Quem condena as declara��es do deputado federal, cantor gospel e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) nas redes sociais deve evitar ver os v�deos com suas prega��es que circulam no YouTube. Perto deles as postagens no Twitter – que renderam ao deputado uma acusa��o de discrimina��o contra homossexuais feita pela Procuradoria Geral da Rep�blica no Supremo Tribunal Federal (STF) –, s�o fichinha. Os principais alvos do parlamentar em seus cultos, que atraem multid�es Brasil afora, s�o os homossexuais e as religi�es cat�lica e de matriz africana. Mas tamb�m n�o faltam cr�ticas aos colegas de Parlamento e aos fi�is pouco generosos na hora de ofertar “sementes”, como s�o chamadas pelo pastor as doa��es que podem ser feitas em dinheiro, cheque, cart�o de cr�dito ou joias.
Al�ado ao cargo de presidente da Comiss�o de Direitos Humanos e Minorias (CDH) da C�mara, o deputado vive nos �ltimos dias sob fogo cerrado dos militantes dos direitos das minorias e da sociedade civil em geral, que pedem sua sa�da do posto. Mas se engana quem pensa que toda essa campanha para que ele deixe o comando da comiss�o enfraquece o parlamentar, eleito pela primeira vez em 2010 com 211 mil votos, a maior vota��o entre os candidatos evang�licos de todo o Brasil. Nos bastidores, Feliciano j� conta com o milagre da multiplica��o dos votos na disputa de 2014 e sonha com voos maiores. Quer ser o candidato do PSC, partido formado em sua maioria por pastores e l�deres evang�licos, a presidente da Rep�blica.
Em suas prega��es, Feliciano se apresenta como “ungido por Deus” e “doutor em divindade”, garante ter lido a B�blia 18 vezes e pregado em mais de 52 pa�ses. � dono de um programa exibido aos sab�dos, apenas em S�o Paulo, por um canal VHF. Depois que virou deputado e passou a combater na C�mara o que ele chama de ativismo gay, ganhou mais visibilidade e tem atra�do seguidores em diversos estados.
Sua prega��o contra gays, no entanto, n�o � coisa recente. Em um v�deo de 2009 ele vocifera contra os homossexuais e tamb�m contra a Igreja Cat�lica. Para ele, o catolicismo � uma religi�o “fajuta” e seus praticantes “seguidores de satan�s”. A umbanda � uma “imita��o barata” feita pelo diabo de um culto pentecostal. E a �nica religi�o verdadeira � a dele. J� em um dos seus programas de televis�o o parlamentar comenta com os telespectadores sobre a inaugura��o da primeira filial da Catedral do Avivamento no Rio Grande do Sul, segundo ele o “estado menos evangelizado do Brasil”. “� um dos estados com o maior �ndice de feiti�aria, supera at� a Bahia”, afirma.
Em uma outra prega��o, Feliciano, que � casado e pai de tr�s meninas, diz n�o querer que sua filha veja “dois homens barbudos, de perna raspada”, se beijando na rua. “Querem beijar, beijem dentro de suas casas, querem fazer suas porcarias , fa�am dentro de suas casas”, diz o pastor em um culto no ano passado. Apesar da fala recorrente e raivosa contra gays, Feliciano garante n�o ter nada contra os homossexuais. “Sou contra suas promiscuidades”, afirma o deputado pastor, que na mesma prega��o se refere aos gays como “esse povo”. Para ele, “a Aids � uma doen�a que veio desse povo”. “Mas ningu�m fala para n�o colocar eles em situa��o constrangedora”, prega Feliciano, aos berros, para uma igreja lotada de fi�is. Em outro culto, ele acusa os homossexuais de ficarem “a torto e a direito difamando, destruindo tudo que � sagrado e santo”.
Trope�o na hist�ria
Nem mesmo o Congresso Nacional e os colegas da Frente Parlamentar Evang�lica escapam das cr�ticas de Marco Feliciano (PSC-SP). Durante uma mistura de culto e show, ele diz que na C�mara dos Deputados s� tem pessoas mal-educadas, que ficam falando ao mesmo tempo. Em outra oportunidade, tamb�m diante dos fi�is, diz ficar apavorado quando chega a Bras�lia na ter�a-feira. � que, de acordo com ele, o “diabo est� infiltrado no governo brasileiro”.
