(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas "VOZ SOLIT�RIA NA DITADURA"

Filho se emociona ao falar do trabalho de investiga��o feito pelo procurador sobre massacre ind�gena

Ele relembra a persegui��o imposta � fam�lia quando o texto foi tornado p�blico, em pleno regime militar


postado em 19/04/2013 06:00 / atualizado em 19/04/2013 08:46

Foto incluída no Relatório Figueiredo: 15 das 68 páginas estavam em estado precário, mas foram totalmente recuperadas(foto: Marcelo Zelic / Divulgação)
Foto inclu�da no Relat�rio Figueiredo: 15 das 68 p�ginas estavam em estado prec�rio, mas foram totalmente recuperadas (foto: Marcelo Zelic / Divulga��o)

“O relat�rio � uma bomba at�mica na hist�ria recente do pa�s. Tinha muita gente importante envolvida. Essa � uma das melhores not�cias que j� recebi nos �ltimos 40 anos”, se emociona o advogado Jader de Figueiredo Correia J�nior, ao saber que o relat�rio produzido por seu pai em 1968, sobre viola��o de direitos humanos de ind�genas, foi encontrado quase intacto, depois de mais de 40 anos desaparecido. “Eu tinha certeza de que ele tinha sido queimado. Diziam na �poca que tinha sido proposital”, lembra o advogado, que reclama de o trabalho do pai ter sido escondido e ignorado na hist�ria do pa�s, perpetrando as injusti�as constatadas. “Era uma voz solit�ria na ditadura, contra o AI-5 e contra um regime que censurava a imprensa”, diz. O vice-presidente do Tortura Nunca Mais de S�o Paulo e coordenador do projeto Armaz�m Mem�ria, Marcelo Zelic, um dos principais atores na recupera��o do material, concorda: “Jader de Figueiredo foi uma figura republicana superinteressante, apagada injustamente da hist�ria”.

Em 1977, uma comiss�o parlamentar de inqu�rito foi aberta na C�mara para investigar viola��es de direitos humanos dos �ndios. No ano anterior, o procurador que produziu o relat�rio morreu em acidente de �nibus, aos 53 anos. Perguntado se a morte do pai pode ter sido provocada por opositores, o filho considera: “Eu nunca tinha pensado nisso, eu tinha 14 anos incompletos na �poca. Pode ser. Meu pai morreu em um acidente que nunca foi esclarecido”.

Jader Figueiredo J�nior relembra o transtorno que a divulga��o do relat�rio trouxe � fam�lia e diz que seu pai chegou a ser amea�ado de morte. “Ele sofreu atentados, foi perseguido por pistoleiros durante a investiga��o. Nossa fam�lia vivia sob seguran�a da Pol�cia Federal”, relembra. Ele destaca que o pai n�o era uma pessoa vaidosa e n�o gostava de aparecer. “Ele se indignava de pensar que seu trabalho podia ficar no ‘dito pelo n�o dito’. Viu muita injusti�a, muita crueldade. E morreu na esperan�a de seu trabalho aparecer de novo, de algum jeito. Onde ele estiver agora, estar� feliz”, acredita o filho.

Jader J�nior relata uma passagem que o pai costumava contar em casa, sobre uma �ndia que foi morta e cortada ao meio em p�blico. Segundo ele, quando o procurador chegou � aldeia, encontrou a mulher amarrada entre duas estacas pelos p�s, de cabe�a para baixo, partida longitudinalmente ao meio por piques de fac�o. “O brasileiro costuma assistir a filmes de Hollywood onde caubo�s matam �ndios e acha bonito. O que o americano fez com os �ndios foi brincadeira em rela��o ao que foi feito aqui. L� foi uma matan�a, aqui foi genoc�dio. Uma coisa nazista, hitlerista. E o brasileiro n�o tem consci�ncia disso. Isso � uma coisa que o mundo precisa saber”, revolta-se o filho. A perplexidade do pai est� indel�vel no relat�rio recuperado: “Os criminosos continuam impunes, tanto que o presidente dessa comiss�o viu um dos asseclas desse hediondo crime (assass�nio de Cintas Largas, no Mato Grosso) sossegadamente vendendo picol� a crian�as em uma esquina de Cuiab� (MT)”.

Cataloga��o

Marcelo Zelic tamb�m expressa grande alegria pela descoberta do documento. “Eu o achei inteirinho”, exclama o pesquisador, que percebeu que os papeis ileg�veis eram o famoso Relat�rio Figueiredo, que ficou batizado com o nome do procurador. Ele descreve que foi chamado ao Museu do �ndio em agosto do ano passado para analisar documenta��o que estava em posse da entidade desde 2008 e havia sido catalogada em 2010. Das 62 p�ginas finais entregues ao ministro Albuquerque Lima pelo procurador Jader de Fiqueiredo, 15 estavam em estado prec�rio de preserva��o. O ativista garante, por�m, que os trabalhos desenvolvidos pelo Museu do �ndio, Tortura Nunca Mais de S�o Paulo, Comiss�o Justi�a e Paz de S�o Paulo, Konoinia Presen�a e Servi�o, Associa��o Ju�zes para a Democracia e Armaz�m Mem�ria, com apoio da deputada Lu�za Erundina (PSB-SP), conseguiu recuperar todas elas, que est�o sendo catalogadas.

Dois dos questionamentos que o relat�rio pode suscitar s�o em rela��o a posse de terras – como a dos �ndios kadieus, em Mato Grosso – e a acusados de crimes n�o apurados. Em uma das p�ginas entregues a Albuquerque Lima, por exemplo, quatro nomes s�o citados como respons�veis por diversos crimes. S�o eles: Ab�lio Aristimunho, Acir Barros, Airton de Fran�a e Alan Kardec Martins Pedrosa.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)