Amanda Almeida, Karla Correia, Bertha Maakaroun

Bras�lia, Belo Horizonte e Recife – A disposi��o exibida pelo ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva em atuar como cabo eleitoral da presidente Dilma Rousseff nas elei��es de 2014 foi vista, entre os partidos que se colocar�o no lado oposto da presidente na disputa pelo Pal�cio do Planalto, como uma demonstra��o de que Dilma n�o se reeleger� sem recorrer � popularidade do ex-presidente.
“A Dilma, como candidata, n�o tem os atributos que o Lula tem”, avaliou o l�der do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF) – um dos principais defensores do lan�amento da candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ao Pal�cio do Planalto. Aos Di�rios Associados, Lula afirmou que queria ser a “metamorfose ambulante” de Dilma. “Estou disposto. Se ela n�o puder ir para o com�cio num determinado dia, vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, vou para o Sudeste”, disse o ex-presidente.
“Nem a economia est� boa, como estava em 2010, nem a candidata Dilma tem a desenvoltura do ex-presidente Lula. Isso indica que teremos uma elei��o dif�cil, que s� ser� decidida no segundo turno”, avaliou Rollemberg. L�der do governo na C�mara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) defendeu a atua��o de Lula como cabo eleitoral de Dilma. “Quando ele se disp�e a participar da campanha, ele est� reiterando a confian�a que tem nela e no governo”, argumentou Chinaglia.
Principal express�o da ala do PT que tentou manter at� o �ltimo minuto a alian�a com o PSB de Eduardo Campos, Lula disse ter considerado “um erro” o rompimento do governo com a legenda de Campos. “Foi um preju�zo para a gente ter o PSB, e sobretudo o Eduardo Campos, do outro lado”, admitiu Lula, que defendeu a ado��o de “regras de comportamento” durante a campanha para evitar o aprofundamento das fissuras entre PT e PSB. “Se a elei��o n�o terminar no primeiro turno, poderemos ter alian�a no segundo turno”, argumentou o ex-presidente.
Mas, para o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, grande parte da responsabilidade pelo afastamento deve ser atribu�da ao pr�prio partido da presidente Dilma. “O PT n�o teve a iniciativa, como partido da presidente, de procurar o entendimento. E acho que o presidente Lula podia tamb�m ter tomado mais iniciativa”, disse Amaral, ministro de Ci�ncia e Tecnologia do primeiro mandato de Lula.
Amaral, contudo, aponta para um caminho de reaproxima��o entre as duas siglas, em um poss�vel segundo turno da corrida presidencial, e converge com a opini�o do ex-presidente ao lembrar a identifica��o ideol�gica das duas legendas. “� fundamental lembrar que as elei��es ocorrem em dois turnos e nos preparar para isso. Os partidos apresentam suas individualidades, sua identidade, e, no segundo turno, uma legenda deve fazer coliga��o com os mais pr�ximos ideologicamente. � preciso deixar caminho aberto para o segundo turno”, raciocina o vice-presidente do PSB.
Ambiguidade
Ao comentar o cen�rio da disputa que se desenha hoje, Lula avaliou que o PSDB ter� “mais dificuldades” com o lan�amento da candidatura do senador A�cio Neves (MG) ao Planalto do que teria se optasse por lan�ar o nome de Jos� Serra. “O A�cio vai ter que se tornar conhecido. O Serra j� � conhecido, tem o recall de outras disputas”, ponderou Lula. O senador A�cio Neves n�o quis comentar a afirma��o do ex-presidente.
O presidente estadual do PSDB, Marcus Pestana, considerou “amb�guas” as declara��es de Lula em rela��o �s elei��es do ano que vem. “No campo pol�tico, ele n�o colocou o pijama e foi para casa. Vai cuidar da cria. Ele � avalista. Mas sempre deixa a porta aberta. Nas entrelinhas fica a possibilidade de voltar se as coisas degringolarem”, disse. O presidente estadual do PT em Minas, Reginaldo Lopes, avalia o contr�rio. “Lula � das maiores lideran�as vivas do mundo. Ele tem grande papel no Brasil e fora do pa�s, portanto, est� correto quando diz que n�o ser� candidato. A experi�ncia dele � frente de um governo que eliminou a mis�ria pode ser replicada em v�rios pa�ses da Am�rica Latina e da �frica”, opinou Reginaldo Lopes.
