Alessandra Mello

Em tempos de da radicaliza��o contra as minorias, ganha for�a no Brasil as igrejas inclusivas, cujo discurso passa ao largo da discrimina��o e acolhe sem distin��o aqueles que n�o se enquadram nos padr�es ortodoxos das grandes comunidades religiosas. Uma delas, a Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), celebra em abril uma d�cada de exist�ncia, ainda bastante t�mida, no Brasil. Mas aos poucos vem conquistando adeptos e ajudando a romper o preconceito.
Em Minas Gerais j� s�o dois templos. Um na capital e outro em Divinop�lis, Regi�o Central do estado. A maioria dos seus seguidores � de homossexuais que tiveram de abandonar sua cren�as por n�o se sentirem acolhidos pelas igrejas que frequentavam. Em todo o Brasil s�o 13 igrejas distribu�das em 11 estados. Mas a ICM n�o est� sozinha. Segundo estudo da antrop�loga F�tima Weiss, que acompanha a quest�o da diversidade sexual e religi�o, existem hoje pelo menos 10 igrejas inclusivas no pa�s. Um n�mero ainda pequeno para uma proposta que surgiu, na d�cada de 1960, na esteira do movimento pelos direitos civis da comunidade homossexual estadunidense.
“A ICM est� presente em 38 pa�ses h� mais de 40 anos. Nos Estados Unidos, a nossa moderadora mundial, reverenda Nancy Wilson, faz parte do Conselho de F� do presidente Barack Obama”, conta o l�der da ICM no Brasil, reverendo Cristiano Val�rio, de 36 anos, formado em psicologia e teologia e assumidamente gay. Segundo ele, a igreja n�o se sente ofendida de ser conhecida como “templo gay”. “N�o nos incomoda de maneira nenhuma, mas acaba reduzindo a nossa atua��o. A quest�o gay � apenas uma das nossas �reas de atua��o. Lutamos contra as injusti�as desse mundo, como o machismo, o preconceito racial e de classe, o sexismo, a homofobia”, defende Cristiano, criado em uma fam�lia, segundo ele, de cat�licos fervorosos e praticantes. Para ele, a melhor defini��o para a ICM � “uma igreja dos direitos humanos” que “valoriza e n�o ataca todo tipo de diversidade”.
“O diferente n�o nos amea�a. Ele nos enriquece”, prega Cristiano, para quem a radicaliza��o contra a comunidade gay nada mais � do que uma resposta dos conservadores as conquistas de cidadania e direitos obtidas nos �ltimos anos pela comunidade LGBT (l�sbicas, gays, bissexuais e transg�neros). “Avan�amos muito, por isso toda essa rea��o”, afirma com tranquilidade e certeza de que mais conquistas v�o surgir a partir da mobiliza��o da sociedade em torno da defesa dos direitos das minorias.
DISCRIMINA��O Em Belo Horizonte, a ICM � comandada pelo pastor Silas Viana Soares, de 43 anos, estudante de teologia e cabeleireiro. Nascido e criado em uma fam�lia de evang�licos, frequentador ass�duo dos cultos e da escola dominical , ele diz que deixou sua igreja h� cerca de uma d�cada quando come�ou a se sentir discriminado por outros fi�is. “� muito dif�cil mudar um sistema j� colocado, por isso abandonei a igreja, mas nunca perdi a f�. Sempre soube que o problema n�o era comigo e sim com os olhos com que a minha igreja lia a B�blia”, defende Silas.
A ideia de criar uma igreja inclusiva na capital mineira surgiu, segundo ele, logo no in�cio dos anos 2000, quando um grupo e amigos come�ou a se reunir para discutir a B�blia e tamb�m maneiras de garantir assist�ncia religiosa e espiritual para gays exclu�dos de outras congrega��es. Aos poucos, o grupo se organizou e hoje se re�ne em um culto todos os domingos � noite, no sal�o do Hotel Amazonas, no Centro de Belo Horizonte. “Nossa inten��o � estar onde estiver um exclu�do”, defende Silas, que, para se tornar pastor, deve de frequentar uma curso de teologia. Segundo ele, no come�o foi dif�cil, mas, com o tempo, todos passaram a aceit�-lo.
Segundo ele, atualmente h� uma imagem err�nea sobre os evang�licos. “Nem todos s�o assim”, garante Silas, citando, entre v�rios exemplos, o nome de Ebenezer da Silva Melo J�nior, pastor na Igreja Batista Nacional Palavra de Vida e professor do curso de teologia do Centro Universit�rio Metodista Izabela Hendrix, e contando com orgulho que ele j� pregou para os fi�is da ICM.
Questionado sobre por que aceitou pregar na ICM, uma igreja que acolhe principalmente gays, alvo hoje de preconceito por parte de algumas igrejas, Ebenezer disse que, como “ministro do evangelho de Jesus Cristo”, n�o poderia se “privar de compartilhar essa palavra com outros irm�os e irm�s em Cristo”
Sobre o fato de algumas igrejas tachar como pecado o homossexualismo, o pastor disse que essa defini��o � decorrente do m�todo utilizado na interpreta��o da escritura. “Entendo que, em fun��o dos m�todos utilizados, existem hoje na Igreja Crist�, de uma forma geral, interpreta��es m�ltiplas e contradit�rias.” Ebenezer disse ainda considerar equivocado o pensamento do pastor Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comiss�o de Direitos Humanos da C�mara, acusado de homofobia e racismo, e garante que ele “n�o representa a totalidade do pensamento evang�lico brasileiro”.
O pastor Ebenezer garante que n�o causou nenhum estranhamento receber em sala de aula um homossexual interessado em virar pastor. “Entendo que a academia seja um ambiente aberto e de respeito a alteridade. Entendo ainda que seja um ambiente onde podemos pensar a f�, criticando nossa forma de ler, interpretar e aplicar a B�blia em nossas igrejas locais e na sociedade.”