Tamb�m n�o faltam cr�ticas � Frente Parlamentar Evang�lica, da qual ele faz parte. O deputado diz que n�o conseguiu votos entre os integrantes da frente para seu projeto que pretende fazer uma consulta popular para saber se a popula��o � favor�vel ou n�o ao casamento gay. “Evang�licos eleitos com seu voto”, alerta o parlamentar em mais uma prega��o contra os homossexuais.
Al�m de atacar os homossexuais, o pastor critica sempre os defensores dos direitos humanos e da causa gay. Numa dessas oportunidades ele trope�a na hist�ria. Diz que os ativistas usam os mesmos mecanismos que Stalin usou no seu “comunismo nazista”. O l�der sovi�tico Josef Stalin era comunista e n�o nazista, pelo contr�rio. Sob sua lideran�a a ent�o Uni�o Sovi�tica teve papel fundamental na derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Na mesma prega��o, ele atribui a Hitler uma m�xima de seu propagandista Joseph Goebbels, para quem uma mentira repetida mil vezes acabava virando verdade.
“S�o homens e mulheres (ativistas do movimento gay) que usam os mesmos mecanismos que Stalin usou no seu comunismo nazista, que usam da mesma linguagem de Hitler, voc� sabe que Hitler criou uma frase, conhecida no mundo inteiro, que uma mentira repetida muitas vezes e com �nfase se torna verdade”, prega Feliciano. Mal sabe o deputado que ele e o l�der sovi�tico t�m alguma coisa em comum: a persegui��o aos gays.
Gest�o longe da ideal
Bras�lia – Enquanto todos os holofotes est�o voltados para a posse do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) como presidente da Comiss�o de Direitos Humanos e Minorias da C�mara, a gest�o dos recursos da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) segue longe da ideal. Mesmo com o status de minist�rio conquistado no �ltimo ano do governo Lula, com a promessa de “maior autonomia institucional e peso pol�tico” – como o pr�prio site informa –, a pasta segue com dificuldades para executar o or�amento.
No ano passado, de acordo com dados oficias do sistema de contas da administra��o p�blica, dos R$ 322,1 milh�es previstos para serem aplicados pelo �rg�o em programas como os de promo��o dos direitos das crian�as e dos adolescentes e de pessoas com defici�ncia, somente R$ 97,5 milh�es (30%) foram desembolsados. O c�lculo inclui os chamados restos a pagar — empenhos realizados em anos anteriores e n�o quitados. A a��o de apoio � constru��o, reforma, amplia��o e equipagem de unidades de atendimento a menores de 18 anos, por exemplo, n�o recebeu um centavo dos R$ 70,9 milh�es estimados.
Em 2013, a secretaria ter� R$ 366,6 milh�es. Para o diretor do Conselho Deliberativo da ONG Conectas Direitos Humanos, Oscar Vilhena Vieira, a secretaria perdeu sua capacidade de implementar pol�ticas e reduziu seu impacto nos �ltimos anos. Ele avalia que a elei��o do deputado Marco Feliciano para a presid�ncia da CDH da C�mara demonstra a fragilidade do minist�rio. “N�o adianta falar que o Executivo n�o interfere nas quest�es do Legislativo, pois foi a bancada governista que o elegeu. A indica��o do presidente daquela comiss�o tinha que estar afinada com o governo”, afirma Vilhena Vieira.
Outro lado A Secretaria de Direitos Humanos informou que o or�amento da pasta � inferior ao citado na reportagem e que n�o houve preju�zo da implementa��o das pol�ticas. De acordo com a assessoria de imprensa do �rg�o, R$ 300 milh�es foram autorizados em lei no ano passado. No total, R$ 124 milh�es estavam previstos por meio de emendas parlamentares – incluindo os fundos nacional para a crian�a e o adolescente e o do idoso. O minist�rio admite que boa parte dessas emendas n�o foi liberada e que, al�m disso, houve contingenciamento de recursos. Esse congelamento reduziu o valor efetivamente para R$ 174,5 milh�es. Na avalia��o dos assessores, 97% da verba disponibilizada para a secretaria acabou empenhada (comprometida para pagamento futuro).