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Estado de Minas

Comiss�o da Verdade de S�o Paulo come�a a ouvir filhos de v�timas da ditadura


postado em 07/05/2013 08:28

S�o Paulo – Os filhos de v�timas da ditadura militar (1964-1985) come�aramnessa segunda-feira � Comiss�o da Verdade de S�o Paulo para presar depoimento. At� a pr�xima sexta-feira (10), cerca de 50 pessoas dever�o ser ouvidas durante o Semin�rio Verdade e Inf�ncia Roubada, promovido pela comiss�o na Assembleia Legislativa de S�o Paulo.

“Esta � uma semana especial para que essas pessoas, que viveram a ditadura por uma outra lente - j� que s�o filhos, netos e parentes das pessoas que foram torturadas – possam prestar depoimentos”, disse o presidente da comiss�o, o deputado estadual Adriano Diogo. At� o final de seus trabalhos, a Comiss�o da Verdade de S�o Paulo espera concluir 154 processos relacionados � ditadura militar.

Dois dos filhos do sindicalista e ex-preso pol�tico Jos� Ibrahim, que morreu na �ltima quinta-feira (2), falaram hoje para os membros da comiss�o. Durante o depoimento, Carlos Eduardo disse que nasceu no Panam�, ainda durante o ex�lio dos pais. Quarenta dias depois de seu nascimento, ele e os pais foram expulsos do pa�s e passaram a viver na B�lgica, onde permaneceram at� 1979, quando foi promulgada a Anistia no pa�s.

“Minha inf�ncia foi muito dif�cil”, disse. “Muitos filhos de exilados sofreram muito. Inclusive nossos telefones eram grampeados. At� o governo Collor, a vida do meu pai, da minha m�e e a minha eram controladas. Ent�o, [a ditadura] teve um impacto muito forte na vida dos exilados”, ressaltou.

Em 1968, Jos� Ibrahim era presidente do Sindicato dos Metal�rgicos de Osasco e Regi�o e liderou a greve da Companhia Brasileira de Materiais Ferrovi�rios (Cobrasma). Foi preso e torturado durante a ditadura militar. Em setembro de 1969, foi um dos presos pol�ticos trocados pelo embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick. Viveu no ex�lio por dez anos, em pa�ses como o M�xico, Chile e Cuba. Foi no Chile que Jos� Ibrahim conheceu a m�e de Carlos Eduardo Martins Ibrahim.

Carlos Eduardo tamb�m declarou que teve dificuldade para obter a certid�o de nascimento. “Eu n�o conseguia minha certid�o de nascimento porque o primeiro marido da minha m�e [que foi morto durante a ditadura militar] era considerado vivo, mas estava morto. E meu pai [Jos� Ibrahim] era considerado morto e estava vivo. S� consegui minha cidadania provis�ria depois que saiu o atestado de �bito do primeiro marido da minha m�e, quando eu j� tinha uns 10 anos de idade. At� os 10 anos de idade, portanto, eu n�o existia”.

Na avalia��o dele, os trabalhos que est�o sendo feitos pela comiss�o v�o ajudar a mostrar a verdade sobre os fatos. “A verdade tem que aparecer. Se cometeram muitas injusti�as nesse pa�s. E a justi�a tem que vir � tona. A ditadura militar foi um c�ncer e at� hoje n�o se conseguiu curar o tumor”, disse Carlos Eduardo, que falou acompanhado do irm�o, Gabriel, que nasceu de outro casamento de Jos� Ibrahim e que n�o viveu os anos de ditadura.

Tamb�m dep�s hoje Cl�vis Petit, irm�o de Maria Lucia Petit, Jaime Petit da Silva e L�cio Petit da Silva. Os tr�s irm�os militantes desapareceram entre os anos de 1972 e 1974, na Guerrilha do Araguaia. Cl�vis tinha cerca de 14 anos de idade quando os irm�os foram para o Araguaia e ficou em casa, cuidando da m�e, em Bauru (SP). “Minha m�e sempre teve essa esperan�a de encontrar os filhos”, disse. “Nossa fam�lia se desintegrou. Minha m�e poderia ter tido muitos netos, j� que teve cinco filhos. No m�nimo, no b�sico n�s fomos atingidos”, ressaltou a irm� de Cl�vis, Laura Petit da Silva.

Cl�vis disse ainda esperar a puni��o dos torturadores e dos respons�veis pela morte de seus irm�os. “Quando soube da morte da Maria L�cia, fiquei revoltado. Tive esperan�as de que algum deles [irm�os] ainda estivesse vivo. Acabamos nutrindo esse tipo de esperan�a por algum momento. Passei por esse momento de revolta muito grande, que ainda n�o acabou. Ela ainda est� sufocada em mim. Tenho revolta at� hoje, principalmente quando se v� essa pol�tica dissimulada, de n�o enfrentar a quest�o de puni��o aos torturadores e assassinos. N�o se pune torturadores e assassinos, que est�o todos hoje na m�quina p�blica”, ressaltou.

Paulo Fonteles Filho, tamb�m ouvido hoje pela comiss�o, falou sobre seus pais, que foram presos em outubro de 1971. “Minha m�e foi presa com cinco meses de gravidez. Nasci em Bras�lia, no Pelot�o de Investiga��es Criminais da Pol�cia do Ex�rcito”, disse.

Durante seu depoimento, Paulo Fonteles defendeu que a sociedade brasileira v� �s ruas para cobrar mudan�as na Lei da Anistia, que impede a puni��o aos torturadores e assassinos do per�odo. “O fato � que precisamos parar de certo idealismo achando que as comiss�es [da Verdade] v�o punir. N�s precisamos ir para as ruas, tomar as coisas para as nossas m�os e propor que eles possam ser punidos. E acho que o caminho para isso � envolver o povo brasileiro na hist�ria”, destacou. Uma das propostas apresentadas durante os depoimentos de hoje sugere a instala��o de tribunais populares para punir os torturadores.

Ao final dos trabalhos, a Comiss�o da Verdade de S�o Paulo exibiu o document�rio Araguaia, Campo Sagrado, dirigido por Evandro Medeiros com a colabora��o de Paulo Fonteles. “Este document�rio mostra aspectos novos com rela��o � Guerrilha [do Araguaia]. Em particular, a manifesta��o de ex-mateiros e de ex-soldados que nos d� uma dimens�o mais concreta do que foi a ca�ada militar no Araguaia. E, inclusive, nos sugerem que mais de 350 camponeses foram mortos entre 1972 e 1975, o que nos revela que os dados da ditadura militar no pa�s s�o absolutamente parciais”, disse Paulo Fonteles


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