Campinas - O motorista Josias Nunes de Oliveira, de 69 anos, apontado durante o regime militar como respons�vel pelo acidente que provocou a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, em agosto de 1976, dir� nesta ter�a-feira � Comiss�o Municipal da Verdade de S�o Paulo que dois homens ofereceram dinheiro para que ele assumisse a culpa no processo do qual foi r�u.“Na minha casa, queriam que eu me declarasse culpado e disseram que, se eu n�o pegasse o dinheiro, batiam em mim”, disse Oliveira ao Estado. “Ofereceram uma mala cheia, mas eu n�o aceitei.”
Os dois ocupantes do autom�vel morreram. Juscelino tinha 73 anos. Dois anos antes do acidente, havia recuperado os direitos pol�ticos cassados logo ap�s o golpe militar de 1964 - ele era senador por Minas na �poca. A hip�tese de atentado contra JK alega que o ex-presidente seria visto como “amea�a” por setores do regime e, por isso, teria sido “eliminado”.
�ltima piscada
Ainda durante a ditadura, Oliveira foi processado como respons�vel pelo acidente. No julgamento, as conclus�es foram de que ele era inocente. O motorista vive hoje em uma casa de repouso em Indaiatuba, no interior de S�o Paulo, e sente o peso da trag�dia nas costas at� hoje, quase quatro d�cadas depois.
“Minha vida virou um inferno. Fui apontado como criminoso”, lamenta Oliveira. Na sess�o de hoje, o motorista vai novamente se declarar inocente e lembrar do 22 de agosto de 1976, quando parou para socorrer JK e seu motorista. “N�o deu socorro. Mas a �ltima piscada que ele deu, abaixo de Deus, quem viu fui eu.”
Para o presidente da comiss�o paulistana, vereador Gilberto Natalini (PV), o depoimento de Oliveira � “muito significativo”. “Al�m de esclarecer esse epis�dio do dinheiro oferecido a ele, vamos tentar resgatar esse homem, que teve a vida destru�da pelo regime militar, que tentou impor a ele essa figura de respons�vel pela morte”, afirmou o parlamentar, que foi preso e torturado durante o regime militar.
Em agosto, a Comiss�o da Verdade paulistana ouviu quatro depoimentos relacionados � morte de JK: Serafim Jardim, que foi secret�rio particular de Juscelino; Paulo Castelo Branco, que pediu a reabertura do caso em 1996; Paulo Oliver, um dos 33 passageiros do �nibus; e Gabriel Junqueira Villa Forte, filho do propriet�rio do hotel no qual o ex-presidente esteve antes do acidente.
“Esse � um caso com muitas pe�as sem encaixe. Era �poca da Opera��o Condor, havia a informa��o de que Juscelino seria candidato a presidente”, afirmou Natalini, referindo-se � colabora��o entre as ditaduras do Cone-Sul. O vereador diz acreditar na hip�tese de atentado.
Per�cia. A Comiss�o da Verdade de S�o Paulo conseguiu at� agora que o governo de Minas Gerais localize os resultados da per�cia feita em 1996 no objeto met�lico que teria sido encontrado na ossada do cr�nio do motorista de JK.
Naquele ano, o secret�rio particular do ex-presidente conseguiu que o Estado mineiro reabrisse o caso e o corpo do motorista foi exumado. As conclus�es foram as mesmas da primeira investiga��o. Um pedido judicial para autoriza��o de uma nova per�cia no cr�nio ser� feito agora pela comiss�o, segundo Natalini.