
“De forma mais clara e acintosa hoje, os pol�ticos t�m se mostrado em v�rios lados ao mesmo tempo. � uma �poca de confus�o, um espet�culo de m�scaras no jogo pol�tico, em que ningu�m sabe quem � quem”, afirma o analista pol�tico Gaud�ncio Torquato. Ele explica que negocia��es entre atores pol�ticos que buscam chegar ao poder ou se manter l� s�o comuns em qualquer regime democr�tico, mas que mudan�as de lado e acordos antes considerados improv�veis t�m sido mais frequentes no Brasil. “Tomar uma posi��o que pode criar embate se tornou caso raro, porque todo mundo quer p�r um p� em uma canoa e outro p� fora dela”, diz.
Um dos casos que mais causaram indigna��o na oposi��o ao governo Dilma Rousseff foi a posse de Guilherme Afif Domingos (PSD), atual vice-governador de S�o Paulo, na pasta da Micro e Pequena Empresa. L�deres da oposi��o avaliaram o fato como o “fim das ideologias”. “Quando comecei minha vida pol�tica, tinha a ditadura como inimiga bem clara, expl�cita, e aliados definidos. Agora j� n�o sei mais quem est� aqui ou ali. Hoje � uma coisa, amanh� � outra”, reclamou o vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman.
Para Cl�udio Couto, cientista pol�tico da Funda��o Getulio Vargas (FGV-SP), o caso de Afif � curioso por sua trajet�ria particular, marcada por cr�ticas �s administra��es petistas. Entretanto, ele ressalta que a situa��o foi criada pelo partido dele, o PSD. “Desde o nascimento, em 2011, a legenda deixou claro que n�o era nem governo nem oposi��o, nem direita nem esquerda”, explica.
Obstru��o tucana Se a chegada de Afif ao minist�rio foi criticada pelo PSDB, na semana seguinte foi a vez de os tucanos virarem alvo, ao tentarem barrar a Medida Provis�ria dos Portos, cuja aprova��o era defendida por eles antes como importante para o pa�s. Com a diverg�ncia interna na base aliada e as acusa��es de que a negocia��o entre parlamentares e ministros virou um balc�o de neg�cios, a posi��o dos tucanos mudou. Aproveitando a chance de aumentar o desgaste do governo, se juntaram ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aliado que jogou contra os interesses do Planalto.
“O PSDB defende desde 1996 o plano de desestatiza��o dos portos. At� a semana passada, o PSDB ia votar sem obstru��o, mas com essas den�ncias n�o � mais poss�vel”, admitiu o l�der do partido na C�mara, deputado Carlos Sampaio (SP). S� depois de grande mobiliza��o da base aliada a MP foi aprovada.
“As mudan�as de posi��es, at� mesmo em rela��o a projetos de lei, acabam se ligando muitas vezes a situa��es moment�neas, em que acordos e alian�as s�o rompidas e parlamentares acabam fazendo escolhas de acordo com suas perspectivas futuras”, diz Cl�udio Couto. Ele lembra que em per�odos pr�ximos �s elei��es esses movimentos se tornam comuns. “Os picos de mudan�as s�o comuns no primeiro ano de um novo governo, quando ocorre grande ades�o de partidos, mas tamb�m no terceiro ano, quando todos se reposicionam de olho no ano seguinte. � o que estamos percebendo agora”, avalia.
De rivais a aliados
J� as recentes conversas entre petistas e democratas na Bahia para uma poss�vel alian�a na disputa pelo governo do estado em 2014 surpreende at� mesmo quem j� viu muitas reviravoltas na pol�tica. No in�cio do m�s, l�deres do DEM no estado consideraram o nome de Otto Alencar (PSD) – vice do governador petista Jaques Wagner e antigo aliado de Ant�nio Carlos Magalh�es (ACM) – uma boa op��o para as duas legendas. Segundo o ex-presidente estadual do DEM e secret�rio de Urbanismo de Salvador, Jos� Carlos Aleluia (DEM), Alencar poderia criar “um fato novo na pol�tica” positivo para os dois lados.
“A negocia��o que come�ou a se desenrolar na Bahia � um caso mais claro de incoer�ncia pol�tica, porque coloca em um mesmo lado grupos com rivalidades hist�ricas”, diz Cl�udio Couto. Ele ressalta que tem sido cada vez mais comum a troca de pap�is: “Assim como o PSD, que tem ficado no meio de situa��es estranhas, temos partidos mais antigos que tamb�m deixam o p� em dois lugares ao mesmo tempo, como � o caso do PR, PTB e PP”.
Ele cita a alian�a entre o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) na elei��o municipal do ano passado. “Eles se juntaram em defesa de um candidato a prefeito de S�o Paulo, o Fernando Haddad (PT), e a parceria chamou aten��o, j� que eram antigos desafetos, mas a verdade � que o PP j� estava apoiando o governo Lula desde 2003. O que faltava era s� a foto dos dois ex-rivais”, diz Couto.
Reforma Em meio ao vale-tudo pol�tico, especialistas apontam a reforma pol�tica como �nica alternativa para recuperar posi��es ideol�gicas no Brasil, apesar de considerar sua aprova��o improv�vel. “Esse samba do crioulo doido s� ser� resolvido com a reforma pol�tica e dos partidos. Algo que fizesse com que os grupos voltassem a ter disciplina partid�ria e posi��es ideol�gicas. Por�m, � uma mudan�a dif�cil de ser implementada. O amalgamento doutrin�rio j� tomou conta e novas surpresas continuar�o aparecendo”, prev� o analista pol�tico Gaud�ncio Torquato.