Bras�lia - O presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econ�mica (Cade), Vin�cius Marques de Carvalho, omitiu em ao menos quatro curr�culos oficiais ter trabalhado para o deputado estadual Sim�o Pedro (PT), respons�vel por representa��es que apontavam suspeitas de forma��o de cartel, superfaturamento e pagamento de propina envolvendo contratos do Metr� e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
O Cade, �rg�o que regula a concorr�ncia empresarial no Pa�s, fechou em maio deste ano um acordo de leni�ncia com a Siemens, empresa alem� detentora de uma s�rie de contratos com o governo paulista nas �ltimas d�cadas. Nesse acordo de leni�ncia - em que a empresa assume irregularidades para amenizar san��es futuras -, a Siemens confessou a exist�ncia do cartel e disse que ele atuou nas gest�es tucanas no Estado entre os anos de 1998 e 2008.
Assim que o conte�do do acordo veio � tona, em julho deste ano, integrantes do governo Geraldo Alckmin (PSDB) acusaram o �rg�o federal de vazar informa��es de forma seletiva motivado por quest�es pol�ticas.
Sim�o Pedro, que hoje ocupa o cargo de secret�rio de Servi�os da gest�o Fernando Haddad (PT) na capital paulista, afirmou que se trata de uma coincid�ncia o fato de o caso Siemens, denunciado inicialmente por seu gabinete, emergir no Cade ap�s seu antigo assessor ter assumido a presid�ncia do �rg�o.
Em um documento enviado ao Senado pela ent�o ministra da Casa Civil Erenice Guerra, em 2010, por exemplo, Carvalho lista suas “atividades profissionais” de fevereiro de 2002 a janeiro de 2003 e, na sequ�ncia, as de fevereiro de 2005 a fevereiro de 2006. H� um hiato justamente no per�odo em que atuou para o deputado petista. Na ocasi�o, Carvalho era conselheiro do Cade e estava sendo reconduzido ao cargo. O curr�culo � detalhado, com nove p�ginas, elenca oito “atividades profissionais”, mas silencia sobre a passagem pelo gabinete de Sim�o Pedro. Em 2012, a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, tamb�m encaminhou o curr�culo de Carvalho ao Senado. Ela apresentava seu nome para a presid�ncia do Cade por quatro anos. A rela��o de “atividades profissionais” n�o mencionou, igualmente, sua passagem pela Assembleia Legislativa.
Os senadores aprovam as indica��es para cargos p�blicos com base em sabatina e no curr�culo que recebem da Casa Civil. A �nica men��o ao trabalho na Assembleia consta de documento enviado ao Senado em 2008, na primeira indica��o de Carvalho para o conselho. Na ocasi�o, ele informou que foi chefe de gabinete na Assembleia, sem citar o deputado estadual petista.
Os dois hist�ricos profissionais do site do Cade tamb�m omitem que Carvalho trabalhou para Sim�o Pedro.
O deputado apresentou verbalmente suspeitas de irregularidades nos contratos de trens ao Minist�rio P�blico paulista em 2010. A representa��o pedindo investiga��o foi protocolada meses depois, em fevereiro de 2011. Nela, o deputado mencionava carta de um ex-executivo da multinacional enviada � ombudsman da companhia, detalhando as irregularidades.
Em junho e dezembro de 2012 Sim�o Pedro fez mais den�ncias ao Minist�rio P�blico apontando suspeitas na reforma de 96 trens das linhas 1 e 3 do Metr�, nas quais a Siemens atuou. Naquele mesmo ano, Carvalho assumia a presid�ncia do Cade. “Esse neg�cio da Siemens entrou no radar do Cade em 2012. At� chegar ao acordo de leni�ncia, levou um tempo”, disse o presidente do �rg�o.
‘Alento’. A autodela��o foi oficializada, enfim, em maio deste ano, o que detonou o esc�ndalo. Nas palavras de Sim�o Pedro, foi “alento”, j� que as investiga��es n�o andavam no Minist�rio P�blico paulista. “Para minha sorte, (o caso) foi ao Cade. O Minist�rio P�blico sempre me disse que as provas que eu apresentei n�o eram suficientes para apresentar uma den�ncia”, disse o deputado.
Ap�s o acordo de leni�ncia vir � tona, o Minist�rio P�blico reativou 45 a��es civis e abriu uma a��o criminal para apurar as licita��es dos governos tucanos e as suspeitas de pagamento de propina a agentes p�blicos.
O deputado estadual nega ter mantido contato com Carvalho durante seu per�odo no Cade. J� Carvalho diz n�o aceitar “acusa��o de politiza��o da investiga��o do cartel”. “Se a empresa vem ao Cade, como o �rg�o pode ser acusado de estar politizando?”, disse em 17 de agosto, numa rea��o �s acusa��es dos integrantes do governo tucano segundo as quais o �rg�o estaria vazando informa��es de forma seletiva para atingir o PSDB.