Segundo Lopes, Dilma � a candidata do PT � reelei��o. “Lula, que respeitou a democracia n�o aceitando mudan�as na Constitui��o para permitir um terceiro mandato, sabe que Dilma tem dado respostas aos problemas do pa�s”, afirmou. “Lula acabou com a mis�ria e Dilma agora elimina a desigualdade, criando uma sociedade do conhecimento, qualificando a m�o de obra com base tecnol�gica. Ela vai tamb�m resolver os problemas de infraestrutura do pa�s, destravando as obras de portos, rodovias e ferrovias. Este � o desafio que est� colocado e ela est� indo muito bem”, acrescentou o petista. (Colaborou T�rcio Amaral)
Disputa no Recife
O senador Humberto Costa (PT-PE) confirmou que o ex-presidente Lula pediu que ele desistisse de ser candidato � Prefeitura do Recife nas elei��es de 2012, mas relatou uma vers�o complementar � do seu aliado. “Em junho, com a mudan�a das circunst�ncias (a briga interna no PT do Recife), ele e a Executiva Nacional do partido me apoiaram”, explicou Costa. O senador, que teve o ex-prefeito e deputado federal Jo�o Paulo como vice, saiu derrotado na disputa, amargando a terceira coloca��o, ficando atr�s do deputado estadual Daniel Coelho (PSDB-PE) e de Geraldo Julio (PSB), eleito no primeiro turno.
Defesa do julgamento
A afirma��o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva aos Di�rios Associados de que houve condena��es sem provas no julgamento do processo do mensal�o pelo Supremo Tribunal Federal (STF) foi rebatida com irrita��o pela oposi��o. Na entrevista, publicada no domingo, Lula ainda reclamou de um suposto linchamento p�blico dos r�us. “Mais do que um julgamento, o que n�s tivemos foi um linchamento, por uma parte da imprensa brasileira”, apontou.
Para a oposi��o, a fala de Lula desrespeita a Suprema Corte. “N�s tivemos v�rias fases de comprova��o de den�ncias. Dois procuradores, Ant�nio Fernando de Souza e Roberto Gurgel, aprofundaram as liga��es, se valeram de v�rios expedientes de investiga��o e confirmaram que houve um amplo esquema de corrup��o”, rebateu o senador Alvaro Dias (PSDB-PR). O ministro do STF Marco Aur�lio Mello contemporizou e disse que a opini�o do ex-presidente equivalia � de um “leigo”. “� uma vis�o leiga dos fatos. N�s, que julgamos, sabemos por que julgamos e como julgamos. Mas temos que relevar. N�o critico o ex-presidente. Ele est� exercendo um direito democr�tico e republicano de se expressar livremente”, afirmou o magistrado.
Em refer�ncia a outra frase de Lula, de que teria “mais crit�rio” se fosse indicar novamente ministros � Corte, Marco Aur�lio disse que � o tipo de arrependimento sem qualquer efeito pr�tico. “Como ele indicou v�rios ministros, pode ser que o arrependimento seja relativo a apenas um. S� que, se ele indicou algu�m que ele acha que n�o deveria ter indicado, isso n�o � eficaz, n�o h� como voltar atr�s. Estamos em um processo que n�o permite que se volte ao est�gio anterior”, ponderou o ministro.
Dos 11 ministros que comp�em o plen�rio da Suprema Corte, quatro – C�rmen L�cia, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Dias Toffoli – foram indicados pelo ex-presidente. A oposi��o viu novo desrespeito no coment�rio sobre os magistrados. “Voc� pode at� discordar dos resultados do julgamento. Mas falar dessa forma � um despaut�rio, � pr�prio de quem n�o merece o menor respeito. � sinal de que ele imagina, como crit�rio, escolher quem deveria ir para l� para absolver mensaleiros”, disparou o presidente do PPS, o deputado federal Roberto Freire (SP). (KC e AA)