as faria chegar aos destinat�rios”. Ap�s a pris�o delas, os militares chegaram at� Rubens Paiva. O documento, datado de 25 de janeiro, nada diz sobre a fuga de Paiva, que teria ocorrido em 22 de janeiro, segundo a vers�o oficial do Ex�rcito. “Se a fuga tivesse acontecido de verdade ela constaria desse pormenorizado registro”, afirma Fonteles.
Tamb�m foi encontrado no Arquivo Nacional o depoimento do tenente m�dico do Ex�rcito Amilcar Lobo, prestado � Pol�cia Federal em 1986, durante uma tentativa de reabrir a investiga��o sobre o caso Paiva no in�cio da redemocratiza��o. Lobo afirmou que, numa madrugada de janeiro de 1971, foi atender Rubens Paiva na cela onde ele estava. No exame, segundo ele, o preso, que estava com hemorragia abdominal, dizia ser ex-deputado. O m�dico afirmou nesse depoimento que “aconselhou” sua hospitaliza��o, mas no dia seguinte foi informado que ele havia morrido. Lobo contou ter visto escoria��es em Paiva e que podia garantir que ele tinha sido torturado.
Para Fonteles, os documentos revelados, cruzados com os depoimentos, desmontam a vers�o apresentada pelo comandante do Ex�rcito, Sylvio Frota, de que Rubens Paiva fugiu quando o carro que o conduzia foi interceptado por terroristas quando ele estava sendo levado para prestar esclarecimentos. “O Estado ditatorial militar, por seus agentes p�blicos, manipula, impunemente, as situa��es, ent�o engendradas, para encobrir, no caso, o assassinato de Rubens Paiva consumado no Doi/Codi”, assegura Fontelles.
