Adriana Caitano e Diego Abreu

Bras�lia – Em tempos de crise, manifesta��es nas ruas e queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff, o principal conselheiro dela – e, ao mesmo tempo, o plano B do PT para 2014 – anda ausente. Enquanto Dilma se viu obrigada a fazer pronunciamento em cadeia de r�dio e tev� e abrir o Planalto para movimentos sociais e parlamentares, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva recolheu-se em um sil�ncio estrat�gico, evitou apari��es p�blicas e tinha dado apenas duas declara��es, ambas pelas redes sociais. Ontem, final da Copa das Confedera��es, o ex-presidente estava na Eti�pia, a 10 mil quil�metros de dist�ncia do Maracan�. De l�, mandou o instituto que leva seu nome divulgar uma nota oficial para elogiar a maneira como Dilma vem lidando com o que chamou de “saud�veis protestos” que tomaram conta das ruas nas �ltimas tr�s semanas.
“Feliz � o pa�s que tem um povo que tem liberdade de se manifestar e que vai �s ruas querendo mais. As pessoas querem mais no Brasil, mais transporte, mais sa�de, mais sal�rio, questionar o custo da Copa do Mundo”, comentou, em nota. Lula viajou � �frica, na sexta-feira, para participar de um debate sobre combate � fome e � pobreza, e retorna hoje a S�o Paulo.
De acordo com pesquisa divulgada neste fim de semana pelo Datafolha, a queda nas inten��es de voto da presidente foi maior que a do ex. Enquanto Dilma Rousseff perdeu a margem de seguran�a que garantiria a vit�ria ainda no primeiro turno, Lula seria eleito sem a necessidade de uma nova rodada de vota��o. O favoritismo dele atrelado � perda de popularidade dela refor�am em alguns petistas a vontade de rever o velho l�der no poder. Em 2011, quando havia d�vidas sobre a longevidade de Dilma no governo, o pr�prio secret�rio-geral da Presid�ncia, Gilberto Carvalho, j� tinha avisado: “� evidente que, se n�o der certo, temos um curinga, uma carga pesada. N�o brinca muito que a gente traz. � ter o Pel� no banco de reservas”, se referindo ao cacique petista.
Para o coordenador da Funda��o Escola de Sociologia e Pol�tica de S�o Paulo, Rui Tavares, o distanciamento de Lula das ruas e at� das partidas da Copa das Confedera��es faz parte de uma estrat�gia pensada e tra�ada pelo petista. “Ele deve estar tentando entender as manifesta��es, n�o est� disposto a se expor, porque, se fosse a algum est�dio, seria vaiado, como na abertura dos Jogos Pan-Americanos (no Rio de Janeiro, em 2007)”, destacou Tavares.
J� o especialista em elei��es Alberto Carlos de Almeida, do Instituto An�lise, avalia como normal a aus�ncia de Lula nos est�dios. Para ele, a postura discreta � uma forma de preservar Dilma. “Qualquer coisa que ele falar agora tende a tirar a autoridade da presidente”, opinou o especialista.
Petista hist�rico e presidente da C�mara Municipal de S�o Paulo, o vereador Jos� Am�rico nega, por�m, que o sil�ncio de Lula seja uma estrat�gia para preparar a volta dele � Presid�ncia. “Na pol�tica, tudo � poss�vel, mas o partido tem uma estrat�gia definida – por ele (Lula) mesmo –, que � reeleger Dilma. Seria um disparate ele voltar atr�s por causa de uma pesquisa ou de uma conjuntura de crise com chance de recupera��o”. Segundo Am�rico, o ex-presidente vai agora se dedicar a “montar os principais palanques nos estados” para a campanha da reelei��o em 2014.
Nota oficial
Na �ltima quinta-feira, o ex-presidente havia se manifestado apenas por meio de nota oficial sobre rumores de que ele teria criticado Dilma. “Ao contr�rio, minha convic��o � que a companheira Dilma vem liderando o governo e o pa�s com grande compet�ncia e firmeza, ouvindo a voz das ruas”, limitou-se a dizer. No dia 16, Lula havia usado o Facebook para criticar a rea��o da Pol�cia Militar aos primeiros protestos em S�o Paulo, aproveitando para exaltar o prefeito Fernando Haddad, seu afilhado pol�tico. No dia seguinte, os protestos se expandiram pelo Brasil e foi a vez de Dilma pedir ajuda ao ex-presidente, em reuni�o emergencial. Mas eles evitaram aparecer juntos.