Rio de Janeiro - O bispo em�rito da Igreja Presbiteriana e te�logo Paulo Ayres disse nessa quarta-feira, durante depoimento �s comiss�es Nacional e Estadual da Verdade no audit�rio da Caixa de Assist�ncia dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro (Caarj), no centro do Rio, que n�o se pode demonizar a atua��o de igrejas com a defini��o somente de que elas apoiaram o golpe de 1964 e a ditadura. Muitos integrantes, como ele, defendiam posi��es contr�rias.
No depoimento, Paulo Ayres fez um relato sobre a participa��o das igrejas evang�licas no per�odo e mostrou que o trabalho teve liga��es com a Igreja Cat�lica e com pessoas que n�o tinham religi�o. Na avalia��o do te�logo, as informa��es que apresentou na audi�ncia agregaram ao trabalho da comiss�o um resgate relevante porque, atualmente, as igrejas evang�licas passam por um per�odo dif�cil. “As igrejas evang�licas hoje no Brasil passam por um per�odo de trevas. � preciso que haja a percep��o que nem todo evang�lico � igual a Marcos Feliciano, que h� evang�licos com posi��es em defesa da justi�a, da liberdade, da solidariedade e da verdade”, disse.
Ayres defendeu que os torturadores do per�odo da ditadura no Brasil sejam punidos. Ele contou que no per�odo foi denunciado aos �rg�os de repress�o por um bispo da pr�pria igreja que frequentava. “Alguns anos depois nos tornamos amigos e ele [o bispo que o denunciou] sabia que eu tinha conhecimento de que havia me denunciado, mas, mesmo assim, acho que ele tem que ser punido”, disse Ayres.
Na avalia��o dele, n�o haver� uma democracia plena no Brasil se os torturadores n�o forem levados � Justi�a. “Sen�o vamos continuar tendo situa��es como 'cad� o Amarildo?' O que nos anos 1970 foi em rela��o aos presos pol�ticos, hoje � em rela��o a qualquer cidad�o, inclusive o Amarildo”, disse.
Para o coordenador do grupo de trabalho Papel das Igrejas durante a Ditadura da CNV, Anivaldo Padilha, o depoimento do bispo Paulo Ayres apresentou elementos novos sobre a pr�pria situa��o de persegui��es e dela��es e mostrou a necessidade de reflex�o sobre a complexidade das institui��es religiosas, no caso a composi��o das igrejas.
“N�o se pode olh�-las como se fossem homog�neas. Elas t�m dentro de si seus conflitos e suas diversidades e posi��es pol�ticas e �s vezes teol�gicas divergentes. Posi��es em conflito que se manifestaram na �poca da ditadura que extrapolaram as fronteiras da conviv�ncia democr�tica com posi��es diferentes. Foram setores da igreja que denunciaram seus irm�os e irm�s, setores que apoiaram a ditadura e setores que se opuseram”, disse.
Antes do depoimento de Ayres, a comiss�o exibiu o depoimento de dom Waldyr Calheiros, bispo em�rito de Volta Redonda, regi�o do Vale do Para�ba, que atuou na defesa dos direitos de trabalhadores e de agentes de pastoral presos durante a ditadura. Aos 90 anos e com problemas de sa�de, o depoimento foi feito por meio de v�deo que teve a capta��o de �udio e de imagens da Empresa Brasil de Comunica��o (EBC).
O bispo disse que quem tomava posi��o sobre os problemas sociais era mal visto. “Quando n�o queriam mostrar as suas tend�ncias, procuravam se esconder”, disse. Dom Waldyr contou epis�dios como o do ex-deputado M�rcio Moreira Alves, que pertencia � pastoral universit�ria. Segundo o religioso, M�rcio tinha posi��es claras e por isso foi perseguido e se complicou com o governo na ditadura e foi morar na Fran�a.
“M�rcio tinha a sua m�ezinha que por um acidente estava quase morrendo em situa��o dolorosa. Ele pediu para eu o acompanhar e conseguiram licen�a para o M�rcio vir ao Brasil assistir ao enterro da m�e. Era uma concess�o s� para o enterro. M�rcio n�o aceitou e manteve a sua liberdade de posi��o”, revelou.
